Sérgio Malheiros possui diversas faces de si mesmo. Aquele menino franzino que vimos crescer em Da Cor do Pecado se tornou um homem multifacetado. Atualmente, o ator está investindo pesado na sua carreira de diretor e roteirista. Cheio de trabalhos na TV, ele está com a agenda lotada de trabalhos e estreias que envolvem séries, novelas e filmes. Com um currículo que não para de crescer, a mais nova empreitada do artista é um longa-metragem sobre Paulo Orlando, campeão de beisebol nos Estados Unidos. Na trama, ele se destaca como produtor, roteirista e ainda ator. Ufa! Ele também está no ar na série Impuros, da FOX, no qual interpreta Wilbert, um traficante sádico e extremamente violento para mostrar a expansão do crime. De esportista e bandido a militante das minorias, Sérgio vai voltar as telinhas da Globo, na novela Verão 90ª Graus, como um advogado e surfista que luta pelos direitos dos negros nos anos 90. A diversidade de papéis não para por aí. Ele também estará nas telonas no longa infanto juvenil Cinderela Pop e em Cine Holliúdi 2. “Fico muito feliz de ter tido as oportunidades que tive e ter conseguido crescer na profissão. O ambiente artístico, além de muito competitivo, é instável. Então viver da arte não é fácil, mas saber que tenho sido bem sucedido nisso me deixa contente”, comemorou. Com personagens fortes e sempre polêmicos, Sérgio Malheiros bateu um papo exclusivo com o site HT sobre as novidades da carreira e o cenário político nacional às vésperas das eleições.
Site Heloisa Tolipan: O que leva um ator tão bem sucedido como você ao desafio de encarar outros lados do meio artístico como a carreira de diretor e roteirista? Sempre teve vontade de investir nisso?
Sérgio Malheiros: Eu sempre fui muito curioso, então a paixão pela direção veio desde a infância. Já com o roteiro aconteceu quando estava mais velho, quando observava os bastidores das novelas. Eu sempre quis investir nisso, mas só há pouco tempo que tive um olhar mais maduro. Percebi que as outras vertentes me completavam como profissional, me faziam crescer cada vez mais.
HT: Não chegou a ter medo de ser julgado como diretor e roteirista e isto acabar prejudicando a sua solida carreira de ator?
SM: Não encaro como medo, mas sim como um desafio que dá um frio na barriga. Afinal, estou entrando em um novo ambiente profissional, no qual tenho muito a aprender. As carreiras para mim se complementam e sou o profissional de hoje porque tive experiências nesses segmentos e fui ganhando conhecimento. Não acho que prejudica. Pelo contrário, ajuda muito.
Paulo Orlando: Um filme sobre um ícone que desafia Sérgio
HT: Você tem muitas funções no longa sobre a história de Paulo Orlando, uma delas é como roteirista. Como é interpretar o personagem que você mesmo escreveu? Tem mais abertura para cacos?
SM: Eu acho que vai ser uma experiência única, com certeza. Ainda estamos em fase de preparação, mas vai ser o primeiro projeto que estou tão intimamente conectado, fazendo parte do roteiro, da atuação e como sócio na produção também. Os cacos sempre rolam, é comum na atuação, quando cabem na cena, claro, mas não acho que vão ter mais só porque faço o roteiro.
HT: Como foi o processo de construção deste roteiro? Quais foram as suas fontes? Chegou a tentar conversar com a família do jogador ou alguém próximo?
SM: O roteiro ainda está sendo construído, pois tem muita história para ser contada, mas tenho conversado com especialistas do ramo, com amigos e familiares. Além disso, estou em contato com o Paulo Orlando, também, e o nosso próximo passo é encontrá-lo pessoalmente para alinhar ainda mais o que queremos para o filme.
HT: Teve ajuda dos atores e outros produtores neste processo de criação do roteiro?
SM: Acho essencial ter um apoio nesses momentos. As novas ideias podem ser aproveitadas a todo momento, então tenho tido ajuda. O importante é que o filme seja conciso em sua proposta e que satisfaça a todos os envolvidos.
Novela Verão 90ª Graus mostra a luta dos negros pelo seu lugar ao sol
HT: Sei que não pode falar muito ainda, mas na próxima trama você vai interpretar um advogado e surfista que usa da sua imagem para levantar questões sobre os direitos dos negros nos anos 90. Me explica melhor este cenário? O seu personagem vai ser uma espécie de defensor desta classe?
SM: Eu sei pouco ainda sobre a trama que ele estará envolvido, mas sei que será, sim, um defensor dos diretos negros em 1990. Ele é formado em Direito, mas conseguiu destaque mesmo como surfista e aproveita essa luz para trazer à tona a necessidade da luta pelos direitos iguais. Estou louco para começar a preparação!
HT: Já começou a se preparar para viver este personagem?
SM: Por enquanto ainda não começamos o laboratório, mas tenho surfado mais nesses últimos meses para poder estar preparado. Eu praticava este esporte antes, mas agora intensifiquei. Fazer um atleta não é fácil, exige um preparo corporal intenso. Tenho observado como a cultura americana também influenciou muito essa geração.
HT: A sua última novela foi em 2016, Malhação. Está sendo bom voltar?
SM: Depois de ‘Malhação’ eu fiquei mais focado em projetos paralelos que estava desenvolvendo, como a carreira de diretor e roteirista, mas quando o convite surgiu para o personagem, fiquei muito feliz em poder levar para o público uma mensagem tão importante e tão atual, mesmo sendo uma novela que se passa nos anos 1990.
Cinderela Pop é uma quebra da rotina entre tantos personagens polêmicos
HT: De esporte e direitos dos negros para um filme juvenil, de que forma este longa te tira da sua zona de conforto?
SM: Ah, de diversas formas! É um longa-metragem muito animado e descontraído, um pouco diferente do que tenho feito e esse contraponto é essencial. Eu gosto de me desafiar e ter personagens tão opostos me faz viver diferentes experiências e perspectivas.
HT: Este filme é fruto do livro de uma das maiores escritoras para adolescentes da atualidade: Paula Pimenta. Ela possui uma série de exemplares que atualizam as histórias dos contos de fadas, como é o caso da Cinderela. Chegou a ler o exemplar? Como foi a preparação?
SM: Eu li, sim, mas busquei também me ater ao que os diretores propuseram para o meu personagem, pois a linguagem do cinema é diferente do livro. Admiro muito o trabalho da Paula Pimenta, acho que a leitura e a cultura são extremamente importantes para provocar mudanças. A preparação foi bem legal, todo mundo estava bem sincronizado.
Facetas de Sérgio: o humor em Cine Holliúdi 2
HT: Cine Holliúdi 2 é outro longa que você também participou. Ele já foi gravado e deve chegar aos cinemas em 2019. O que podemos esperar da continuação desta história?
SM: Muita diversão! Trabalhar em uma continuação não é fácil, nem para nós atores nem para os diretores. No entanto, a equipe é incrível e todos estavam com uma harmonia muito boa. Espero que as pessoas gostem o tanto quanto gostei de fazer parte.
Impuros: o cenário político de um Brasil que não é nada diferente da realidade
HT: Assim como você aposta em personagens mais leves, na série Impuros, por exemplo, o vemos interpretando uma figura polêmica. Tráfico de drogas é uma das pautas que não saem dos jornais. Qual a responsabilidade desta atuação a partir deste cenário atual?
SM: É uma grande responsabilidade, mas o personagem não terá muito este enredo. A questão do tráfico entra mais como pano de fundo na história. De qualquer forma, foi um trabalho intenso, tive que mergulhar num universo que não é o meu, estudei referências indicadas pelos diretores e foi importante entender o processo de favelização do Rio.
HT: O fato de ser um personagem tão cruel e, ao mesmo tempo, capaz de existir na vida real aumenta a dificuldade?
SM: Com certeza o Wilbert me tirou da zona de conforto, me desafiou a cada cena. Ele possui uma carga muito pesada. Não existe meio termo com o personagem, ele é extremo. Dar vida a uma história que foge completamente da minha realidade é um presente, porque me tira do eixo e isso é essencial para o meu crescimento como ator. Não foi fácil, mas foi muito gratificante.
HT: Para você, viver na pele esta crueldade cotidiana que sofremos, mas, muitas vezes, preferimos fingir que não existe é um golpe de realidade? Como se sente sabendo que existem pessoas assim no nosso Brasil?
SM: Não chega a ser um golpe de realidade, porque vemos diariamente notícias falando sobre a violência que existe no Brasil e no mundo. É claro que fazer um personagem tão sádico quanto o Wilbert não é fácil, mas ele pode ser, sim, muito real. E é difícil de acreditar nesta possibilidade brutal que o personagem vive.
HT: Você está investindo em papéis desafiadores. Mas o que no nosso país atual, as vésperas da eleição mais importante nos últimos tempos, pode ser considerado ‘sair da zona de conforto’?
SM: Eu acho que sair da zona de conforto nesse momento é investir no conhecimento. A sociedade precisa perceber que a educação é uma das únicas formas de mudar o nosso cenário. E isto não é impossível. Temos ótimos exemplos no mundo como Coréia do Sul, China e Japão, que investiram bastante no ensino e, agora, estão colhendo bons frutos. O controle do país, na verdade, está em nossas mãos.
HT: Como você enxerga este período prévio ao momento eleitoral? Os candidatos já começaram a ser entrevistados na televisão, dá para dizer que existe uma esperança?
SM: Eu não conseguiria dizer se existe ou não uma esperança. É muito incerto. Temos que analisar bem todas as nossas possibilidades e tentar fazer a melhor escolha. Além disso, devemos acompanhar a trajetória do candidato depois. Temos ferramentas para isto e temos o dever de cobrar o que nos foi prometido.
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