Ary Fontoura, sucesso na web, alerta: “No século 21 fazer guerra é reduzir o ser humano a um imbecil”

* Por Carlos Lima Costa

No ar, na reprise de A Favorita, nas tardes da Globo, Ary Fontoura, um dos mais incensados atores do Brasil, é um fenômeno na web desde que, aos 87 anos, em plena pandemia, em 2020, se tornou extremamente ativo no Instagram. Com irreverência, bom humor e criatividade, e também passando mensagens importantes, o artista que, no momento, grava a série Fim, do Grupo Globo, baseada em livro homônimo de Fernanda Torres, é um influenciador digital com 4,2M de seguidores no Instagram, além de 607.5K no TikTok. Muitos, provavelmente, deviam ser crianças, quando Ary gravou A Favorita, em 2008, desempenhando um papel que ele considera um de seus mais emblemáticos.

“Atuar em A Favorita foi um passo a mais na minha carreira, altamente gratificante. Eu nunca havia feito um personagem mais dramático, um sujeito mau-caráter como o Silveirinha. Então, pude realizar um trabalho que para a minha carreira foi ótimo, e o público se divertiu demais. Faz tanto tempo que ela foi apresentada e é uma novela muito bem escrita, atualíssima, tanto que está agradando bastante novamente. E em um texto que foi de uma inovação extraordinária”, relembra o ator, referindo-se ao texto de João Emanuel Carneiro, que, contrariando os padrões dos folhetins, somente depois de inúmeros capítulos revelou para o público quem era a vilã e a mocinha entre as personagens centrais, Flora (Patricia Pillar) e Donatela (Claudia Raia).

Nas redes sociais, onde já celebrou o retorno da novela, ele mostra total energia enquanto se aproxima das nove décadas de vida. “Quando as pessoas perguntam a minha idade, eu respondo com orgulho, afinal, carrego muitas experiências, histórias e, é claro, disposição. Eu escolho cuidar da minha saúde para viver um amanhã ainda melhor”, frisou no Instagram, onde sua interação como influencer lhe rendeu, ainda em 2020, o título de muso da internet. “Fui surpreendido. Alguém me chamou disso e eu não esperava”, disse à apresentadora Ana Maria Braga.

Ary Fontoura vibra com  sucesso da reprise de A Favorita Foto: Globo/Divulgação)

Desde o início da pandemia, antes da série Fim, Ary havia feito apenas uma participação na quarta temporada de Sob Pressão, levando para a série o importante debate sobre o HIV na terceira idade, além de participar da dublagem do filme Red: Crescer é Uma Fera, animação da Pixar, que desde março está disponível na Disney+. Ary dublou a voz do personagem Mr. Gao. Na empreitada realizada este ano, teve a companhia de Rodrigo Lombardi e Flávia Alessandra, como Jin Lee e Ming, respectivamente.

Assim, se dedica com afinco a criação dos divertidos vídeos que posta. “Quando fui pego em março (2020) pelo isolamento social, fiquei durante muitos meses assim, então, comecei a mostrar a todos o meu cotidiano, que por sinal era igual a de muitos. Só que fazia tudo errado, lavava mal e passava igualmente. Cozinhava sem saber, sem nenhuma condição…”, relatou ele à Quem, sobre o que o levou a ingressar despretensiosamente nas redes sociais. Isso, depois de passar por momentos estranhos. “No início, quando todos desconhecíamos tudo na pandemia…tive várias manifestações, pânico, sono atribulado, muitas noites sem dormir. Acordava como se tivesse sufocado, tive esquecimento, medo de adoecer e, principalmente, de não ter atendimento”, ressaltou ainda a mesma publicação. Antenado com as influencers da moda, chegou a fazer dancinha com GKay, em março.

Além dos vídeos engraçados, Ary também aconselha seus seguidores no Instagram. “Não tenha medo de ser verdadeiro! Se der vontade de cantar, dançar, fazer palhaçadas? Faça mesmo! Lembre-se. Você é livre! Mas se bater aquela invejinha de alguém? Opa…Aí você faz uma oraçãozinha tá?”, postou certa vez no Instagram. Em outra ocasião, fez importante ressalva: “Sempre em frente! Não temos tempo a perder. Não perca seu tempo com pensamentos ruins ou atacando ao próximo. Aproveite, o futuro é hoje! Escutem esse influencer de 89 anos”.

Claudia Raia e Ary Fontoura, parceria de sucesso, em A Favorita Foto: Globo/Divulgação)

Ele também já abriu espaço para temas que preocupam o mundo. “Em pleno século 21 fazer uma guerra é reduzir o ser humano a um imbecil sem raciocínio algum. Os que se dizem civilizados têm que dizer não a Rússia, que provocou essa reação infame e covarde aos ucranianos. O mundo não pode aceitar isto. Precisa urgentemente de harmonia. Paz! Jamais a guerra! É o que as pessoas sensatas e civilizadas devem e precisam manifestar. NÃO A GUERRA! NÃO À RÚSSIA!”, postou ele, que relembra mais curiosidades da época de A Favorita.

Ele conta que a união do elenco foi importante para que a novela fosse um sucesso. “Eu me lembro que foi um trabalho árduo, que me marcou profundamente, principalmente o elenco coeso, querendo fazer o melhor. Gravávamos bastante, mas fazíamos o trabalho sempre com muito amor”, recordou.

“Quando perguntam a minha idade, eu respondo com orgulho, afinal, carrego experiências, histórias e, é claro, disposição”, frisa Ary (Foto: Globo/Divulgação)

Além do mistério inicial sobre quem era a verdadeira vilã, Silveirinha era também enigmático e foi se revelando. “Ele começa a novela apenas como uma espécie de secretário da Donatela, que participava da dupla sertaneja que ele havia criado. Misterioso, ele tem uma recordação profunda do tempo em que era empresário das duas, do sucesso que elas faziam, dos planos e sonhos da vida dele repousados na atuação da dupla que ele cuidava com tanto carinho e que, de repente, se desfez. Ele ficou amargurado, meio isolado, perdido. E começou a mostrar outra face, a do homem rancoroso, que não se conforma com o anonimato”, comentou. E frisou que a cena que ficou mais marcada em sua memória desse personagem foi a final. “Silveirinha em uma praça vendo duas meninas cantarem, lembrando que realmente havia formado a dupla Faísca e Espoleta, pergunta ao pai delas se ele não gostaria que as filhas se lançassem profissionalmente. Foi uma cena bastante intensa que trazia à tona todo o passado dele”, ressalta.

Com atuações inesquecíveis em telenovelas clássicas como O Cafona, Uma Rosa com Amor, Gabriela, Anjo Mau, Saramandaia, Dancin’Days, Guerra dos Sexos, Deus Nos Acuda, A Viagem, A Indomada, Porto dos Milagres, Chocolate Com Pimenta, Amor À Vida, Êta Mundo Bom! e A Dona do Pedaço, Ary gosta muito de conferir os trabalhos que já fez. “Existem alguns que eu nunca tive a oportunidade de assistir, como, por exemplo, Amor com Amor se Paga, uma novela das 18h, que eu não tinha conseguido ver nenhum capítulo. Agora, está no Viva e dei uma olhadinha. Vi que o assunto da novela ainda está bastante atual, que as pessoas gostam. E, é claro, eu faço uma autocrítica muito acentuada a respeito do trabalho, mas deve ser levada em consideração a época em que foi feito e os tempos de agora. As coisas mudam, e a gente vai mudando com o tempo, sempre leva uma vantagem”, observou.