Leonardo Bittencourt deixou Manaus, atravessou o país e desembarcou no Rio de Janeiro para ficar de vez. O motivo? Seguir o sonho recém-descoberto da carreira de atuação. Com mala, cuia e apenas 19 anos, chegou à cidade carioca sozinho para estudar teatro. O ator iniciou seus estudos na Casa das Artes de Laranjeiras, depois de passar por duas faculdades, que não expressavam o que ele realmente queria. No ar atualmente em “Malhação: Vidas Brasileiras” , com o personagem Hugo Rabelo, passou por desafios, levou “nãos”, mas acredita na importância da sua escolha. “A decisão também teve um toque de inconsequência, porque se eu parasse pra pensar sobre todos os prós e contras, talvez essa balança racional não me favorecesse! Estudando na CAL, entrei em uma turma muito diferente dos meus amigos de Manaus, com pessoas de vários cantos do Brasil. Essas diferenças me ajudaram na minha formação humana e depois na minha formação como ator”, explicou.
Leonardo é aficionado por futebol e é assim que começa a trajetória de sonhos. Joga com os amigos, é apaixonado pelo esporte e consome tudo sobre o assunto. “Quando eu era criança queria ser jogador, mas, ao mesmo tempo, nas minhas horas de lazer, sempre fazia algo que tinha a ver com criação. Aos 14, percebi que estava velho para sonho de ser jogador e, ao mesmo tempo, novo pra investir nesse hobby”, revelou. O ator admite que a decisão de se mudar foi um passo gigante, mas a formação como ator foi ainda mais. “Esse tempo de adaptação, morar sozinho em uma cidade diferente e conhecer, de fato, o que é a profissão foi o maior desafio. Vivo até hoje um processo de quebrar definições pré-estabelecidas do ramo e me adaptar a novas possibilidades”. Contudo, nunca esteve realmente sozinho. O apoio da família foi crucial, mesmo à distância. “Minha mãe sempre me apoiou e meu pai, enquanto vivo, também não se opôs. Nessa carreira, ter o apoio dos pais é um privilégio. Não teria chegado até aqui sem esse suporte”, completou.
Além do desafio de mudar tudo em sua vida, a carreira começou nos “nãos”. Antes de conseguir o papel que lançou o jovem ator, Leonardo fez alguns testes e não obteve sucesso. Mas, com uma oportunidade inesperada, conseguiu o papel na novela Malhação, que há mais de 21 anos lança atores jovens e descobre talentos no ramo. “Eu fazia parte de um projeto de teatro, realizado pela Globo, que investe em jovens atores. Durante essa época, surgiu o primeiro contato, através da produtora de elenco Gabi Medeiros, para fazer a primeira etapa de testes para a novela”, disse o ator. A trama, inspirada na novela canadense 30 Viés, é voltada para o público jovem e o personagem do ator, Hugo, é aluno do colégio Sapiência com o dom de sempre falar besteiras na hora errada, mas que por trás do seu jeito, aprende com os erros. Na novela, Hugo se relaciona com Dandara, vivida pela atriz Jennifer Dias. Segundo o ator, ele identifica mais diferenças do que semelhanças com seu personagem. “Sou bem diferente do Hugo na forma de pensar. Acho que o que temos em comum é o apreço pelos amigos e essa felicidade em agregar pessoas. O grande desafio é falar e fazer ações que vão contra minhas convicções, mas estou ali emprestando meu corpo para dar vida ao personagem. Esse desafio é o que me move e torna prazerosa a profissão”, frisou.
A novela teen, que a cada ano mostra mais aspectos da realidade envolvendo relacionamentos, preconceitos, relações sociais e desigualdades, também mostra como Leonardo vê a importância do seu papel enquanto artista. “Vivemos tempos muito complicados de escuta. Quase tudo que é produzido, pode ser distorcido se tirado de contexto. Trabalhamos para, de alguma forma, gerar essa empatia e conhecer melhor sobre esses temas mais delicados”. A consciência sobre o papel da arte também se mostra muito presente. Leonardo Bittencourt se mudou para o Rio de Janeiro, principalmente pelo mercado e pelo espaço do Amazonas em atuação não ser amplo e nem valorizado como no Sudeste, onde se concentram as escolas de atuação, os estúdios e oportunidades de emprego. “O Brasil é um país enorme e isso traz consequências boas como a diversidade cultural, mas traz também um isolamento para aqueles que se encontram geograficamente longe do centro cultural. Questões sociais também inspiram muitos a associarem a vida de artista a uma chance de crescer financeiramente. A realidade é que hoje é muito difícil se sustentar na profissão, faltam incentivos para projetos independentes, principalmente dos que estão começando”, defendeu.
Mesmo com a dificuldade em criar espaço na profissão, Leonardo acredita na importância da arte, principalmente no momento atual. “Acho que nossa profissão hoje compõe o dever de trazer representatividade, dar voz a histórias e a pessoas que não se identificam na sociedade. Arte é cultura e cultura é o que forma a identidade de um povo. Quando a tratamos como algo irrelevante, formamos uma geração de pessoas sem essa relação com o local e os costumes de sua pátria. E vai muito além do que se vê nos livros… Através das artes, buscamos interpretações históricas que ultrapassam isso”, comentou o ator. De acordo com o ele, o orgulho de ser manauara é parte dele. “Sou muito feliz por ter nascido em Manaus. É uma terra rica em cultura, culinária e natureza. Todas essas referências me inspiram de alguma maneira e a diversidade da cidade me ajuda sempre na profissão”.
Leonardo ainda não tem um papel favorito, mas sua carreira está apenas começando e ele quer dar um passo de cada vez. “Alcançar o lugar onde cheguei foi resultado de me jogar e acreditar nesse mundo. Agora me sinto focado na novela. Mas, quem sabe, role algo no cinema? No teatro tenho dois projetos de peça já prontos. Vamos ver o que acontece”, revelou. Por ainda estar descobrindo as possibilidades, o artista aprecia onde puder atuar. “As três áreas se completam. A TV tem uma evolução a curto prazo para o ator que é fantástica, o teatro tem a sensação da resposta imediata da plateia e o cinema, apesar de nunca ter feito, existe esse tempo para se trabalhar com mais calma”.
E os sonhos continuam, inclusive para o menino que queria jogar futebol. “Sonho com mais oportunidades, um país mais equilibrado e com mais diálogo. Nossa profissão é contar uma historia para alguém. Se o outro alguém não recebe, fica difícil manter essa relação que surgiu lá atrás no início do teatro. Passado esse momento, quero me firmar profissionalmente. Quero construir uma carreira no cinema e fazer mais televisão, mas tenho um sonho de ter um programa relacionado a futebol”, completou o artista. E deixa um recado para os futuros sonhadores do ramo da atuação: “O maior conselho que dou é se desprender desses pensamentos de “vida fácil”. É importante sempre se redescobrir enquanto pessoa”, frisou.
Artigos relacionados