Arquivos perdidos: Globo não tem completas cinco das 12 novelas nas quais Ney Latorraca integrou o elenco

*por Vítor Antunes

Na última quinta-feira, 26, o Brasil perdeu um dos seus maiores atores: Ney Latorraca. Ele tem uma marca indelével na cultura nacional por sua participação no teatro, no cinema e na TV – especialmente nas séries, como “Anarquistas Graças a Deus” e “Rabo de Saia” e programas como “TV Pirata“. A partida de Ney deixa uma lacuna. Há de se lamentar ainda mais que não haja muito de seus trabalhos anteriores a 1985 disponíveis para apreciação. Até o meado da década de 1980, a Globo optou por manter seis capítulos de novelas que não foram sucessos de audiência, justamente para liberar espaço de seu arquivo. Das obras posteriores, àquele ano, e completas, portanto, nem todas estão disponíveis no Globoplay e ainda vão compor seu catálogo. Na próxima segunda-feira, 30, uma novela na qual Ney teve um grande papel, “Zazá”, voltará ao ar no streaming. De uma grande lista de trabalhos na TV Globo, Ney fez muitas participações, mas atuou de cabo a rabo em apenas doze.

Entre as que continham o ator em seu elenco constam “O Grito“, “Estúpido Cupido“, “Sem Lenço, sem Documento“, “Coração Alado” e “Eu Prometo“. Com exceção de “O Grito“, todas têm seis capítulos mantidos. Esta última tem três. No contraponto destaca-se “Escalada“, um grande sucesso, e que foi melhor preservada e dos 199 capítulos originais, faltam apenas seis – o de número 75, 97, 116, 128, 176 e 184.

Saiba um pouco mais sobre os trabalhos de Ney que estão incompletos no player da Globo e sobre os quais não há muita informação disponível tanto sobre as obras como sobre seus personagens.

Leia Mais: Saiba a razão de algumas novelas não terem sido preservadas na íntegra pela Globo

Ney Latorraca, nosso ícone das artes (Foto: Foto: Markos Fortes)

“O Grito” (1975/1976)

Na trama, Ney interpretava Sérgio, um delegado de polícia responsável pelo setor de contrabando. Ele se muda para um pequeno apartamento em frente ao Edifício Paraíso para investigar possíveis membros de uma quadrilha. Assombrado pela morte de sua irmã, que era envolvida com drogas, Sérgio se dedica intensamente ao trabalho, o que leva sua noiva, Cleide (Carmem Monegal), a terminar o relacionamento, deixando-o solitário. Apenas 3 capítulos foram preservados pela Globo.

A história de “O Grito” se desenrola no Edifício Paraíso, localizado em frente ao Minhocão, em São Paulo. Originalmente um prédio moderno, o edifício se transformou em um condomínio com diferentes classes sociais: apartamentos pequenos nos andares mais baixos, moradias de classe média nos andares do meio e apartamentos luxuosos e amplos nos andares superiores. O título da novela se deve ao fato de Paulinho (Marcos Andreas) ter um transtorno mental – diagnosticado hoje como autismo – que o fazia gritar durante a noite. Essa situação irritava os moradores, que se uniram para expulsá-lo do prédio.

Ney Latorraca em “O Grito” (Foto: Divulgação/Globo)

“Estúpido Cupido” (1976)

Nesta novela, Ney dava vida a Mederiquis, um típico playboy, fã de Elvis Presley, líder da banda de rock Personélitis Bóis, que permanece há sete anos no ensino científico – equivalente ao ensino médio atual – para continuar recebendo a mesada do pai. Apenas seis capítulos foram preservados pela Globo.

A narrativa a trama se passa em Albuquerque, interior de São Paulo, no começo dos anos 1960, um período de transformações comportamentais em grande parte do mundo. Na cidade, os jovens apreciam o rock e o twist nas discotecas, seguem a moda das calças jeans e jaquetas de couro e desfilam em lambretas e motocicletas pelas ruas. Nesse cenário, Maria Tereza (Françoise Forton), uma estudante de magistério, sonha em viver na capital e ser eleita miss Brasil, mas entra em conflito com seu namorado, João (Ricardo Blat), um jovem idealista que almeja ser jornalista.

Estúpido Cupido trouxe Ney Latorraca como Medériquis (Foto: Divulgação/Globo)

“Sem Lenço, sem Documento” (1977)

Nesta novela, Ney Latorraca vivia Marco, um escritor casado com Yara (Cidinha Milan) que espera seu primeiro filho. Envolvido em diversos problemas, ele é acusado de desonestidade. Apenas seis capítulos da trama foram preservados pela Globo.

“Sem Lenço, Sem Documento” conta a história da chegada de Rosário (Ana Maria Braga), uma jovem que deixa Olinda, Pernambuco, para fugir de boatos que a perseguiam em sua cidade natal e buscar uma nova vida. A escolha de Ana Maria Braga para o papel gerou dúvidas inicialmente, como apontou Hildegard Angel, crítica de televisão da época, que descreveu o teste da atriz como “sem grandes entusiasmos”. Ana Maria, que começou no teatro infantil interpretando Magali em uma peça da Turma da Mônica, participou de uma montagem com Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e, a partir daí, foi convidada para fazer um teste para a novela.

Ney Latorraca em “Sem Lenço Sem Documento” (Foto: Divulgação/Globo)

“Coração Alado” (1980)

Em “Coração Alado”, Ney Latorraca interpretava o antagonista da trama, um executivo da cerâmica artística de Alberto Karany (Walmor Chagas [1930-2013]). No início da novela, ele é noivo de Melissa (Joana Fomm), com quem se casa logo depois. Uma das cenas mais marcantes da novela retrata a violência sexual sofrida por Vivian pelo personagem de Latorraca. Apenas seis capítulos foram preservados pela Globo.

“Coração Alado” conta a história de Juca Pitanga (Tarcísio Meira [1925-2021]) é um artista plástico pernambucano que se muda para o Rio de Janeiro em busca de maior reconhecimento profissional. Na cidade, ele se envolve com Catucha (Débora Duarte), filha do renomado marchand Alberto Karany, e com Vivian (Vera Fischer).

Ney Latorraca em “Coração Alado” (Foto: Reprodução/Globo)

“Eu Prometo”

Nesta novela, Ney interpretava Albano, um homem imoral e maquiavélico, que trabalha como um dos assessores de Lucas Cantomaia, de quem é amigo desde a juventude. Albano é sério, introvertido, fatalista e místico, alegando possuir poderes paranormais que usaria para manipular as pessoas. Apenas seis capítulos foram preservados pela Globo.

O personagem central da trama é Lucas Cantomaia (Francisco Cuoco), um deputado popular, com forte formação familiar e princípios éticos, casado com Darlene (Dina Sfat [1938-1989]). A história começa com Lucas Cantomaia preparando sua campanha para o Senado Federal pelo Partido Liberal Democrata (PLD). A vida organizada do protagonista se transforma quando, durante a campanha, ele conhece Kely Romani (Renée de Vielmond). Lucas se apaixona perdidamente pela fotógrafa e começa a questionar sua trajetória e considera a possibilidade de abandonar seu casamento de 23 anos para ficar com Kely, mesmo que isso prejudique a imagem de bom político que construiu.

Malu Mader, estreando nas novelas, e Dina Sfat. “Eu Prometo” ficou marcada como sendo a última novela de Janete Clair, que faleceu enquanto a escrevia (Foto: CEDOC/TV Globo)