Com mais de 50 anos, Naná Falcão tem uma história e tanta para compartilhar com os espectadores de ‘’O Segundo Sol’’, nova novela de João Emanuel Carneiro que estreia nessa segunda-feira, 14. Ela já foi militante na década de 70 e viveu um grande amor durante a ditadura. Hoje, Naná se firmou na Bahia e construiu uma vida com Dodó, um homem que conheceu durante um Carnaval, e teve quatro filhos. Interpretada pela atriz Arlete Salles, a doce e bem humorada Naná vai trazer o lado mãezona para as telinhas da Globo. Segundo a atriz, a relação que a personagem tem com os filhos vai refletir a realidade de muitas casas brasileiras, inclusive a dela. ‘’O João traça um retrato preciso, que eu considero muito exato e belo de uma família. Ele escreve essa história com muita sensibilidade, com muito entendimento. Eu estou contente com o meu personagem. Assim como ela, eu também sou mãezona e não sou uma grande educadora, mas meus filhos também são felizes e amados’’, conta.
Em contraponto à relação de Naná com os filhos, que é marcada por um mimo em excesso, a ex-militante vive um casamento peculiar. Mesmo sem estar completamente apaixonada, Naná se casou com Dodó, personagem interpretado por José de Abreu, por acreditar que ele lhe daria uma vida melhor do que o seu verdadeiro amor, o exilado guerrilheiro Nestor, interpretado por Franciso Cuoco. Apesar do jeito mulherengo do marido, a relação dos dois é baseada no orgulho e cumplicidade, representando um casal feliz. Por trás das câmeras, o casal fictício mantém a química. Parceiros pela primeira vez, Arlete Salles não faltou com elogios ao marido de cena. ‘’Está sendo maravilhoso esse meu primeiro encontro com o Zé. Ele é um homem inteligente e entusiasmado, é alguém que está sempre com um sorriso no rosto e fazendo os outros rirem. É uma troca bem bacana, ele joga bem’’, disse.
Além de José de Abreu, a atriz divide cena com mais quatro atores, sendo a única mulher do núcleo da família Falcão. Os filhos, interpretados por Emílio Dantas (Beto Falcão), Vladimir Brichta (Remy Falcão), Luís Lobianco (Clóvis Falcão), Armando Babaioff (Ionan), trazem a dinâmica clichê entre irmãos para as telinhas: a competição entre um e outro, os ciúmes e as implicâncias. Os meninos, como a atriz carinhosamente se refere a eles, assim como o intérprete de Dodó, transformam o ambiente de trabalho em um lazer diário. ‘’Eu estou cercada de homens lindos. Eles são todos talentosíssimos. Tem muito trabalho para fazer, mas também tem o lazer, que é essa alegria de estar realizando um trabalho tão bonito com esses atores maravilhosos. Eu estou premiada’’, declara.
Como toda típica família brasileira, não poderia faltar uma polêmica no núcleo Falcão. Além do segredo sobre a falsa morte de Beto, Naná também guarda o seu lado militante debaixo de sete chaves. O único que compartilha desse lado da bem-humorada baiana é o solitário Nestor, que costuma encontrá-la durante passeios nas ruas de Santo Antônio Além do Carmo. Mesmo depois de mais de 40 anos, Nestor ainda nutre uma paixão pela ex-namorada. Para Arlete, mesmo com todos os defeitos do casamento de Naná com Dodô, um grande amor do passado não seria capaz de fazê-la abandonar a família. ‘’Todo mundo tem um amor do passado, mas ela tem a família dela. Talvez eles fiquem juntos, eu não sei. Vamos ver como que isso evolui e qual vai ser o percurso da Naná, né? Mas eu acredito que, mesmo que ela fique insegura com o casamento dela em algum momento, vai acabar concluindo a vida dela ao lado do marido’’, refletiu.
A trama, que se passa na Bahia, retrata a trajetória que cada indivíduo vive em busca de uma chance de recomeçar. Com ‘’O Segundo Sol’’, a atriz teve a oportunidade de revisitar a energia tão singular do povo de Salvador. ‘’Ir à Bahia é sempre bacana. É um lugar que nos remete à alegria, à música, à dança, à arte, à leveza e, principalmente, gosto pela vida’’, disse. A viagem proporcionou momentos além de trabalho para Salles. Apesar de já ter ido para Salvador, ela nunca havia tido oportunidade de conhecer Porto Seguro, um dos lugares mais procurados por turistas na região. ‘’Foi bonito viver isso. Gostei demais, é um lugar lindo e muito bem cuidado’’, conta.
Embora Arlete tenha sido bem recepcionada na Bahia durante o período de gravações, a recepção do primeiro trailer de divulgação da novela não teve o mesmo acolhimento. Com apenas um ator negro principal na trama, ‘’O Segundo Sol’’ foi alvo de críticas devido à equívoca falta de representatividade de um estado no qual 80% da população é composto por negros e pardos. Para a atriz, essa discussão é um alerta para que haja uma transformação do âmbito artístico. ‘’Eu acho bom esse movimento, é um alerta. A gente tem uma ligação muito grande com a etnia negra. Eu sei que a luta deles é diária para ficarem em plano de igualdade. É preciso que tenha mais negro na programação, não só na televisão, mas no cinema, no teatro, na arte’’, declara. No entanto, apesar de concordar com o debate gerado nas redes sociais, Salles fez questão de defender o autor João Emanuel Carneiro. ‘’Eu acho esse movimento muito bacana mesmo, mas é bom lembrar que a primeira protagonista negra, a Preta em da ‘’Cor do Pecado’’ (2004), interpretada por Taís Araújo, foi o João que escreveu. O Foguinho, personagem maravilhoso de Lázaro Ramos em ‘’Cobras e Lagartos’’ (2006) também. Então, ele nunca esteve distante desse assuntou’’, completa.
Além de voltar para as telinhas brasileiras com Naná Falcão, Arlete Salles também retorna às telonas como Diva no filme ‘’Amigas de Sorte’’ ao lado de Susana Vieira e Rosi Campos e como a antagonista Marinalva na comédia ‘’Crô em Família’’ em junho e julho, respectivamente. Com mais de 50 anos de carreira, a atriz tem uma longa lista de trabalho, tanto no cinema quanto na televisão e teatro, que engloba sucessos como a série ‘’Toma Lá Da Cá’’ (2007-2009), a peça Hairspray (2009-2010) e o filme ‘’Irmã Vap’’ (2006), marcando a versatilidade na hora de interpretação. Para ela, o formato de produção não influencia na atuação. ‘’A gente está exercendo o ofício de atriz, de estar interpretando. Para mim, não há diferença de espaço. Há apenas pequenas diferenças, umas sutilezas ali e aqui’’, disse.
Hoje, com 75 anos, Arlete Salles continua acrescentando sucessos no currículo. Com uma novela prestes a estrear e mais dois filmes a caminho, a atriz segue contra o preconceito presente no mundo artístico com profissionais de certa idade. ‘’Não dá para negar que com a idade as atrizes ficam com personagens que são menos presentes nos projetos e conseguir trabalho já não é tão fácil’’, afirma. No entanto, apesar dos pesares, a idade traz uma necessidade de colher todo o esforço que foi plantado durante toda a carreira. ‘’A idade também traz um desejo de ter menos trabalho e mais recolhimento’’, completa. A luta contra o ageísmo é algo presente em diversas partes do mundo, principalmente em Hollywood. Diversas atrizes protestam contra o fato de que não há papéis complexos para mulheres mais velhas. No entanto, diferentemente de tantas companheiras de profissão, a situação profissional de Arlete Salles não deixa espaço para reclamações. ‘’Sem dúvidas, as atrizes e atores com mais idade, principalmente as mulheres, tem menos chances de trabalho não só no Brasil como no mundo inteiro. Porém, eu não posso me queixar, eu tenho trabalhado muito. Esse ano foi incrível profissionalmente. Estou muito feliz’’, afirma. Um brinde ao sucesso!
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