Arieta Corrêa volta em ‘Amor de Mãe’ com personagem vingativa: ‘Para todo mal pode haver a cura’


A atriz falou sobre o retorno das gravações da trama. Ela também deu pistas do desfecho de sua personagem, Leila. Arieta ainda relembrou as dificuldades na pandemia, a fé presente em tudo que faz, e aproveitou esse março para exaltar as mulheres e a sua maior inspiração, a mãe Vera Lucia: “Ela enfrentou discriminação, humilhações e preconceitos, que eu também vivi na escola, porque eu era filha da funcionária. Era uma instituição muito burguesa, sofri bullying, porque era branca, mas não era rica”

Arieta Corrêa volta em 'Amor de Mãe' com personagem vingativa: 'Para todo mal pode haver a cura"
Arieta Corrêa – TV Globo/João Miguel Júnior

Arieta Corrêa – TV Globo/João Miguel Júnior

*Por Brunna Condini

Arieta Corrêa acredita que para todo mal pode haver a cura. Na vida e na ficção. Ela vai estar de volta a partir do dia 15 em ‘Amor de Mãe’, como a vingativa Leila e, apesar de não querer dar spoilers, deixa escapar que a personagem pode encontrar a redenção na fase final da novela. “Acho que a pandemia fez bem para a Leila. A autora Manuela Dias muito sabiamente incorporou isso aos últimos capítulos da trama. Acho que a Leila, como todos nós, tem sentimentos. Inclusive, o amor, a gratidão e o perdão. Acredito que vem uma libertação e o amor”, conta a atriz.

Arieta Corrêa em 'Amor de Mãe': "Acredito que vem uma libertação e Leila encontra o amor” (Divulgação)

Arieta Corrêa em ‘Amor de Mãe’: “Acredito que vem uma libertação e Leila encontra o amor” (Divulgação)

Mesmo antes da reestreia do folhetim, que teve as gravações interrompidas ano passado por conta da pandemia, os destinos de alguns personagens já foram especulados, como o de Leila, que acabaria vivendo uma história de amor com Penha, interpretada pela atriz Clarissa Pinheiro. Arieta não comenta a provável relação amorosa, mas analisa a obsessão por vingança que permeou a trajetória de Leila desde que acordou do coma, viu sua vida mudada e o marido apaixonado por outra mulher. “Meu pai sempre me disse uma frase: “a vingança é você beber veneno e esperar que o outro morra”. É cruel, porque às vezes alguém a machuca e você tem o direito de ter raiva. Mas não se vingar. É uma questão de inteligência. Porque você provavelmente vai ficar pior e talvez o outro nem fique. Então, quando você tem essa ‘sede’, a ponto de executar uma vingança, acredito que seja por falta de amor próprio, ao mundo, ao próximo, à fé de que tudo passa e pode ser superado. É bom deixar para lá. Tenta buscar amor, que você desiste de se vingar. Isso traz paz e saúde mental”.

Será que a Leila vivida por Arieta Correa, vai encontrar a redenção no amor de Penha (Clarissa Pinheiro)? (Reprodução)

Será que a Leila vivida por Arieta Corrêa, vai encontrar a redenção no amor de Penha, vivida por Clarissa Pinheiro? (Reprodução)

Foram 23 anos da atriz longe da construção de um personagem em novelas. E, logo após o encontro com Leila, uma pandemia no meio do caminho. “Quando a pandemia chegou, eu estava trabalhando a todo vapor. Depois de mais de duas décadas sem atuar em novelas, sempre estive dedicada ao teatro e cinema. Foi estranho parar, nunca ninguém viu uma novela ser interrompida por tanto tempo. Foi inédito e intenso. E eu estava vivenciando a personagem também intensamente. Estava pesquisando cada vez mais o universo do vilanismo, da vingança, da alienação parental, de usar a própria filha para atingir o ex-marido”, lembra.

"Acessar a Leila, parar e voltar a acessar, não foi difícil para mim. Sofri mais pelo cenário geral de pandemia” (Reprodução)

Na pele de Leila, a atriz diz: “Parar e voltar a acessar a personagem não foi difícil para mim. Sofri mais pelo cenário geral de pandemia” (Reprodução)

“Acho que o que me ajudou foi muita fé, em Deus, na força no sobrenatural, no mundo paralelo a esse em que vivemos e não vemos. E também porque trabalhei muitos anos com o Antunes Filho, no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), em São Paulo. Lá brincávamos que éramos preparados para a guerra, desapego, de ir de um trabalho para o outro. Viver um sonho, um trabalho intenso, como a vida, real ou ficcional, acessando sentimentos profundos e ter que desligar em seguida e, depois, voltar. Acho que fui muito bem treinada pelo Antunes para isso. Atuei em muita tragédia grega durante oito anos. Então, interpretar Leila, parar e voltar não foi difícil para mim. Sofri mais pelo cenário geral de pandemia”.

Fé como combustível

Aos 43 anos, a paulista de Botucatu, vive em São Paulo, com o filho Gael, de 12 anos – fruto da sua relação com Rodrigo Veronese – e com o namorado, o português Pedro Santos. Além dos cachorros, claro, Juca e Tom, companheiros inseparáveis. Ela confessa que este um ano de pandemia mexeu profundamente e estranha quem não se afetou. “O lema é: ‘se puder, fique em casa’. Eu tenho o privilégio de ter uma casa e poder me cuidar, mas ver tanta agressividade e injustiça social me pegou de jeito. E quem não tem um lar? A desigualdade ficou gritante. Têm pessoas que não deram e não dão conta de seguir as recomendações de prevenção da da Organização Mundial de Saúde (OMS). Deu uma angústia como se fosse uma sensação de guerra mesmo que estamos vivendo como tantas pessoas desamparadas”.

Arieta Corrêa entre o filho Gael, os cachorros da família, Juca e Tom, e o namorado, Pedro (Reprodução)

Arieta Corrêa entre o filho Gael, os cachorros da família, Juca e Tom, e o namorado, Pedro (Reprodução)

Arieta lembra a quantidade de vítimas da Covid-19 e se apega à espiritualidade nos momentos de dificuldade. “A fé me sustenta. Nas aflições, milagres e lutas. Sei que isso vem do alto. Acredito em Deus e sinto. Não preciso de provas, acredito nesta força, em um Deus criador, que cuida de tudo. Mesmo quando parece, Ele está lá. É amor e cura. E o amor é a força mais poderosa: renova e faz renascer. Amor é meio como a Fênix, faz tudo renascer das cinzas, da guerra. O poder do amor é o da vida e da transformação. E estou ligada a essa energia”, divide, acrescentando: “Hoje minha espiritualidade tem mais  certeza ainda de tudo que acabei de dizer. Por ser muito sensível, sinto as circunstâncias com um jeito intenso e  tem a ver com a minha personalidade. Muitas vezes, eu sinto dores que não são minhas, mas são do nosso país, do cara da esquina que não conheço, do cachorro abandonado e do coletivo. Então, preciso mesmo estar ligada à fé maior, à justiça divina, porque a nossa aqui na Terra é muito falha. Nós somos muito falhos e injustos”.

"Amo o Brasil e tenho fé nele. Sei que parece mentira falar isso hoje, mas tenho. Tenho esperança" (Divulgação)

“Amo o Brasil e tenho fé nele. Sei que parece mentira falar isso hoje, mas tenho. E esperança também” (Divulgação)

E, apesar do cenário nacional estar cada vez mais nebuloso, ela afirma que não pintou vontade de sair do país. Nem de morar uns tempos em Portugal, terra do Pedro? “Já fui umas dez vezes para Portugal, inclusive antes do Pedro na minha vida. Sempre a trabalho. Nos conhecemos em uma dessas turnês. Mas não penso em morar lá e nem em outro país do mundo. Amo o Brasil e tenho fé nele. Sei que parece mentira falar isso hoje, mas tenho. E esperança também. Nosso país é novo. Veja quantos anos tem Portugal e quantos tem o Brasil. Então, vamos nos ajudar, ter fé. Ele vai melhorar e uma hora vai dar certo. Eu não vou abandonar o Brasil”.

Arieta conta ainda, que os planos profissionais seguem, mesmo com as incertezas no caminho. “Tem uma possibilidade forte de fazer outra novela. Espero que aconteça. Além disso, eu e o Pedro temos um projeto há alguns anos, em que produzimos juntos um festival de teatro internacional, lusófono. Tivemos essa ideia em parceria com o Sesc São Paulo de trazer países falantes da nossa língua mãe. Suspendemos o ano passado, mas tenho fé que voltamos com o Festival Yesu Luso no segundo semestre ou ano que vem. Mas, agora, temos que ter paciência”.

Levando para a vida

A busca pelos aprendizados, mesmo nos momentos mais difíceis, é algo que permeia a trajetória da atriz. “Com a pandemia aprendi a ter mais paciência com tudo. Falo isso para o meu filho de 12 anos. Não adianta se desesperar. Ninguém aguenta mais, mas o tempo de Deus não é o nosso. Prefiro acreditar que tudo isso tem um propósito maior. A humanidade está levando muita porrada. Não é possível que seja por acaso. Não foi através do amor. Está sendo na dor. Em relação ao meio ambiente e também vemos ganâncias e egoísmo. Temos que tentar enfrentar e evoluir”, opina. “Também aprendi a tomar sol, algo que nunca gostei. Mas ele é realmente um presente divino. Me faz bem em termos de saúde emocional, física. Tenho até marca de biquíni hoje, algo que nunca tive em 40 anos”.

"Aprendi a tomar sol, um presente divino. Me faz bem em termos de saúde emocional, física" (Reprodução Instagram)

“Aprendi a tomar sol, um presente divino. Me faz bem em termos de saúde emocional, física” (Reprodução Instagram)

Com relação ao mês de março, em que se celebram as lutas e conquistas femininas no mundo, a atriz destaca mulheres que a inspiraram e a fortaleceram. “Vou falar da minha mãe, Vera Lucia, e da cantora e ativista Nina Simone (1933-2003). A Nina Simone pela voz, a artista e a sua história. Uma mulher de família pobre, que sofreu preconceitos raciais. Tenho paixão e admiração por pessoas que honram a própria vida em prol do direito para todos, como ela fez”, salienta Arieta. “E minha mãe, Vera Lucia, é uma mulher que admiro muito. Ela foi trabalhar na melhor escola de Bauru para podermos estudar como bolsista. Éramos muito humildes. A vida dela foi toda de luta, de enfrentar preconceitos, inclusive de classe social, porque a família do meu pai era rica e a dela, pobre. Ela enfrentou discriminação, lembro muito disso na minha infância. Humilhações e preconceitos, que eu também vivi na escola, porque eu era filha da funcionária. Era uma instituição muito burguesa, sofri bullying, porque era branca, mas não era rica. Admiro muito minha mãe, que ainda trabalha diariamente”.

“Ah, tem mais uma lembrança dela muito forte. Até parece cena de novela, vou falar para a Manuela (Dias) escrever (risos). Recordo que uma vez, para que eu pudesse ter o material escolar, minha mãe levou uma joia que era o que ela tinha para trocar pelo material. Fui junto e não esqueço disso. É uma vida batalhando e inspirando”.