Após performances brilhantes em “Mapas Para as Estrelas” e “Para Sempre Alice”, Julianne Moore é uma das favoritas ao Oscar 2015


Atriz recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e, em 2015, é uma das apostas de cinéfilos e críticos para o maior prêmio da sétima arte

*Por João Ker

Katy Perry está para o Grammy assim como Leonardo DiCaprio está para o Oscar. Apesar do favoritismo popular, nenhum dos dois ainda chegou a receber o prêmio áureo em suas respectivas carreiras, apesar das indicações que sempre vêm. No entanto, por mais que Leo seja mais um famoso caso de injustiça em relação à estatueta de ouro (entre tantos, afinal, Alfred Hitchcock jamais ganhou o prêmio), há alguém que também merece levar seu prêmio para casa, já que tem sido amplamente ignorada pela academia: Julianne Moore. Mas. ao que tudo indica e após quatro indicações, o cenário parece que está prestes a mudar na edição de 2015.

Julianne faz aquele tipo de atriz que se atira em um papel como uma verdadeira camaleoa de um personagem para outro. Ela tanto pode ser uma lésbica dona de casa e traidora, como em “Minhas Mães e Meu Pai” (“The Kids Are Alright”, Lisa Cholodenko, 2010), quanto uma rockstar ausente que negligencia a filha, como em “Pelos Olhos de Maisie” (“What Maisie Knew”, Scott McGehee e David Siegel, 2014). Ou uma dona de casa entediada e oprimida que pensa em se matar no drama “As Horas” (The Hours, de Stephen Daldry, 2002).

Entre loucas, vilãs, sociopatas, pessoas psicologicamente desequilibradas e até Sarah Palin, a atriz nunca se satisfaz com o normal e aposta bem além do corriqueiro, sempre escolhendo para si papeis desafiadores, mesmo quando participa de blockbusters. E foi exatamente o que ela fez este ano, com dois personagens tão diferentes um do outro e que foram tão bem interpretados por ela.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Primeiro, é preciso falar sobre a atriz falida em fim de carreira, Havana Segrand, que a ruiva interpreta em “Mapa Para As Estrelas” (“Maps To The Stars”), a mistura de drama e thriller que David Cronenberg faz tão bem. É impossível não sentir um misto de pena, desprezo e indignação com a situação da mulher, desesperada para se agarrar aos últimos resquícios de sua juventude e inflando seu ego apenas por capricho. Claro, o elenco ajuda e, quando a performance de Julianne se junta à de Mia Wasikowska, que está bem, longe da sua asséptica de sua “Alice no País das Maravilhas” na versão de 2010 de Tim Burton. Similar a uma versão mais envelhecida e problemática de Lindsay Lohan, Havana Segrand mostra nuances que são um prato cheio para qualquer intérprete, se encaixando perfeitamente na predileção de Julianne por personagens atípicos e psicologicamente complexos.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Na outra ponta de humanidade de uma pessoa está a professora de linguística e matriarca Alice, do filme “Para Sempre Alice” (“Still Alice”, Richard Glatzer e Wash Westmoreland). Se em “Mapas Para as Estrelas” Julianne Moore consegue passar toda a sua angústia e frustração para o público como uma atriz lutando com as últimas forças para não se tornar irrelevante na indústria, nesse drama ela dá um verdadeiro espetáculo ao interpretar uma matriarca intelectual que se descobre com Mal de Alzheimer. Obviamente, ela não só ofusca a insossa Kristen Stewart como consegue engolir o sempre ótimo Alec Baldwin. 

Ao tentar se apegar às suas memórias e sua lucidez, Moore aparece comovente e destruidora, mantendo sempre austeridade, por mais frágil que pareça. Nesse filme, ela proporciona uma daquelas performances que são o ápice da Sétima Arte, se mostrando capaz de transmitir seus próprios tremores e temores ao público que, guiado pela direção e atuação, consegue se colocar no papel de quem sofre com essa temida doença degenerativa e entender como se dá a evolução da enfermidade. Naturalmente, uma versão mais jovem e americanada do quanto uma doença pode tornar um ser humano decrépito, como visto no sensível “Amor” (Amour, de Michael Haneke, 2012)

Este slideshow necessita de JavaScript.

Entre uma atriz egocêntrica e uma esposa apaixonada e bem-sucedida, Julianne já atraiu a atenção do Globo de Ouro, sendo indicada como ‘Melhor Atriz em um Filme de Drama’ (“Para Sempre Alice”) e ‘Melhor Atriz em um filme de Comédia ou Musical’ (“Mapas Para as Estrelas”), concorrendo ao prêmio em dose dupla. Ainda é incerto dizer que ela conseguirá a mesma dobradinha no Oscar, a exemplo do que fez em 2003, quando foi indicada para ‘Melhor Atriz’ porLonge do Paraíso” (“Far From Heaven”, Todd Haynes) e ‘Melhor Atriz Coadjuvante’ por “As Horas”. As apostas são boas, mas a concorrência neste ano está acirrada: Amy Adams em “Grandes Olhos” (“Big Eyes”, Tim Burton), Jennifer Aniston em “Cake” (idem, Daniel Barnz) e Reese Witherspoon em “Livre” (“Wild”, Jean-Marc Vallée) têm chamado a atenção de críticos e prometem ser nomes fortes nessa corrida ao ouro. Ainda assim, justiça seja feita, é praticamente impossível encontrar um filme com Julianne Moore que não seja bom, o que a torna em um nome de respeito e carinho entre os cinéfilos. O jeito é aguardar com os dedos cruzados.

Trailer oficial de “Para Sempre Alice”

Trailer oficial “Mapa para as Estrelas’