*por Vítor Antunes
Após alguns anos sem fazer novela, sendo sua última uma trama de Walcyr Carrasco, Bianca Bin está de volta à teledramaturgia, e justamente numa novela do escritor campeão de audiência e atual responsável pelo cartaz das 21h. Em “Terra e Paixão“, Bianca Bin vive Agatha, uma personagem envolta em mistérios. Inicialmente uma participação especial na primeira fase, cogita-se que a moça retorne à novela, pois que é a detentora de um – dos muitos – mistérios do folhetim. Após fazer novelas em sequência, Bianca deu uma pausa ao fim de “O Outro Lado do Paraíso” (2017/2018). O que já foi suficiente para que a categorizassem em reportagens do tipo “por onde anda?” ou recebesse adjetivos como “sumida da TV, a atriz Bianca Bin….“. Para a artista, “Há pessoas que dizem que não quero e não gosto de trabalhar, que sou preguiçosa. Outras, que não reconhecem mesmo o que não está na TV. Infelizmente, há quem ache que se não estou fazendo novela e televisão, eu não estou mais atuando”.
Além do retorno para TV, Bianca poderá ser vista em “O nome do bebê“, que estreia dia 14 de julho no Sesc Ipiranga, em São Paulo. O espetáculo é uma adaptação à brasileira do original francês “Le Prénom”, de Matthieu Delaporte e Alexandre de la Patellière. Igualmente, estará nos cinemas, no longa “Ângela” , inspirado na biografia de Ângela Diniz (1944-1976), dirigido por Hugo Prata, que deve ser lançado ainda neste semestre nos cinemas.
QUEM AMA NÃO MATA
Em “Ângela”, Isis Valverde vai interpretar a socialite mineira Ângela Diniz (1944 -1976), mulher que nos anos 1970 pautou os debates sobre o feminicídio, numa época em que esta expressão sequer existia. Ângela foi assassinada pelo marido, Raul Fernando do Amaral “Doca” Street (1934-2020) , em 1976, em uma casa na Praia dos Ossos, em Búzios. Na época, um dos argumentos da defesa de “Doca” era de que o crime aconteceu “por amor”. As feministas de então lançaram o slogan “Quem Ama Não Mata“, que se tornou tão forte que, anos depois, batizaria uma série da Globo. Bianca Bin faz uma amiga da protagonista. Em paralelo, a atriz estreia, este mês de julho, a peça “O Nome do Bebê“, que desenrola comicamente sua história quando trata sobre uma família que opta por nomear o filho como “Adolph”, e por isso é acusada de nazista.
Para Bianca esta não é exatamente uma montagem só sobre maternidade, mas sobre “a trajetória de libertação feminina. A mudança de comportamento da minha personagem é o que mais me encanta nessa narrativa”. Próximo da estreia da montagem, Bianca diz que os atores “estão num processo intenso, com pouco tempo de ensaio, mas com a direção sensível, assertiva, a experiência e o olhar muito afinado do Elias Andreato. Trata-se de um texto que não traz só humor mas também convida a todos pra algumas reflexões muito pertinentes”.
Ainda neste assunto, perguntamos à atriz, que não tem filhos, se sente-se pressionada ou se já viu a si diante da pressão da qual as mulheres costumam ser alvo, para que sejam mães. Algo que não acontece aos homens, que, reiteradamente abandonam suas crias. “As mulheres sofrem pressão pra tudo. Atribuo essa cobrança à violência de gênero, ao patriarcado, esse sistema consolidado historicamente de opressão dos povos e principalmente das mulheres”.
Na ideologia dessa sociedade estruturalmente machista da qual somos fruto, prevalece as relações de poder e domínio dos homens sobre as mulheres e todos os demais sujeitos que não se encaixam no padrão considerado normativo de raça, gênero e orientação sexual – Bianca Bin
VOCÊS NÃO SABEM (OU SABEM?) O PRAZER QUE É ESTAR DE VOLTA
Bianca Bin estreou na TV em 2009, na 16ª temporada de “Malhação”. Soap-opera brasileira que teve seu fim em 2020. Desde então, fala-se que não há na TV nenhum outro programa para revelar jovens talentos na teledramaturgia. Algo que Bianca refuta: “Os jovens atores estão por toda parte, podem ser vistos em produções na TV, no teatro e no cinema também. Com certeza a televisão, com seu alcance grandioso, sempre terá o poder através dessa visibilidade imensa de revelar esses novos talentos para o grande público”.
Desde sua chegada à TV até 2018, após várias produções seguidas, a atriz resolveu dar uma pausa na carreira televisiva para “diversificar mais”. Porém, houve quem visse nesse afastamento uma recusa ao veículo, ou que ela foi escanteada pelas emissoras. “Há pessoas que dizem que não quero e não gosto de trabalhar, que sou preguiçosa… Algumas não reconhecem mesmo o que não está na TV. Perguntam quando vou voltar a atuar. Mas eu nunca parei. Desde quando fiz minha última protagonista em uma novela, eu venho emendando um projeto no outro, fiz teatro e cinema também. Estou muito feliz e realizada com meu trabalho e parar nunca será uma opção pra mim, por que amo muito o que faço.
Infelizmente, as pessoas acham que se não estou fazendo novela e televisão, eu não estou mais atuando. Eu só tenho uma coisa pra dizer pra elas: quem vê close, não vê corre – Bianca Bin
O último trabalho de Bianca foi, justamente, a protagonista de “O Outro Lado do Paraíso”, arrasa-quarteirão de Walcyr Carrasco, na qual a sua personagem, Clara, voltava à cidade onde foi criada a fim de vingar-se de todos os que lhe malfizeram. A frase de seu triunfo, “Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta“, transformou-se em ícone pop, com memes e gifs. Como a atriz lida com esse humor e com as redes sociais? “Eu adoro interagir com as redes e tudo o que já me rendeu esse bordão. Ficou mesmo marcado no inconsciente popular. Já faz 5 anos que a novela acabou, mas as pessoas, quando me encontram na rua, sempre se lembram da famosa frase. O povo se identifica com a personagem, com a volta por cima que ela deu e que todos temos que dar pra combater o mal e vencer as batalhas do nosso dia-a-dia. Todo mundo tem um pouco de Clara. Eu me orgulho e me divirto muito também”.
Juntos desde 2016, quando estiveram em “Êta Mundo Bom“, Bianca e seu marido, Sérgio Guizé, não são figurinhas fáceis nas redes sociais ou nas badalações. Pelo contrário. Perguntamos a ela que valor o casal dá à discrição e, a seu ver, os dois são “discretos por natureza. Esse é um traço forte tanto na minha personalidade quanto na do Guizé. Em 2018, nos mudamos para o interior. Adoramos sair da vida agitada do eixo Rio-São Paulo, onde se concentra mais nossos trabalhos, e fugir pro mato, desfrutar da nossa casa, do contato mais íntimo com a natureza, criar nossos bichos com mais espaço e liberdade. Amamos o silêncio. Essa tranquilidade e qualidade de vida tem um valor inestimável pra nós. Pra tirar a gente de lá, só o trabalho mesmo”.
Uma das novelas às quais Bianca protagonizou foi “Boogie Oogie“. Na verdade, ela era antagonista à personagem de Ísis Valverde. A trama de Rui Vilhena era ambientada nos sedutores anos 1970. Coincidentemente, mesma época da personagem que interpretou em “Terra e Paixão“. Ao aperceber-se disso, Bianca brinca: “Dizem que tenho cara de novela de época. Será por isso que faço tantas?”. Sobre as novelas localizadas em tempos passados, a atriz afirma ter especial predileção. “Eu adoro viajar no tempo através das histórias que contamos, a ambientação de época me faz mergulhar fundo na personagem e descobrir muitas coisas sobre um tempo que eu não vivi. A Vitória, minha personagem, usava sandália de salto alto com meias lurex, eu amava isso”. Pra além da moda, “as músicas da ‘Era da Discoteca’ e do começo do momento Punk”, são coisas que ela diz ter gostado. Afora isto, o que gostaria de deixar no longínquo passado setentista: “A Ditadura, censura, tortura e exílio devem ficar pra trás, isso é pra nunca mais”.
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