Andressa Robles sobre aglomeração de jovens na pandemia: ‘Senso de responsabilidade e culpa vão embora’

* Por Carlos Lima Costa

Como representante da juventude e uma influenciadora por conta de sua profissão, aos 23 anos, a atriz carioca Andressa Robles, a ginasta Carol da novela Salve-se Quem Puder, diverge do comportamento que tem sido reproduzido em variados lugares do Brasil: A aglomeração de jovens sem máscaras em festas clandestinas no decorrer da pandemia da Covid-19. “Inadmissível. Compreendo que ficamos muito tempo recolhidos em casa. Mas tem gente que não entende. É um desrespeito com toda sociedade dizer que ‘cansou’ de ficar trancado em casa e precisa sair. E as pessoas com as quais você mora, a sua família? É um egoísmo, fico abismada. Você entra no Instagram e vê todo mundo como se nada tivesse acontecido! Vai aglomerando e aumenta a circulação do vírus e isso não vai ter fim”, pontua.

E questiona: “Por que isso é tão necessário? Você precisa ser visto nesse momento, ser aceito, porque não consegue se recolher? Quando a pessoa precisa trabalhar para alimentar a família é diferente daquela que necessita se divertir, porque está ‘cansada’. Quando a festa é clandestina, o nome já diz. Tem algo de errado aí. E existem outras formas de se estimular. Eu participei de umas festas online e foi delicioso. Consegui sair desse estado de ‘estou trancafiada em casa, preciso espairecer’. Foi incrível ver cada um no seu espaço da câmera e dançando. Esta é outra forma de se divertir. Mas é como estamos podendo fazer agora”, alerta, acrescentando: “Parece que quando os jovens se reúnem nesse lugar de grupo, o senso de responsabilidade, o medo e a culpa vão embora. E este é um momento em que precisamos praticar resiliência. É hora de ressignificar a nossa experiência. Para cada um está sendo diferente. Como dar voz a isso?”

“Quando a festa é clandestina, o nome já diz. Tem algo de errado. Eu participei de festas online e foi delicioso” (Foto Sergio Bochart).

Andressa relembra o quanto amadureceu, em 2018, quando passou nove meses no exterior. Ela estava selecionada para fazer Malhação, mas a personagem acabou saindo da história. Foi morar na casa de sua tia Helena, em Genebra, na Suíça, onde aproveitou para aprender francês. No país europeu, trabalhou como baby sitter, mesmo sem ter nenhuma experiência anterior como babá. “Aproveitei a experiência que eu tinha como animadora de festa infantil, que eu amava e me divertia. Isso me ajudou a me virar para tentar me comunicar e nesse esforço aprendi bastante. Fui bem remunerada e investi em estudo, por exemplo, fiz um curso de palhaçaria no Théâtre Yunqué, em Paris, onde fiquei duas semanas”, explica Andressa que é filha de pai brasileiro e mãe peruana, e seu bisavô materno era japonês.

Foi um verdadeiro aprendizado de vida. “Essa viagem serviu para vivenciar uma cultura bem diferente. Lá as pessoas são mais reservadas, dão importância à pontualidade rígida, no trabalho principalmente, e até nos transportes. Percebi isso nos meus primeiros dias como babá, quando me atrasei porque não conhecia bem o transporte. Entendi que tem um lado da educação, de ensinar que é diferente. Isso me deu muita maturidade. Como cresci nesse lugar. Voltei com outra cabeça, mais responsável. Foi incrível estar ali, me vendo como uma jovem vivenciando um sonho e amadurecendo”, ressalta.

“Voltei ao Brasil bem assustada. A desigualdade é gigantesca. Aqui é escancarada, você vê bem quem é rico e quem é pobre” (Foto: Sergio Bochart)

E traça um paralelo da Suíça com o Brasil, uma espécie de choque cultural. “Lá é completamente diferente, é um país que funciona. É caro, mas quem trabalha recebe bem e consegue viver. Na verdade, você vê muita riqueza em tudo. As ruas são limpas, mesmo sem sinalização, os carros param para você atravessar. Aqui é outra realidade. Voltei bem assustada. No Brasil a desigualdade é gigantesca. Aqui é escancarada, você vê bem quem é rico e quem é pobre. É muito visível. E lá não, porque parece que todo mundo tem uma qualidade de vida”, ressalta ela, que uma semana após retornar ao Brasil foi chamada para fazer a série Um Contra Todos. Antes de Salve-se Quem Puder, ela atuou ainda nas novelas A Lei do Amor e Verão 90.

Integrar o elenco da trama das 19 horas, que já está totalmente gravada, foi motivo de dupla felicidade. Afinal, dividiu essa alegria com a irmã, Danielle Robles, 26 anos, que já fez parte da seleção brasileira de ginástica artística. No campeonato brasileiro, chegou ao terceiro lugar individual geral no infantil de ginástica artística, no solo. Hoje em dia integra a de saltos ornamentais, onde já foi vice-campeã sul americana. A atleta foi a dublê de Andressa na novela. “Eu sempre a acompanhava nos treinos e competições”, lembra Andressa.

A atleta Danielle Robles, irmã de Andressa, trabalhou como dublê da atriz na novela Salve-se Quem Puder (Foto: Arquivo Pessoal)

Duas trajetórias que sempre se cruzaram. “Eu sempre caminhei os mesmos passos, fui federada no esporte, mas nunca tive a mesma paixão que ela tem. Sempre fazia porque ela estava junto e porque minha mãe queria me colocar também no esporte. Eu nunca gostei, sempre ía meio obrigada. Comecei desde novinha também, mas ela foi para o profissional e eu não. Acabei indo com ela para os saltos, fui federada, mas desisti”, acrescenta a atriz. Pelo esporte, Danielle já havia sido convidada para ser dublê, em 2007, de uma personagem que seria ginasta na novela Sete Pecados, mas acabou ela mesma dando vida a Dilma. “Ela arrasou”, garante. E daí veio o amor de Andressa pela atuação. “Eu a acompanhava nas gravações e fiquei apaixonada por aquele universo. Fui fazer teatro, foram três anos de Tablado. Eu era bem tímida, percebi que tinha dificuldade de falar no palco. Mas esse lugar de treino e improviso no Tablado, me ajudou muito. Minha irmã migrou para isso também, fez alguns cursos, mas ficou muito presa ao esporte e acabou abandonando”, conta.

Algumas cenas da ginástica artística em Salve-se Quem Puder, Andressa mesma fez. As mais complicadas como as de salto mortal ficaram sob a responsabilidade da irmã. “Foi muito gostoso compartilhar esse momento com ela e os diretores amaram. Como somos parecidas, não tinha muito problema para resolver até em questão de corte de plano”, realça sobre o trabalho da atual tramas das 19 horas.

Andressa Robles posa em frente ao estúdio da novela Salve-se Quem Puder, onde interpreta a ginasta Carol (Foto: Divulgação)

E recorda quando veio a pandemia e as gravações foram interrompidas. “Tive o privilégio de poder estar em casa três meses. E quando retomamos as gravações, a Globo teve um supercuidado com todos os protocolos. Agora, o início da pandemia foi difícil. Víamos 24 horas de informações e nenhuma solução, só gente morrendo, nenhuma vacina nem nada. Foi muito perturbador para mim no início olhar para aquilo tudo e entender. Para ter estímulo, com outras pessoas, formei um grupo para criar e espairecer a mente. Demos a mão um para o outro e acho que foi nesse lugar que tivemos força para criar. Dei pirada no início. Mas, hoje, entendo como dá para desenvolver um estado de saúde mental nisso, porque foi um pânico social. Hoje, vejo muita gente em luto, são muitas perdas. Como se consegue organizar a vida a partir desse luto?”

E prossegue: “Meus hábitos mudaram muito. Comecei a praticar yoga e dança em casa, tudo online. Só não consegui voltar para a faculdade, comecei a ficar com medo do que podia vir com a pandemia, até pela questão financeira. Me organizei, estou estudando bastante sobre marketing digital, gravei um curta agora. Muitas novidades foram vindo e a gente teve que se aprimorar para conseguir estabelecer uma nova rotina”, cita

“O início da pandemia foi difícil. Víamos 24 horas de informações e nenhuma solução, só gente morrendo, nenhuma vacina nem nada. Foi muito perturbador para mim olhar para aquilo tudo e entender”, frisa Andressa (Foto: Sergio Bochart)

E de alguma forma se reinventou. “Minha mãe é designer de joias e tem loja de peças de prata. Fiz um estudo de marketing digital, porque abri minha loja online e estou fazendo vendas. Ajudei bastante a minha mãe nesse sentido, porque a loja dela ficou parada durante um tempo”, revela. O nome do empreendimento, Fada Joias veio da junção das iniciais dos nomes da família: o pai Fernando, a mãe Ana Maria, a irmã Danielle e Andressa. E agradece a Deus, por nenhum ter contraído a covid.

“Esse período em casa foi de muita criatividade. Escrevi muita poesia e com um grupo apresentamos de forma online Hoje Não É Um Bom Dia, que mostra seis mulheres vivendo a pandemia. As apresentações voltam agora em junho, aos sábados e domingos entre 12 e 27 de junho, através do Zoom, com vendas pelo Sympla. Por coincidência, a estreia, no Dia dos Namorados, será de tripla comemoração. Nesta data, ela vai completar 24 anos e terá a companhia do ator Luan Argollo, de 23 anos. Ele seria o antagonista da Malhação Transformação, que acabou sendo cancelada após o início da pandemia, ano passado.

Andressa Robles e o namorado, o ator Luan Argollo (Foto: Reprodução Instagram)