*Por Brunna Condini
Para Andréia Horta não vale tudo por amor. “De jeito nenhum. Acho que vale até onde não a agrida, silencie ou mate. Até onde não te impeça de viver bem”, analisa a atriz durante entrevista sobre a estreia do filme ‘O Jardim Secreto de Mariana‘, que acaba de ser lançado. “No caso da minha personagem, a Mariana, tanto não vale que a relação acaba, mesmo com a tentativa de retorno ao longo da história. Ela vive um casamento que desmorona diante das dificuldades para engravidar do marido João (Gustavo Vaz). E vê o parceiro ficar grosseiro, entrando numa ‘gira’ absolutamente destrutiva, passando a só pensar nele. Acaba a comunicação e ela toma decisões solo para engravidar e até para continuar com ele. Mas é muito julgada por isso e ninguém quer saber como Mariana se sente. Outro ponto que me intriga é o motivo pelo qual ela quer continuar com esse cara. O marido tem um viés mais machista, sim, e acho que precisamos falar sobre isso. Vamos falar sobre essa violência do masculino sobre o feminino? Vamos falar sobre o machismo estrutural? Tenho interesse de falar aqui”.
Na opinião de Andréia, falar de amor nem sempre é leve, mas é rico. “O filme mostra que a vida dá merda mesmo, que a gente erra. O amor é frágil e é forte e tem todas essas discussões. Me interessou muito fazer esse filme sendo de outra geração que o Serjão (Sérgio Rezende, diretor), pensando o amor e as relações. Pensando a trajetória do masculino, a maneira com ele pode lidar com as próprias emoções. O roteiro fala para da questão da maternidade ou esterilidade”, observa.
No longa, cinco anos após o fim do casamento, o casal se reencontra e precisa encarar as dores e frustrações da relação que foi marcada pela impossibilidade de engravidar, maior sonho da Mariana do título. Andréia está na TV na reprise de ‘Império‘ e terminou recentemente de gravar a próxima novela das 21h, ‘Um lugar ao Sol‘, e fala da personagem que vive na telona: “Foi desafiador buscar a essência de seu desejo pela maternidade, enxergando a beleza e a grandeza disso dentro dela. Para a personagem, sexo, desejo e filhos não estão no discurso sobre ter ou não ter. Ela representa o ‘sim’ da natureza, a fluidez. Ao mesmo tempo, essa mesma maternidade representa um ‘não’ para Mariana, uma barreira e uma dificuldade em toda essa potência. O desejo dela era ter um filho do próprio corpo, mesmo que com outro, mas não queria se separar do marido, apesar de todas as dificuldades que atravessavam. E isso nos leva a pensar sobre que direito é esse sobre as escolhas que temos, se sempre temos que responder ao outro sobre elas”.
E a própria atriz enfrenta na vida pessoal uma constante cobrança de uma posição sua sobre a maternidade. “Acho foda essa pergunta sempre. Porque tenho 38 anos e já temos essa questão do tempo, quase que ‘contra’ a gente para isso. Você vai chegando em uma certa linha e pensa que tem pouco tempo para decidir, mas também que a vida é mais. E se apresenta de maneiras que fogem da sua escolha de simplesmente ter ou não. Então, fico pensando que ninguém pergunta para o Gustavo Vaz que está no filme comigo, se ele vai ter filhos, por que essa pergunta sempre recai sobre a mulher? Que saco isso!. Parece que ou temos que levantar uma bandeira de ‘eu não quero ser mãe e isso não faz sentido pra mim’, ou que ‘com certeza quero ser mãe, porque isso faz todo sentido pra mim’. E o negócio é mais complexo. Mas tenho vontade de ser mãe. Se vai rolar, não sei”.
Também existe na trama uma espécie de julgamento da personagem em relação à uma traição. Como é essa questão para você, perdoaria? “É muito delicado eu dar uma resposta definitiva assim. Depende do contexto, de com quem aconteceu, em que período. Não saberia responder assim, de pronto”. E completa: “Têm casais que já possuem seus códigos de conduta bem estabelecidos desde o início. Outros vão ajustando. Acho que tudo pode, desde que ninguém esteja atropelando a cabeça de ninguém. Desde que todos estejam cientes, de acordo, para poder escolher”.
Ainda sobre as reflexões que o filme pode suscitar, Andréia é certeira: “Espero que convide os homens a reverem sua masculinidade tóxica. Porque, quando eles não sabem lidar com suas próprias emoções, machucam não só a si mesmos, como a nós, mulheres. Acho isso grave, urgente e na tônica da minha geração todos os debates nos trazem essa perspectiva que já deu. É urgente que haja uma revisão, que esse papo de que ‘há sempre uma mulher cheia de carinho com os olhos cheios de perdão’…não. Não mesmo”.
Recém-separados, Andréia Horta e Marco Gonçalves anunciaram o término do casamento no início deste mês. A atriz fez um post em seu Instagram falando do assunto, salientando que o amor e a amizade permanecem. E reservada, procura não falar mais sobre a separação ou vida pessoal: “Já está tudo dito, né? Sou muito reservada mesmo, desde criança. Lembro que quando adolescente, as meninas contavam sobre suas experiências mais íntimas e queriam que eu também falasse. Não curtia, até porque a outra pessoa não estava presente. É da minha natureza. Aí escolho ser atriz e tenho que responder a essas perguntas, mas também como me mantenho honesta comigo? Vou administrando. Mas sem peso nenhum. Tenho 20 anos de trajetória profissional, de comunicação com público, imprensa, e acho que tenho resolvido bem”, analisa, acrescentando: “É que o que está a serviço público é a minha expressão artística. É o que me interessa colocar na praça como discussão, é o meu trabalho”.
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