* por Vítor Antunes
Com uma carreira movimentada e muito ativa, Andreia Horta se lançou em mais um projeto da Globo. Desta vez é a série “Betinho – No fio da Navalha“, na qual vive Nádia Rebouças, publicitária e ativista social responsável não apenas pela implantação como pelo estabelecimento da campanha do “Natal Sem Fome” pela Ação da Cidadania, ONG fundada pelo sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho. Segundo Andréia, “há pouco tempo atrás, ainda sob o governo Bolsonaro, superamos o número da fome que havia na época do Betinho, falecido em 1997”. No final de 2021, o número de brasileiros que viveram algum tipo de insegurança alimentar chegou a 29,2 milhões – o que ultrapassa os 10% da população do país. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 1997, em números absolutos, eram 24 milhões em estado de indigência. “Betinho falou que isso não podia acontecer de jeito nenhum. Passar desse número significa que não resolvemos o problema da fome”.
Ainda de acordo com Andreia, “a luta do Betinho foi muito ampla. Ele falou de reforma agrária, de meio ambiente, de clima, além da fome também. A gente hoje está vivendo uma retomada de políticas públicas nessa direção, e ainda bem, só que é importante que cada um de nós da sociedade civil também entre nessa luta e não delegue só aos políticos esta função social. Cabe a nós fazer doações de comida, de agasalho, de dar assistência em épocas como o Natal ou como a Páscoa, ou ainda numa situação de frio ou calor excessivos. É necessário agir”.
Há 30 anos, a Ação da Cidadania está direcionando energias para campanhas, doações e projetos sociais para a população carente. Segundo Andréia, “como artistas a gente tem o dever de fazer com que histórias não sejam impossíveis”. Na série biográfica da Globoplay que homenageia o falecido sociólogo, a artista dá vida a uma personagem real, Nádia Rebouças, responsável por implementar um processo de articulação, engajamento junto às agências publicitárias a fim de auxiliar com a causa do combate à fome, além de fazer com que o tema fosse sensível aos populares, de modo que o povo também se engajasse nessa luta. Deu certo. Na pré-estreia da série, no início de dezembro, Nádia esteve presente e cumprimentou sua intérprete. “Eu acho que a nossa missão primeira, como artistas, é contar as histórias pra que elas não sejam esquecidas”.
A maior indignação na cabeça do Betinho era como as pessoas podem passar fome com tanta comida por aí. E a gente também fica indignado com isso – Andreia Horta
LOUCURA, CHICLETE E SONS
É de conhecimento público que Andreia Horta viveu Elis Regina (1945-1982). Por havê-la interpretado, a atriz recebeu inúmeros prêmios e, inclusive, viveu a insólita necessidade de reviver a mesma personagem anos depois, quando a Globo reeditou o filme em homenagem à cantora, transformando-o em série. Mas as unicidades não parariam por aí. Na série em homenagem a Betinho, Andreia flagrou-se com uma “nova” Elis, vivida por Elá Medeiros. “Eu já a havia visto interpretar Elis no teatro e emocionamo-nos quando nos vimos. Eu nem sabia que ela seria a intérprete de Elis na série. Foi uma alegria esse encontrá-la aqui também”.
Ainda que a canção de Belchior (1946-2017) gravada por Elis pouco antes de sua morte diga que “o passado é uma roupa que não nos serve mais, Andreia Horta provou que ela própria pode vestir Elis, Nádia e a voz da luta contra a fome. Que é o artista senão um alfaiate do tempo? Às favas com as roupas que não cabem mais. Elas serão vestidas.
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