*por Vitor Antunes
Desde muito jovem trabalhando como ator – a primeira novela completa foi em 2008, “Ciranda de Pedra“, André Luiz Frambach está de volta aos palcos. O ator estreia, junto com Letícia Augustin, a montagem de “O Amor Passou Por Aqui“. Sempre discreto, o ator abriu o coração nesta entrevista, inclusuive sobre a própria discrição: “Eu costumo brincar dizendo que eu amo a arte, eu amo a minha profissão, mas eu não gosto da fama. Claro que eu fico muito feliz com o reconhecimento do público. Acho que isso é consequência do meu trabalho, do trabalho do artista”. Ainda que não tenha falado sobre Larissa Manoela, o artista ressaltou o amor, que é um dos temas que norteiam a montagem. Em especial, respondeu a pergunta: É possível haver amor em tempos de Tinder? Para o ator, nos tempos modernos, “a juventude tem tudo muito na palma da mão. Creio que esse acesso às pessoas de diferentes lugares e convívios, aproxima. É muito mais fácil conhecer pessoas que talvez você nunca conhecesse por não estar num determinado ciclo de amizades, mas, ao mesmo tempo, essa facilidade acaba afastando as pessoas da profundidade de uma relação. Como tudo é muito fácil, acaba ficando muito descartável também”, diz o ator, que afirma nunca haver usado aplicativos de namoro para relacionar-se.
Apesar de ser um homem de 26 anos, jovem, eu nunca me relacionei pela internet, através de aplicativos. Eu nunca tive essa referência, então talvez eu não seja a melhor pessoa para falar sobre isso, mas eu acredito que diante do fato da juventude, ter tudo à mão, e ter esse acesso às pessoas de diferentes lugares e diferentes convívios, esses apps aproximam – André Luiz Frambach
Diante do fato de ter sido ator mirim, o artista pondera: “Eu fiquei cinco anos parado, dos 13 aos 18 anos, o que foi muito ruim pra mim, pessoalmente, mas ao mesmo tempo foi bom, por ter podido estudar, amadurecer, focar na escola. Eu sou muito feliz de ter sido ator mirim e sou muito grato por cada oportunidade, principalmente pelas escolhas que permitiram amadurecer, e, depois, pegar personagens mais maduros, que me desafiaram mais como artista, como pessoa”. Para o ano que vem, André diz já ter alguns filmes e projetos para o streaming em pré-produção e direciona mais a sua peça. “Existe, lógico, sempre a possibilidade de retornar em algum projeto com uma novela, mas o mais certo realmente são os filmes que eu devo fazer ano que vem”.
Ainda sobre novelas, o ator comenta o grande paradoxo no qual foi inserida a última obra na qual trabalhou. “Cara e Coragem” não foi bem na audiência nem de repercussão, porém foi indicada ao Emmy de Melhor Novela. A trama de ação escrita por Cláudia Souto disputa o título junto com “Pantanal” e uma produção portuguesa e outra turca. Para o ator “é bem delicado a falar que ‘Cara e Coragem’ não foi tão bem de audiência, já que a medição dos índices são bem diferentes do que era antigamente e, no passado, o público todo ligava naquele horário pra ver a novela, o programa, que seja, ao vivo.
Hoje em dia, com a tecnologia, com o acesso rápido e fácil na mão, é muito difícil as pessoas estarem sentadas no sofá da sala, vendo aquele programa no horário mesmo que ele passa – André Luiz Frambach
O AMOR E OUTRAS COISAS
Após haver feito algumas peças, André Luiz Frambach está de volta ao teatro. E não se trata apenas de uma volta aos palcos, mas da sua estreia na peça “O Amor Passou por Aqui“, que estrela junto com Letícia Augustin. Para o ator esta “é uma comédia romântica, de fato, mas eu acho que vai muito além disso. Ela realmente retrata a vida dessas duas personagens, e como que cada uma, de acordo com as suas vivências e suas experiências, enxerga a outra pessoa e até o próprio sentimento, que no caso, principalmente, é sobre o amor. E também sobre como cada trauma, cada escolha, e cada consequência da vida nos leva a fazer escolhas e seguir por certos caminhos. “O Amor Passou por Aqui” retrata muito isso, onde os personagens estão cada um em momentos diferentes da vida, se encontram, se relacionam e sentem coisas diferentes um pelo outro. Não que sejam sentimentos opostos, mas como eles se encaixam. O público fica realmente encantado, por se reconhecer naquele casal”.
Uma peça cujo elenco é composto por dois atores jovens. Isso pode se reverter a uma chamada de um público igualmente jovem? André diz que “o público cada vez mais tem se interessado por teatro, porque com esse mundo tão digital, é tudo tão fácil, tão acessível, a qualquer momento está tudo na palma da tua mão, o que antigamente era visto numa TV gigante, hoje em dia a maioria das pessoas vê num celular pequenininho. Elas querem o rosto no rosto. O teatro ainda traz essa magia da família, das pessoas se unirem para ir a algum lugar prestigiar a arte, se divertir e de alguma forma também estar inteiro ali. Acho que a beleza do teatro mora aí. E é isso que atrai as pessoas, essa interação, essa comunicação que é feita ali no momento, com os dois atores que estão no palco e interagir, é muito bacana isso”.
Ainda que o encontro pela internet não seja um dos motes da peça, mas o amor, sim, perguntamos ao ator se é possível amar em tempos cada vez mais digitais e tinderizados. “Apesar de ser um homem de 26 anos, jovem, eu nunca me relacionei pela internet, através de aplicativos. Eu nunca tive essa referência, então talvez eu não seja a melhor pessoa para falar sobre isso, mas eu acredito que diante do fato da juventude, ter tudo à mão, e ter esse acesso às pessoas de diferentes lugares e diferentes convívios, esses apps aproximam. É muito mais fácil você conhecer pessoas com as quais você nunca teria contato por não comporem seu ciclo de amizades, mas ao mesmo tempo eu acho que essa facilidade acaba afastando das pessoas a profundidade de uma relação. Tudo acaba ficando tudo muito descartável. Então eu acho que por mais que a gente tenha essa facilidade maior de conhecer, de se comunicar, de conversar, de interagir, ao mesmo tempo do outro lado eu vejo uma falta de profundidade nas relações, no conhecimento, de querer realmente ter uma relação e conhecer profundamente a pessoa e se envolver e se entregar”, analisa.
CRIANÇA PRODÍGIO
Desde muito jovem na profissão de ator, sendo sua primeira participação em novelas em “Duas Caras” (2007) e sua primeira trama inteira “Ciranda de Pedra” (2008), André fala sobre ter trabalhado desde a infância. “Acho que, como tudo na vida, tem ônus e bônus. Ser um ator mirim me trouxe traz o bônus de você crescer com as pessoas, das pessoas me conhecerem desde muito pequeno e terem um laço, um carinho por você. Talvez o ônus esteja em conseguir a transição daquela imagem da criança para a do ator adulto, de fazer personagens mais densos. Mas eu acho que isso também é muito consequência das próprias escolhas do artista”.
E ele relata, revisitando a própria carreira: “Fiquei cinco anos parado, dos 13 aos 18 anos, o que foi muito ruim pra mim, pessoalmente, mas ao mesmo tempo foi muito bom, porque eu pude estudar, amadurecer, focar na escola, na minha adolescência o que me deu uma facilidade maior de fazer essa transição. De qualquer maneira, eu sou muito feliz em ter sido ator mirim e muito grato por cada oportunidade que tive, e principalmente pelas escolhas que tenho feito em pegar personagens mais maduros, que me desafiam mais como artista, como pessoa”.
Mesmo por anos com uma carreira pública, o ator conseguiu manter discreta a sua vida particular. “Eu fico muito feliz com a recepção, com o carinho, com o amor dos fãs. Mas eu nunca busquei isso. Eu nunca busquei estar nos lugares, porque eles me fariam ser reconhecido. Eu quero, sim, ser reconhecido pelo meu trabalho, pela minha dedicação, pelo meu amor à minha profissão, ao que eu faço. E isso, consequentemente acaba expondo um pouco mais a nossa imagem ao público. Mas se eu fosse um médico, eu ia querer ser reconhecido por ser o melhor médico. Então eu sempre busquei isso. Eu gosto de ser visto como meus personagens, não como o André. Quem quiser ver o André, vá no meu Instagram, vai me ver na praia, no dia a dia, no que eu gosto de fazer. Quem quiser me ver, veja a mim no meu dia a dia porém relacionados à minha profissão, que é o que eu mais gosto. Eu gosto de ser reconhecido pelos meus personagens”.
A VIDA (NÃO) É FILME
A frase acima era a primeira cantada na musica de abertura de “Cara e Coragem” (2022). Tida como uma novela de pouca audiência e repercussão na época em que foi ao ar, a trama hoje está recebendo reconhecimento internacional. Para o ator, que interpretou o personagem Rico, é preciso ponderar: “Se a gente for pegar estatisticamente, a nossa novela foi tão boa quanto outras que diziam que foi um sucesso. Eu fico muito feliz de estar num projeto que foi lindo, que a gente fez com muito amor, que foi uma equipe leve de trabalhar e gostosa, e com quem eu já tinha trabalhado antes. Gente que eu admiro, amo estar junto, trabalhar, dividir a arte, aprender. Concorrer ao Emmy é incrível demais. E eu tô torcendo muito daqui”.
Ainda que tenha uma vida artística e seja ligado à música, o ator diz não ter uma que o defina atualmente, mas várias, “inclusive as da Disney, ainda que sejam músicas de desenhos animados, eu acho que elas sempre retratam momentos muito especiais e lições muito, muito importantes para aprender. Eu sou um fã absurdo do meu cunhado, do Max Fernandes, então as músicas dele sempre me inspiram muito, assim como do Gabriel Elias, um grande amigo meu também, cujas músicas me inspiram”.
Seguidor da Doutrina Espírita, tanto que possui o nome de um dos mais importantes mentores de Chico Xavier (1910-2002), o ator fala sobre a importância que a fé tem em sua vida e como ela poderia ajudar no apaziguamento em um mundo cada vez mais intolerante. “Eu sigo a vertente do Espiritismo de Allan Kardec (1804-1869). Chico, de Divaldo Franco, são mentores, pra mim, e isso vai muito além de uma religião. Eles realmente pregam o que eu mais acredito na minha vida, que é o amor ao próximo, o amor ao ser humano, o amor às pessoas, o amor aos seres vivos. Para mim a fé em Deus, a fé no amor é algo importantíssimo. Sem isso o mundo fica perdido, e particularmente eu vejo cada vez mais as pessoas esquecendo Deus, o amor. Há guerras no mundo e pessoas se matando porque um acredita numa coisa e o outro acredita na outra coisa e ninguém consegue conversar e chegar num denominador comum. Não existe certo e errado. Existem visões diferentes, existem opiniões diferentes. E o ser humano tinha que tentar aprender a conviver”.
Em razão de professar a fé espírita, o ator sente falta de ver novelas assim sendo exibidas. “Adorei ‘A viagem’, assim como ‘Amor Eterno Amor’. Sinto falta de novelas espíritas, de novelas que retratam a vida após a morte, a reencarnação. E, principalmente, de novelas que realmente falem sobre amor de uma forma leve e gostosa. Sem tantas traições, sem tantas mortes, sem tanta tragédia. Porque infelizmente a gente vivencia isso no dia a dia. Eu sinto falta de novelas que retratem o dia a dia, mas de uma forma um pouco mais leve”.
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