Ana Flavia Cavalcanti integra elenco da próxima novela das 18h, apresenta videocast e faz peça com a mãe, ex-diarista


Multiartista, ela começa a gravar ‘Garota do Momento’, próxima trama das seis da Globo. Além disso, é protagonista de dois longas com previsão de estreia ainda esse ano: ‘Continente’ de Davi Pretto e ‘Criadas’ de Carol Rodrigues, e está no elenco de ‘Baby’, do cineasta Marcelo Caetano, lançado este ano em Cannes, que também deve chegar às salas de cinema neste segundo semestre, em que faz par com Bruna Linzmeyer. Estreando como apresentadora no videocast ‘Histórias de Conforto’, nascido a partir do espetáculo ‘Conforto’, criado por ela e no qual divide a cena com a mãe, Val Cavalcanti, trazendo o trabalho doméstico para o centro da cena artística, Ana Flávia, que assim como a mãe, é ex diarista, usa sua experiência e lugar de fala para propor uma reflexão sobre a desigualdade social e falta de valorização desses profissionais, herança do racismo estrutural. “Se fala pouco sobre o trabalho doméstico no Brasil. É preciso que paguem melhores salários ou diárias. Pensar na justiça dos valores praticados entre quem contrata e quem é contratado é um bom começo”.

*Por Brunna Condini

Ana Flavia Cavalcanti tem muito a celebrar. A atriz estará na próxima novela das 18h da Globo, ‘Garota do Momento’ e tem namorado bastante o cinema. É protagonista de dois longas com previsão de estreia ainda esse ano: ‘Continente’ de Davi Pretto e ‘Criadas‘, de Carol Rodrigues, e ainda sente o reverberar do lançamento de ‘Baby‘, do cineasta Marcelo Caetano, na 63ª Semana da Crítica de Cannes, que também deve chegar às salas de cinema neste segundo semestre. “Faço a Priscila, casada com a Jana (Bruna Linzmeyer). Ela é uma mulher destemida, independente, cheia de fé, gosta de viver e tem orgulho da sua trajetória. Me vejo muito nela”, analisa.

Ana Flávia é multi e encontrou na expressão artística um canal de comunicação poderoso, no qual obra e personagens se alimentam e se misturam, e, assim, ela vai dando seu recado: acabou de estrear o videocast ‘Histórias de Conforto’, projeto que nasceu a partir do espetáculo ‘Conforto‘ que a atriz assina a dramaturgia e direção, e divide a cena com a mãe, Val Cavalcanti, propondo uma reflexão sobre a desigualdade social e trazendo o trabalho doméstico para o centro da cena artística, tema em que é possível fazer um recorte com o racismo. ” Trocamos nossas experiências de conforto, desconforto, família, sonhos e memórias. Minha mãe foi faxineira a vida toda e, agora, é atriz, e eu também fui diarista e babá. Se fala pouco sobre o trabalho doméstico no Brasil. É preciso que paguem melhores salários ou diárias. Todo mundo quer viver bem”, ressalta, sobre a necessidade da valorização dos profissionais da área.

Ana Flavia Cavalcanti celebra os frutos da jornada como atriz e faz da arte canal para falar de temas urgentes, como o racismo por trás do trabalho doméstico no Brasil (Foto: Hanna Vadasz)

Ana Flavia Cavalcanti celebra os frutos da jornada como atriz e faz da arte canal para falar de temas urgentes, como o trabalho doméstico (Foto: Hanna Vadasz)

Na minha opinião R$ 350 é um valor justo para um dia de faxina. Mas os acordos são muitos. Pensar na justiça dos valores praticados entre quem contrata e quem é contratado é um bom começo – Ana Flavia Cavalcanti

A atriz comemora a estreia como apresentadora do videocast que tem parceria com Comfort. “A primeira convidada foi minha amada Liniker. Esse episódio é lindissimo, super poético, cheio de beleza e perfume. São oito episódios, ao todo, que lançaremos quinzenalmente, nos canais da marca no YouTube e Spotify. O segundo episódio é com Rafa César e Luke Vidal. Está bonito, um papo leve, sobre família, amor, paternidade”, conta sobre o projeto, que será sempre exibido às quartas-feiras.

Ana Flavia Cavalcanti recebe Liniker no videocast 'Histórias de Conforto' (Divulgação)

Ana Flavia Cavalcanti recebe Liniker no videocast ‘Histórias de Conforto’ (Divulgação)

Os frutos e o caminho

No elenco da próxima novela das 18h da Globo, ‘Garota do Momento‘, de Alessandra Poggi com direção geral de Jeferson De e direção artística de Natalia Grimberg, prevista para novembro, Ana Flavia dá um pequeno spoiler de sua personagem: “Ela se chama Marlene. É reluzente e conhece seu valor. Começamos a gravar em breve. Estou super feliz e rica, né?”.

Nascida em Eldorado, Diadema, na Grande São Paulo, a artista começou a trabalhar ainda na infância, primeiro como babá, depois com limpeza e mais tarde em salão de cabeleireiro. Já desejava ser atriz desde cedo, mas só foi cursar escola de teatro mais tarde e integrou o grupo teatral de Antunes Filho. Começou a carreira em 2005 nos palcos,  e em 2010 foi para o Teatro de Soleil, na França, onde ficou por cinco meses. De lá para cá, foram mais de 25 trabalhos no audiovisual, inclusive as ‘bombadas’ séries ‘Sob Pressão’ e ‘Os Outros’. Pensando no caminho, ela avalia: “Não abro mão da liberdade de poder ser quem sou. Amo minha trajetória, tenho orgulho dos meus ossos e passos até aqui, alguns arrependimentos, lógico. Mas para mim a vida é sempre em frente, na direção da rotação da Terra. Vou, literalmente, na direção dos meus sonhos”.

"Amo minha trajetória, tenho orgulho dos meus ossos e passos até aqui" (Foto: Hanna Vadasz)

“Amo minha trajetória, tenho orgulho dos meus ossos e passos até aqui” (Foto: Hanna Vadasz)

Juntas na vida e na arte

No espetáculo autoral ‘Conforto‘, ela pôde costurar memórias sua e da mãe, Val Cavalvanti, hoje aposentada como trabalhadora doméstica, mas recomeçando nos palcos. A temporada da peça terminou em junho, mas terá algumas apresentações ainda acontecerão ao longo do mês de agosto em algumas cidades paulistas. Ana fala como a experiência teatral ressignificou a relação entre ela e a mãe. “Minha amiga Helena foi ver o espetáculo e disse que estamos fazendo uma grande constelação familiar, aquela terapia que a gente constela questões da vida em geral. Eu concordo. O mais lindo é que vejo minha mãe atuar. Quando ela se levanta e começa a falar, tudo faz sentido. Tudo. Nada mais importa, só importa ela ali, viva, atuando, rindo, chorando e ao meu lado”.

Ana Flavia Cavalcanti e mãe Val: juntas na vida e na arte (Acervo)

Ana Flavia Cavalcanti e mãe Val: juntas na vida e na arte (Acervo)