*Por Alexandre Schnabl
Mateus Solano é o cara! Em uma emissora onde a renovação dos galãs caminha a passos lentos, obrigando a velha prata da casa a estender a carreira e demorar muito para pendurar a chuteira, o ator, mesmo em um papel de vilão, pode ser considerado um alívio para a alta direção da TV Globo. Afinal, é sabido que a maior dificuldade do canal é conseguir renovar seu casting masculino, repleto de rostinhos bonitos, surgidos em incubadoras como ‘Malhação’, mas nem sempre dotados do carisma ou talento proporcionais ao seu sex appeal. A Globo bem que tateia, daqui e dali, procurando novos Tarcísios Meira, Franciscos Cuocos ou Edsons Celularis, mas demora muito a formar um novo elenco de galãs pronto a cair – de verdade – com unha e carne nos papéis. Quase sempre, eles não têm a menor condição de emplacar para valer, sem poder corresponder àquilo que lhes foi oferecido. Deve ser uma decepção, para eles e para quem apostou neles. A prova é que, na última década e meia, à exceção de Reynaldo Gianecchini e Cauã Reymond, poucos atores (ou aspirantes a) conseguiram de fato se manter no topo, unindo beleza e carisma à qualidade interpretativa, o que deve, muito possivelmente, causar dores de cabeça intermináveis nos diretores de elenco da rede.
Matheus, que já havia provado talento de sobra desde que surgiu na minissérie ‘Maysa – quando fala o coração’, é um daqueles raros exemplos de artista que vale cada minuto parado na frente da tevê, mesmo quando o enredo do folhetim se aproxima daquelas novelas mexicanas cheias de caras e bocas. Aliás, são justamente as suas caras e bocas – plenas de nuances de deixar todos com o queixo caído – que fazem com que o público fique hipnotizado, sem mudar de canal, mesmo quando o ator interpreta um vilão como o Félix de ‘Amor à Vida’.
Nesta semana, durante as cenas em que seu personagem maquiavélico foi desmascarado por outros tão execráveis quanto, ficou comprovado de uma vez por todas que a audiência esta diante de um grandíssimo artista, como já aconteceu na virada dos anos 1970/1980, quando a então jovem, mas madura, Gloria Pires se confirmou como a principal estrela daquela geração de atrizes. Matheus, obviamente, segue o mesmo caminho. E, se havia alguma sombra de dúvida sobre sua capacidade de arrasar em cena, certamente as cenas exibidas entre esta segunda e quarta-feira a sepultaram de vez. Poucos atores conseguem transitar por esta miríade de emoções em tão poucos segundos, passando de um bichinho coagido, quase um dócil coala com expressão de assustado por ter tido seu caráter revelado, a uma hárpia das mais pérfidas, uma ave de rapina perigosíssima exalando rancor, ódio e desprezo com a mesma facilidade com que masca um chicletinho. E mais: além de tudo, o moço sabe fazer humor dos bons, conferindo ao seu Félix momentos memoráveis de ironia e blague, coisa dificílima em se tratando de profissionais do gênero masculino, seja interpretando gays ou héteros. E, sobretudo, entre aqueles que têm carinha de quem mamãe quer para genro.
Afinal, é fácil se lembrar que algumas das melhores vilãs da Globo, como a Odette Roitmann de Beatriz Segall em ‘Vale Tudo’, ou a Nazaré Tedesco concebida por Renata Sorrah em ‘Senhora do Destino’, caíram na graça do povo por mesclarem sedutora vilania à divertidíssimas tiradas capazes de fazer a plateia dobrar o estomago no sofá de tanta risada. Poucos vilões homens causaram igual sucesso, misto de asco com admiração por suas características, como essas mulheres dedicadas ao mal. Afinal, desde que a Disney se tornou a Disney, são as vilãs que dominam a cena dentro do universo da maldade absoluta. Até mesmo muito antes disso, madrastas, bruxas e feiticeiras invejosas sempre foram um prato cheio para os enredos, em uma época em que a literatura e o teatro ainda engatinhavam, na Grécia Antiga, com os vilões homens sempre ficando em segundo plano. A coisa, obviamente, deu certo e foi se consolidando ao longo dos séculos. MacBeth não seria nada, se não fosse a presença implacável da nefasta Lady MacBeth em uma das obras mais conhecidas de William Shakespeare. Na Globo contemporânea, essa premissa parece continuar se mantendo. Uma das poucas exceções talvez seja o dissimulado e asqueroso Dom Jerônimo, interpretado com maestria por um bamba de sutis variações faciais, Tarcísio Meira, na minissérie ‘A Muralha’, escrita por Maria Adelaide Amaral por ocasião dos 500 anos do Brasil, em 2000.
Agora, com a presença de Matheus na série de barracos e revelações em ‘Amor à Vida’, esta regra parece estar sendo virada ao avesso. Com o intuito de aumentar a audiência, aliás, a novela vem aos poucos dando certo. Muito certo, diga-se de passagem. Desde o capítulo em que foi revelado que César (Antonio Fagundes) é o verdadeiro pai de Jonathan (Thalles Cabral) e Edith (Bárbara Paz), na verdade, era uma garota de programa contratada para seduzir Félix (Mateus Solano), as confusões aumentam e, naturalmente, a pontuação no ibope também. Na última segunda (18), o folhetim fechou o capítulo com 40,2 pontos, embora nesta terça (19), tenha havido uma queda para 36,3, quando o recorde marcado até agora seja de 41. Enquanto a elevação da audiência é gradual, a brilhante encenação de Mateus Solano vem atraindo a admiração de todos.
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