*Por Simone Gondim
Dezembro trouxe bons ventos para Rodrigo Fagundes. Mal comemorou o sucesso de “Tudo bem no Natal que vem”, primeiro longa-metragem de Natal brasileiro produzido pela Netflix – a comédia estrelada por Leandro Hassum estreou na quinta-feira passada (3) e ficou em primeiro lugar no Brasil, além de entrar na lista dos dez mais vistos da plataforma de streaming nos Estados Unidos, na Alemanha, na Itália e em Portugal -, o ator se prepara para começar a filmar “Não é você, sou eu”, que também traz Cleo Pires e Vera Fischer no elenco. “É uma comédia policial. Estou muito empolgado, fiquei feliz de sair para trabalhar de novo”, conta Rodrigo.
Em “Tudo bem no Natal que vem”, Rodrigo é Luiz Cláudio, cunhado folgado de Jorge, vivido por Hassum. “Meu personagem quer ficar rico. A cada Natal, ele vem pedir dinheiro ao Jorge, porque precisa do investidor para dar vazão aos sonhos dele. Tenta fazer joia, ter plantação de shitake… O final é bem inesperado, o arco do personagem é muito legal. O Luiz Cláudio não é cafajeste nem mau-caráter, só é folgado. Chegando ao fim da história você vê que ele é um sobrevivente”, adianta Rodrigo. “Conheço pessoas como Luiz Cláudio na vida real. Para lidar, tem que ser firme, saber dizer não. Eles são muito sedutores. Esses caras muito malandros têm carisma”, diverte-se.
Durante o período de isolamento social mais intenso, em função da pandemia causada pelo novo coronavírus, Rodrigo participou do projeto “Rede de leituras”, com o ator Daniel Pereira e direção de Pedro Leão. O texto era “A terra prometida”, de Samir Yazbek. “O Daniel é de Santa Catarina, o diretor estava em Ribeirão Preto e eu estava no Rio de Janeiro. E o ‘Rede de leituras’ é de São Paulo. Foi uma experiência muito legal, a maior união de estados para fazer o teatro viver”, comenta.
As lives também tiveram papel importante na vida do ator durante a quarentena. “Participei de todas as que me convidaram. Tem gente que fica chochando live, dizendo que não aguenta mais. Se tiver lockdown, tomara que tenha uma segunda onda de lives”, diz ele. “As lives me salvaram. Primeiro, com elas eu conseguia ver meus amigos. Depois, fiz novos amigos na pandemia, a distância”, revela. “As pessoas que me entrevistaram sabiam muito da minha história, do meu passado. Coisas que eu nem lembrava. Não sou muito de pensar no passado. Tenho saudade de coisas, mas olho para a frente”, observa.
Apaixonado pela carreira que escolheu, Rodrigo recusa o rótulo de celebridade. “Nunca fui do jet-set nem quero ser. Gosto de gente de verdade e da carpintaria da profissão de ator. A perfumaria é ilusória”, afirma. “Graças a Deus consigo viver da minha arte em um país como o Brasil. Jamais tive que recorrer a plano B, que seria acionar meu diploma de publicitário ou ter que trabalhar em uma loja ou um banco, como vários colegas que têm que desistir e voltar para suas cidades. Sou um privilegiado nesse sentido”, reconhece.
Outro motivo de alegria foi passar a contar com o apoio dos familiares bem antes de fazer sucesso com o grande público. “Sou de Juiz de Fora, vim para o Rio em 1992 para estudar na PUC. Passei em desenho industrial, foi uma sorte. Fiz o primeiro semestre, tomei pau em todas as matérias e mudei para Comunicação. Eu queria fazer teatro, mas minha mãe e minhas tias diziam que eu iria passar fome, aquelas caretices de família católica e tradicionalíssima”, lembra Rodrigo. “No fim da faculdade, entrei na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) escondido. Fiz uma aula e me encontrei. No primeiro espetáculo, “Assim é (se lhe parece)”, de Pirandello, era o protagonista e minha família veio assistir. Ao fim da peça, estavam todos chorando. Eles começaram a me dar força ali, quando me viram no palco pela primeira vez”, acrescenta.
Por falar em família, a de Rodrigo vai bem, obrigado. Casado há uma década com o ator e escritor Wendell Bendelack – os dois estão juntos há 17 anos -, o mineiro atribui a longevidade do relacionamento ao respeito mútuo, com uma boa dose de leveza. “A gente é muito criança dentro de casa. O Wendell não parou, está escrevendo, é colaborador do Alessandro Marson e da Thereza Falcão em “Nos tempos do imperador”. Ele ainda tem um projeto próprio, que pode ser que role em alguns anos. E a gente vai assim, tentando não enlouquecer nessa pandemia. Mas não teve nenhuma briga. Um dia de cada vez, com café e risada no meio”, explica.
Essa filosofia de viver um dia de cada vez ajudou Rodrigo a controlar a ansiedade no período em que sonhava interpretar personagens dramáticos. Uma das chances veio com o convite para o seriado “Impuros”. “Foi uma participação pequena, no quarto episódio da segunda temporada, mas eu estava cavando muito uma oportunidade de fazer algo diferente. Sou mais conhecido por comédia, porque fiquei nove anos no ‘Zorra total’ com o Patrick, com o bordão ‘olha a faca!’. Sei que o personagem é muito popular, até hoje as pessoas falam comigo, mas sou primeiro um ator, depois sou comediante. Sempre quis experimentar outras coisas”, confessa.
Rodrigo lamenta que algumas pessoas não reconheçam sua versatilidade. “Amo fazer comédia, mas fiquei rotulado. Isso me deixou muito triste, passei uma parte da vida querendo desistir da profissão. No fim do ‘Zorra total’ quis fazer teste para novela. Sempre amei novela, mas só consegui fazer depois que eu saí do programa. Caí em “Babilônia”, que teve problemas e algumas histórias não foram tão desenvolvidas quanto na sinopse. Mas amei fazer porque consegui ver como uma novela funcionava por dentro”, ressalta.
Em 2017, viria seu maior sucesso em novelas: o Nelito de “Pega pega”. “Já conhecia a autora (Claudia Souto), porque havia sido redatora do ‘Zorra total’. Ela escreveu o Nelito para mim, disse que teria humor, mas muito drama, porque sabia que era isso que eu queria. Estava no céu, ‘Pega pega’ foi um dos momentos mais felizes que eu tive na TV”, garante. “A novela acabou em 2018, mas o grupo mantém contato até hoje. Todos os dias a gente se fala, manda piada, brinca, indica peças e séries. Na pandemia, fizemos reunião no Zoom. É um grupo grande, virou uma família. Geralmente, é o teatro que te dá isso. Quando se encontra isso na TV é para levar para a vida”, comemora.
Sobre o extinto “Zorra total” – o programa passou por uma série de mudanças e, atualmente, chama-se apenas “Zorra” -, Rodrigo admite que o tipo de humor do formato antigo não tem mais espaço. “É um programa que, se você pegasse hoje, seria totalmente cancelado. A gente fazia bullying. Lembro que eu e Fabiana Karla tínhamos uma cena em que era ela me atacando, falando de desmunhecar, e eu chamando ela de gorda. A gente estava preso naquilo e era uma coisa corriqueira”, assume.
Ele não poupa nem Patrick, personagem que criou. “Algumas pessoas me dizem que prestei um desserviço. Eu peço desculpas, mas o Patrick sou eu, é muito a minha essência. Quando me chamaram para levar o personagem para a televisão, pedi muito para que ele se desse bem no final. Ele era humilhado mas saía de boa, não mudava o jeito dele. Dentro de um programa de humor eu não levantava bandeira nenhuma, tentava proteger o personagem que era uma criação minha. Sofri muito bullying no colégio e não sabia me defender. Nunca levantei bandeira, mas também não escondi o mastro”, defende-se.
Em relação ao cancelamento nas redes sociais e aos haters, Rodrigo enfatiza que o mundo virtual é muito imediatista. “Tento não ser sugado por essas mídias. Quando vejo esses cancelamentos, reparo que tem muita gente em rede social querendo atenção. Já aconteceu comigo mais de uma vez, postar uma coisa e alguém ir lá e me xingar. Só que eu respondo, geralmente com carinho, e a pessoa diz ‘poxa, você me notou, não achei que fosse falar comigo’. Todo mundo tem muita opinião e pouco embasamento. Vira terra de ninguém, dedo na cara, fake news. As pessoas estão meio perdidas”, descreve.
Mas a chamada “patrulha da internet” pode ter suas vantagens. “Esse negócio de cancelamento é muito louco, tem que investigar, averiguar a situação. O lado bom é que, atualmente, você tem a possibilidade de filmar tudo. Racismo, misoginia, maus tratos com animais. Isso sempre aconteceu, mas agora a gente tem vídeo. Ao mesmo tempo em que é o gatilho, dá agonia em todo mundo, é uma prova de que as pessoas vão ficar mais atentas. A longo prazo, talvez a gente controle essa violência. Sou um que acredita. Tento acreditar na humanidade. De tanto ver coisas horrorosas, a gente vai aprender a lidar com o outro, a lidar com as diferenças”, torce.
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