*Por Brunna Condini
Depois de passar por programas como ‘Encontro com Fátima Bernardes’ e ‘Vídeo Show’ Alinne Prado está à frente do TV Fama, na Rede TV, há poucos meses. Sozinha na apresentação do programa – após a saída de Lídia Mendes e Júlio Rocha, que pediram demissão -, ela vem se destacando, apesar dos rumores de crise na produção. Para Alinne, o desafio de fazer parte da reformulação de um formato que existe há 20 anos, e também inspirar quem vem se sentido representado, é o que ela valoriza na experiência.
Estar à frente de um programa como o TV Fama fala da importância da representatividade na TV brasileira. “O convite veio em combo. Minha voz e minha cor são indissociáveis. E fui chamada pela minha postura profissional e consciência sócio-racial. Quando conversei com a direção geral sobre minha estrada percorrida até ali, tive a seguinte resposta: ‘Já a admirava, mas sua bagagem e consciência me faz admirar ainda mais”. Como venho com muitas dores que tive na minha carreira televisiva, o afago me deu uma tranquilidade para aceitar o convite de apresentar um programa”, lembra Alinne.
Você tem apresentado sozinha após a saída dos outros dois apresentadores. O que aconteceu? “O Júlio e a Ligia acordaram suas saídas diretamente com a direção. Não tive acesso aos pormenores, mas tenho com eles uma relação de respeito, admiração e afeto”.
Mesmo o Brasil sendo um país com a população em sua maioria negra, a questão da representatividade ainda deixa a desejar, e é fundamental para a construção de identidades e para a autoestima. Te ver na TV aumenta a confiança de que é possível ver pessoas pretas em lugares de poder e destaque profissional. Te procuram para falar sobre isso? “Sim, praticamente todos os dias recebo mensagens de pessoas falando sobre essa inspiração. Como nasci pobre, em favela e consegui minhas conquistas através da educação, disciplina e foco (além do estômago forte, claro), isso faz crer que é possível, sim! Amanhã mesmo darei uma palestra para jovens infratores do Degase. O diretor da instituição disse que eles estão super empolgados e escreveu o seguinte: “Você gera expectativa e entusiasmo! Isso é muito bacana!”.
Ao falar do trabalho atual, Alinne comenta as críticas ao novo formato e a queda da audiência. As notícias são de que o TV Fama está em crise, com problemas com patrocinadores, de audiência…o que é passado para você? “Toda mudança gera alvoroço Até o avião alçar voo cruzeiro enfrenta turbulências. Tenho tido um feedback muito positivo sobre meu trabalho e é nisso que sigo focando. Fazendo o que é bom e correto, a resposta vem”.
Em pouco tempo muitas mudanças já aconteceram no programa e Alinne diz: “Já passei por situações mais desafiadoras na minha jornada profissional. Aprendi que o que tiver que ser meu, acontece. E tenho sentido acontecer. O que mais me importa é ter retidão profissional e retorno do público, que tem sido lindo!”, garante.
“Confesso que não consumia programas de fofoca antes. Fui chamada para fazer jornalismo de celebridade e é isso que tenho feito. Com respeito a cada profissional que aparece ali e tendo todos os meus comentários tendo a empatia como ponto de partida”.
O caminho e os sonhos
Com 19 anos de carreira, ela diz que tem se permitido experimentar o novo. “Sou a menina que saiu do morro do Dendê (na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro), e que passou por inúmeros desafios até chegar aqui. Já fui ao fundo do poço e renasci. O sorriso que aparece no meu rosto é reflexo da minha alma. É isso que levo sempre para TV, dou o melhor de mim”.
Como enxerga a questão da representatividade na TV atualmente? Faltam muitos espaços ainda? “Estamos evoluindo. Ainda a passos de ‘cágado cansado’, mas estamos. Ás vezes, damos cinco passos, voltamos três, mas vamos fluindo. A voz que conquistamos, especialmente através da internet, ninguém nos tira mais. A televisão foi obrigada a se adaptar aos novos tempos, mas a busca da equidade continua. Ainda temos um vasto terreno a ocupar especialmente em funções de liderança nas emissoras. Dá para se contar nos dedos de uma mão o número de diretores e autores roteiristas negros”, analisa a jornalista.
E revela seu ‘programa dos sonhos’ para apresentar: “É um formato de entrevistas à la Oprah Winfrey (apresentadora norte-americana). Tenho fé e estou aprimorando meu trabalho a cada dia para poder realizar. Vocês serão testemunhas que eu vou conseguir!”, aposta.
Apesar de ser um momento de ascensão e de crescimento nos desafios, Alinne não deixa de lamentar as perdas do período de mais de um ano de pandemia: “A meditação e a atenção à respiração têm me dado um grande refrigério. Mas já no início da pandemia, em março do ano passado, perdi um amigo que indiretamente foi vítima da pandemia. Ele enfrentava uma depressão e tirou a própria vida. Dali fui perdendo várias pessoas próximas vítimas diretamente da Covid: amigos, colegas de trabalho, o pastor da igreja onde cresci, o mestre de bateria do bloco onde sou rainha… é desesperador”, desabafa.
Para a apresentadora, buscar o lado bom do que lhe acontece é quase ‘lei’. Alinne reafirma, inclusive, a coragem que a trouxe até aqui, quando salienta que não existe desafio profissional que não toparia: “Desde que eu possa usar minha expertise, meu olhar e posicionamento, não vejo nenhum programa que eu não pudesse apresentar. Quando trabalhamos com amor e verdade, somos capazes de melhorar quaisquer ambientes que passamos. Minha comunicação está e sempre estará na função de transformar o mundo para melhor”.
Artigos relacionados