Alinne Moraes sobre desafios de criar filho no cenário atual: ‘Quero que tenha uma vida mais real e menos virtual’

*Por Brunna Condini

“À flor da pele. Ela tem tudo e falta tudo”, resumiu Alinne Moraes sobre sua personagem em ‘Um Lugar ao Sol‘, a conflituosa Bárbara. Se na trama das 21h de Lícia Manzo, a atriz vem mexendo com a opinião do público, já que a personagem ‘adequa’ o caráter de suas ações às demandas emocionais e carências, que não são poucas, na vida, Alinne tem princípios firmes e se orienta por eles. “Nunca fiz nada que não fosse bacana ou que prejudicasse alguém para conseguir a aprovação dos outros. Jamais faria!”, afirma. Já sua Bárbara será desmascarada na novela porque assumiu a autoria de textos que não são dela. Agora, se o assunto é ‘cobiçar’ um talento que não tem, ela revela: “Sou totalmente diferente da Bárbara. Mas, gostaria de ter talento para o canto. Adoraria saber cantar de verdade”.

Aos 38 anos, Alinne é hoje uma versão ainda mais potente do que costuma ser desde os 13 anos, quando saiu de casa para começar a trabalhar como modelo, ganhando o mundo e sua independência. “Com a proximidade do 40, sinto que estou menos ansiosa e percebo uma calma, uma serenidade nos gestos. Não existe mais aquela pressa e tenho valorizado, ainda mais, cada momento. Também me vejo mais realista em relação à sociedade e ao ser humano como um todo. A proximidade desta idade tem me feito olhar para trás e ter orgulho da minha história, da minha família. Isso me deixa forte pra enfrentar novos desafios”, divide.

Alinne Moraes tem chamado atenção na trama das 21h de Lícia Manzo, com Bárbara, que expõe todas as suas dores e carências (Foto: Vinícius Mochizuki)

Enquanto a personagem é insegura em relação aos rumos em sua vida, Alinne seguiu em frente, trabalhou duro e foi resiliente em suas escolhas. Como já é sabido, a atriz foi criada por duas mulheres que viveram a descoberta do feminismo, com as dores e as delícias, dentro de casa: sua mãe e avó. O girl power estava ao alcance e foi bem experimentado. Lição aprendida, ela ganhou o mundo. “Saí de casa muito cedo, mas não posso dizer que os danos foram maiores que os ganhos. Em um determinado momento, precisei parar de estudar, mas, depois, conclui à distância. Minha mãe viajou comigo até minha maioridade e fomos juntas para o Japão, França, Itália, Estados Unidos, África e muitos outros lugares. Ter a oportunidade de viajar a trabalho me fez aprender sobre outras culturas, me possibilitou ter contato com pessoas de outras nacionalidades, com idiomas, museus, teatro, feiras, atrações culturais”, avalia.

“Foi meu trabalho como modelo que fez com que eu pudesse migrar, ainda jovem, para a carreira de atriz” (Foto: Vinícius Mochizuki)

“Tudo isso contribuiu para o meu background cultural, aquilo que, de maneira inconsciente, ajudou a solidificar a minha criatividade como atriz. Com meu trabalho como modelo também pude comprar uma casa para minha família e fiz um bom ‘pé de meia’. Inclusive foi o que fez com que eu pudesse trocar, ainda jovem, a carreira de modelo pela de atriz”.

Sonhos e cosntruções

Já são 20 anos como atriz e a ‘marca’ da humanidade em cada personagem tem sido algo do qual ela não abre mão, independente da diversidade das tramas em que ela habita: são 13 novelas, 14 filmes, séries e alguns espetáculos. O que falta ainda? “Gostaria de fazer mais séries, porque fiz muito poucas. E também de atuar em um infantil no teatro. Acho delicioso o retorno das crianças. Também quero viajar mais e para países que nunca fui. E sonho em abrir um espaço cultural, com palco, teatro, uma galeria… Quem sabe um dia?”, revela.

“Sai de casa muito cedo, mas não posso dizer que os danos foram maiores que os ganhos” (Foto: Vinícius Mochizuki)

Casada com o diretor Mauro Lima, com quem tem Pedro de 5 anos, a atriz fala sobre o tipo de relação que vem construindo com o filho. “Sou uma mãe muito presente. Somos muito ligados, brincamos e nos divertimos juntos. Eu também gosto de contar sobre a nossa história, sobre a minha infância, sobre a dele, minhas experiências, meu passado, o dele, o do Mauro, sobre seus avós, tios e primos, assim como conto um pouco da história do Brasil e do mundo. O Pedro me pergunta muito sobre tudo. Falo da importância de saber se colocar no lugar do outro, de ter empatia em uma sociedade tão desigual. Educo meu filho para que ele reconheça seu lugar de privilégio e para que lute sempre contra as injustiças em uma sociedade que ainda é muito machista, racista, LGBTfóbica e tantas outras coisas que precisam mudar. Acho importante conversar desde cedo, principalmente quando as perguntas sobre esses temas partem dele”.

“Educo meu filho para que ele reconheça seu lugar de privilégio e para que lute sempre contra as injustiças em uma sociedade que ainda é muito machista, racista, LGBTfóbica e tantas outras coisas que precisam mudar” (Reprodução)

Ela também fala sobre os desafios de criar um filho no cenário atual. “O mais assustador é o que ainda está por vir nesse campo do mundo virtual e seus ‘avanços’. As mudanças no mundo virtual ocorrem vertiginosamente e mais rápido do que os resultados das pesquisas sobre os possíveis malefícios dessas mesmas mudanças. Aplicativos, games, espaços virtuais, ferramentas, inteligência artificial, realidade virtual ‘aumentada’. Enfim, é tudo muito assustador. Se eu disser que me sinto segura e otimista, estarei mentindo. Quero que ele tenha uma vida mais real e menos virtual”. E pontua: “Estamos bem só com o Pedro. Essa questão de filho único não é um grande dilema pra gente. Fui criada como filha única e minha mãe também”.

A atriz e o diretor Mauro Lima estão juntos desde 2012: “Já estamos envelhecendo juntos há 10 anos. E assim seguiremos” (Reprodução)

Alinne também avalia a longevidade do casamento com Mauro Lima. O casal está junto desde 2012 e vive a relação longe dos holofotes: “Sei que é lugar comum, mas a verdade é que a gente se completa. Eu gosto de fazer tudo ao lado dele. Acredito em envelhecer juntos, já estamos envelhecendo juntos há 10 anos. E assim seguiremos”.