Aline Campos volta em ‘Farofeiros’, e alinha a luta do feminismo pela mudança da hiperssexualização na publicidade


Conhecida nacionalmente por sua atuação como “Verão” em campanhas de cerveja, atriz reflete sobre sua trajetória profissional e reinvenção pessoal. Reconhecendo o impacto de sua imagem no imaginário coletivo, ela destaca o aprendizado que adquiriu ao lidar com a hiperssexualização e as mudanças nos padrões da publicidade. “Tenho muito orgulho de ter feito a Verão. Acho que, na época, tudo fluiu bem. O pensamento das campanhas de cerveja e do marketing evoluíram junto com a sociedade”, diz. Hoje, Aline redefine sua atuação, diversificando projetos em plataformas como a Metamor, focada em autoconhecimento e bem-estar, e empreende na moda com marcas próprias, como a Lloki e a Von Three. Com milhões de seguidores no Instagram, ela administra suas redes com autenticidade, priorizando conteúdo alinhado a sua emoção e princípios, sem seguir apenas o que “funciona” nos algoritmos. Além disso, antecipa sua participação em “Farofeiros” a anuncia três projetos dedicados à moda com sua participação ativa – como estilista e empreendedora

*por Vítor Antunes

Quando ela surgiu para o telespectador, era Aline Riscado, bailarina/dançarina do Faustão. Seu carisma e simpatia conquistaram o Brasil – sem contar a inegável beleza, claro. Hoje, década e meia depois, muita coisa mudou. Até mesmo o nome da artista, que atende por Aline Campos, desde 2021. Mudanças. Inclusive, a abordagem sobre a questão feminina nos comerciais de cerveja e na publicidade de um modo geral também mudou. Por anos ela foi a “Verão”, musa de uma cervejaria. “Tenho muito orgulho de ter feito a Verão, na campanha da cerveja. Acho que, na época, tudo fluiu bem. O pensamento das cervejarias e do marketing evoluíram junto com a sociedade”. Aline identifica que estava em um contexto inicial do feminismo contemporâneo, onde “nem mesmo as pessoas sabiam ao certo o que era ou os motivos por trás dele”, e reconhece que a evolução social permitiu que as mulheres conquistassem “um espaço que antes não tinham e estão mais unidas”. Bem como não há mais a objetificação do corpo feminino nas campanhas.

Mas, se há coisas que não mudaram são as lutas pelo espaço da mulher na sociedade, especialmente em dupla ou tripla jornada. “Sobre o dilema da mulher no cotidiano, acho que vivemos um dia de cada vez. Planejo, tento estar presente e focada no que faço. O segredo é direcionar atenção aos meus desejos. A mulher precisa entender que deve acreditar no seu potencial, não para provar nada a ninguém, fazer o que ama. Isso é o que eleva nossa autoestima e nos realiza”.

Ainda para este ano, a atriz irá lançar uma plataforma online de autoconhecimento, a “Metamor”. E também confirmou ao Site HT que estará nova continuação do filme “Os Farofeiros“, o terceiro longa. O filme é muito popular e arrasta junto a si muitos espectadores. “Os Farofeiros me aproxima muito do público infantil. É um filme para a família, e isso é muito bacana. Ele repercute de forma muito positiva.”

Aline Campos no “Segue o Baile”, programa do E! (Foto: Divulgação)

Um dos projetos lançados por Aline é  a “Metamor”, uma plataforma online que alinha bem estar e saúde mental. Em dezembro haverá o Réveillon da Metamor, em Visconde de Mauá (Resende/RJ), com características de retiro espiritual, conectando esse projeto ao conceito mais amplo de autocuidado, reforçando a relevância do bem-estar integral. Além disto, a artista se lança como estilista e em projetos no segmento do vestuário, a Lloki e a Von Three, fora uma loja de beachwear feminina, com lançamento ainda pra este ano. “A Metamor atua num contexto no qual aprendi que a meditação me ajuda muito a organizar minha mente para realizar tantas funções em 24 horas. Esta é uma das razões que me fez investir no app.Trabalhar com arte alimenta minha alma. Entendo que ser estilista também é arte. Até o fim do ano, estarei focada nos meus negócios e campanhas, mas sem deixar se ser atriz”.” Ano que vem será lançado “Os Farofeiros 3″ e as pessoas são apaixonadíssimas por esse filme, que é muito popular”. Além disso, Aline está à frente do programa “Segue o Baile“, uma competição de dança, levada ao ar pelo Canal E!

Por um tempo, achei que era apenas artista. Demorei a entender que podia ser, também, empreendedora, começar algo do zero, e inclusive gerir a minha carreira. Hoje, cuido e administro tudo, sem empresário, o que exige de mim uma força ainda maior – Aline Campos

Aline Campos aposta na verve empresária além de ser atriz e influencer (Foto: Divulgação)

 DONA DO RISCADO

Não faz muito tempo, uma gíria era aplicada a pessoas que eram muito entendidas sobre determinado assunto. O que se falava era que a pessoa era “a dona do riscado“, ou que “entendia do riscado”. De igual forma, não faz muito tempo, que Aline Campos usava como seu nome “Aline Riscado”, sobrenome de seu ex-companheiro. “A mudança do meu nome faz parte dessa mudança pessoal. Acredito que fiz a melhor escolha. Realmente estou atraindo outras coisas para a minha vida com esse novo nome. Ele está me conectando a trabalhos que fazem muito sentido para mim”

Percebi, sim, uma queda no número de seguidores, porque nem todos me reconhecem com o nome “Aline Campos”. Eu tinha 12 milhões de seguidores [Hoje ela tem 500 mil a menos]. Mas lido com paciência. Considero que já passei pelo período mais difícil e, hoje, não me faltam marcas apoiadoras, e em especial aquelas que dialogam com a minha essência e me respeitam por essa escolha – Aline Campos

A artista prossegue dizendo que sabia do quão importante seria mudar seu nome artístico, especialmente por ele já estar consolidado. “Sabia que o nome Aline Riscado tinha uma força enorme. Ele veio de uma época em que a televisão tinha uma audiência nas alturas, algo que já não acontece mais hoje. Naquele tempo, quem era da televisão era famoso. Se eu olhar por esse ponto de vista, se eu não houvesse atualizado meu nome artístico, talvez eu estivesse mais famosa, fazendo mais trabalhos, mas eu não estaria feliz, como estou hoje. Há quem ainda me enxergue como a Aline, bailarina do Faustão, com 20 anos. Ou quem ainda me trate com o nome antigo. Hoje tenho 36 anos. Creio que a gente se transforma, evolui, amadurece”.

Mesmo com uma carreira estabelecida, Aline optou por mudar de nome artístico (Foto: Divulgação)

A artista então argumenta que “Para seguir em frente, é preciso abrir mão de coisas do passado. Quando eu era “Aline Riscado“, sentia que as pessoas me olhavam mas não me viam. Hoje, sinto que há uma conexão mais autêntica com quem sou de fato. Aos poucos, as pessoas entendem que, se eu mudei de nome, é porque quero ser chamada pelo nome que escolhi. Ainda que meu nome artístico antigo fosse mais forte, sentia que aquela identidade não estava mais alinhada comigo. Precisava seguir esse caminho”.

Ao refletir sobre a hiperssexualização do corpo feminino em campanhas publicitárias, ela contextualiza de forma complexa sua própria trajetória e o papel do corpo no imaginário social e nas dinâmicas de mercado. Estabelecendo uma ponte entre sua experiência profissional e a evolução das pautas femininas, reconhecendo tanto as demandas da publicidade quanto aos avanços na compreensão do feminismo e da representatividade. “O planeta está em evolução, e, junto com ele, cada ser humano. Assim também acontece com a maturidade natural de cada um”. No entanto, ela reconhece a importância de um corpo saudável e atlético como “inspiração para muitas pessoas”, posicionando-se como modelo de cuidado e dedicação. Essa perspectiva ressignifica a ideia de hiperssexualização ao deslocar a atenção para o esforço, o autocuidado e a saúde como valores associados à estética corporal, e não apenas à objetificação.

Aline Campos: O mundo mudou e a leitura sobre a mulher, também (Foto: Divulgação)

 

EMPREENDEDORA

Aline reflete uma fase de reinvenção profissional marcada por múltiplos projetos e pela conciliação de suas diversas paixões – arte, moda e bem estar – com uma abordagem que combina empreendedorismo, arte e propósito pessoal. Essa abordagem integradora reflete uma postura madura, em que ela busca alinhar seus projetos artísticos e empreendedores a um propósito mais amplo de vida, explorando as várias facetas de sua criatividade e comprometimento. Sua nova etapa é emblemática de uma postura contemporânea em que carreiras híbridas se consolidam como resposta a interesses diversos e a uma visão de vida mais ampla e integrada.

Sobre os projetos que atualmente ocupam o centro de sua vida, ela declara: Minha vida é fruto da minha escolha. A “Metamor”, hoje considero o trabalho do meu propósito. Criei o app para expandir algo que já fazia desde a pandemia: compartilhar as práticas que me ajudam a transformar minha saúde física, mental e espiritual. Esta é uma plataforma de bem-estar, dividida em corpo, alma e espírito. Não é um aplicativo de relacionamento, mas de desenvolvimento humano. Para o corpo, oferecemos treinos e atividades físicas. Há meditação, yoga e clube do livro, onde compartilhamos experiências e nos incentivamos mutuamente. Além disso, faremos um Réveillon, que será um pequeno retiro da Metamor em Visconde de Mauá (Resende/RJ), em conexão com a natureza. Lancei com meu namorado, Felipe Von Borstel uma marca de roupas masculinas chamada Von Three. Algumas peças serão unissex. O lançamento foi em Balneário Camboriú (SC). Em dezembro, ainda lanço minha marca de moda feminina e biquínis”.

Sua paixão pela moda, um sonho que precisou ser adiado em função de seu trabalho inicial na TV, também ocupa lugar de destaque nesse momento: É a realização de um sonho. Sempre gostei de criar minhas roupas. Quando não tinha dinheiro para comprar peças assinadas, transformava as que já tinha. Quem via sempre perguntava de onde eram. Durante a juventude, até fiz disso uma forma de renda, ajudando amigas a transformar looks. Mesmo sem ter concluído a faculdade de moda, agora estou finalmente fazendo acontecer. Eu desenhei, escolhi e acompanhei tudo, desde os croquis até as peças piloto”.

Apesar de sua expansão em novas áreas, Aline deixa claro que não pretende abandonar a carreira artística, mas sim conciliá-la com seus outros interesses: O que alimenta a minha alma é trabalhar com arte. Eu amo me apresentar. Não quero nunca deixar de ser atriz, de viver novas experiências nesse ramo. Então é algo que eu não quero que saia da minha vida, mas agora, nesse momento, eu considero que não consigo pensar em outra coisa que não seja os meus negócios e as campanhas publicitárias que se alinham com meu propósito. Mas quero quero ser atriz para o resto da vida”.

Sobre seu processo de curadoria de conteúdo para as redes sociais ela explica: Quando eu posto, penso, primeiro, no que quero comunicar. Não me prendo a um único tema porque sou muito plural. Gosto de compartilhar muitas coisas com as pessoas. Por um lado, isso é positivo, porque estou sendo eu mesma. Por outro, pode ser um desafio, porque as redes sociais gostam de segmentação, de nichos bem definidos. Ainda assim, o que compartilho nas redes sociais reflete o meu sentimento. Acredito que o principal é ter responsabilidade com o que falamos e postamos. Não dá para falar qualquer coisa sem pensar, especialmente com dez milhões de seguidores, incluindo crianças. Tenho um público muito heterogêneo, que vai desde a época do meu trabalho com Faustão à questão de espiritualidade propiciada pela Metamor”.

 

Aline Campos: “O que me move é o amor” (Foto: Reprodução)

Para sintetizar a essência de sua visão e o que a motiva, Aline afirma: O que me move é o amor. O amor por todas as coisas, o que me faz bem e o que pode fazer bem para os outros. Encontro na natureza um refúgio para os momentos de dificuldade e medo. A natureza é puro amor, abundância incondicional. A vida é uma experiência. Acredito que, para vivê-la plenamente, é preciso ser guiado pelo coração, pelo amor e pela paixão pela vida. Sem isso, ela perde o sentido”.

Uma mulher que constrói uma narrativa de vida e carreira que vai além das definições impostas pelas redes sociais ou pelos rótulos do passado. Sua trajetória reflete uma mulher em constante metamorfose, que abraça a pluralidade como força motriz e compartilha com autenticidade as muitas camadas de sua existência. Cada postagem, cada projeto e cada escolha é carregado de intenção e responsabilidade, traduzindo sua essência multifacetada e seu compromisso com o amor, a inspiração e o respeito ao outro. Em um mundo acelerado e segmentado, Aline representa uma voz que busca sentido, conexão e propósito — e, talvez, esse seja o maior legado que uma figura pública pode deixar.