*por Luísa Giraldo
Em tempos de crise política, a cultura prevalece e eterniza narrativas de sofrimento silenciadas. Assim ilustra a participação do ator Alexandre David na série “Rio Connection”, sucesso total. O ator deu vida ao detetive Batista, um chefe da polícia brasileira durante o período da Ditadura Militar. Com destaque na trama, o intérprete de Heraldo Batista se inspirou em um chefe de polícia da época, Sérgio Fleury (1933-1979), que atuou no DOPS de São Paulo, era conhecido por sua violência e foi apontado como principal responsável pela tentativa de captura e morte do guerrilheiro Carlos Mariguella. Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Alexandre relembra do processo de encarnação do personagem e abre o coração sobre a política do país.
“Ele crê que está fazendo um trabalho para o bem do Brasil, de patriotismo, lutando contra o comunismo e os traficantes de drogas da história. É um homem violento, frio, mata e tortura se for preciso. Se diz um patriota e também o maior obstáculo para os planos dos personagens principais”, afirma o ator, que marcou presença nos produtos audiovisuais “Cheias de Charme”, “Geração Brasil”, “Verão 90” e “Sob Pressão”, todos pela TV Globo e Globoplay.
Em “Rio Connection”, todos os atores falam na língua inglesa. Embora a mudança de idioma tenha causado certo desconforto em alguns artistas, Alexandre relembra que já participou de outros projetos bilíngues. Atualmente, o ator fala os idiomas português, inglês e francês.
Para este trabalho, Alexandre explica que estudou sobre o período da Ditadura Militar e se inspirou em uma figura conhecida época.
Li muito sobre a época da ditadura e sobre um chefe de polícia da época, Sérgio Fleury. Ele atuou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo durante a Ditadura Militar no Brasil. Ele era chamado de “Papa”, pois sempre se vestia de branco e as pessoas iam até ele para pedir favores. O livro “Autópsia do Medo”, de Percival de Souza, foi de grande utilidade por retratar a época e as práticas de interrogatórios utilizadas pela polícia à serviço da ditadura — Alexandre David
Segundo Alexandre David, as gravações do projeto começaram durante a pandemia da Covid-19, “no meio de toda loucura política que os brasileiros estavam vivendo”. Apesar de interpretar um personagem que trabalhava a favor da ditadura, ele entende que o encontro com pessoas que defendem os crimes, horrores e censuras cometidas pelos militares na época é comum atualmente.
“O detetive Batista é um personagem recorrente. A gente descobriu [após a pandemia] que eles existem e que estão por aí. Ele pode ser um vizinho e estar neste prédio ou, até mesmo, estar ao lado das bandeiras que a gente vê com o patriotismo. Como personagem de ficção em uma série, ele pode partir para ação. Pelo poder que tem, Batista pode fazer o que quiser: matar, torturar e prender”, concluí.
Ainda no tópico, o avalia a experiência de viver Batista como ”bacana”, já que ela foi uma oportunidade para que entendesse “onde e de que maneira surgiu esse pensamento nos anos 70”. Além dos trabalhos na televisão, Alexandre David está, atualmente, a frente da coordenação artística do teatro Glaucio Gill, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Rio Connection: uma série na língua inglesa
“Estou acostumado a atuar em outras línguas. Já trabalhei e morei em Paris, onde fiz teatro na língua francesa. Fiz cinema e estudei em Londres. Falo inglês desde garoto, graças à minha vó que pagava o curso pra mim e achava importante falar uma língua estrangeira. Mas também me preparei para a série, fiz aulas de pronúncia com uma amiga, professora americana que fala português, Lee Weingast. O Mauro Lima (diretor da série) e o Thiago Felix (preparador de elenco) estiveram ao nosso lado em todos os momentos das gravações e isso foi de suma importância, eles nos ajudaram nas preparações, nos aquecimentos e a achar o tom do personagens, tudo isso sempre em inglês”.
O ator mineiro recorda dos estudos no campo do teatro fora do país. “Minha primeira peça foi em 1985, num grupo amador de Juiz de Fora, depois vim para o Rio em 1987 pra me profisisonalizar. Me formei na Faculdade da Cidade com a Bia Lessa em 1990 e nunca mais parei. Estudei também em Paris, no Conservatoie National Superieur d’Art Dramatique de Paris, e fiz o Bacharelado e Pós-Graduação em direção na Faculdade CAL”.
O intérprete também participou da atual temporada da série “Impuros”, disponível no Star+. “O mais legal é que, na história, faço mais um personagem ligado a polícia! Delegado Álvaro é um velho amigo do personagem Vítor Morello, vivido pelo Rui Ricardo Diaz. Os diretores Tomás Portella e René Sampaio disseram que ele é o total contraponto do Morello, pois o Àlvaro é um policial mais humanizado e apaziguador. Ele ajuda o Vítor a resolver um caso de falso sequestro na história”, identifica.
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