Alessandro Marson, co-autor de “Elas por Elas”, antecipa os desafios da adaptação, os pontos de modernidade e perfil da trama


Junto com Thereza Falcão, Alessandro Marson é um dos adaptadores de “Elas por Elas”, nova novela das 18h. O autor, nesta entrevista, conta-nos sobre o processo criativo e a divisão de tarefas entre ele e a co-autora e os colaboradores. Além disso, pontua quais são os grandes desafios da adaptação de um clássico como esta novela, bem como trazer aos dias contemporâneos problemas que eram de mais complexa resolução em 1982 e que hoje não se aplicariam, como a troca intencional de bebês em razão do gênero de nascimento – o que era um dos plots da trama original

*por Vítor Antunes

Segunda-feira estreia “Elas por “Elas”, novela de Cassiano Gabus Mendes (1929-1993) que será atualizada por Alessandro Marson e Thereza Falcão. Em entrevista ao Site HT, Alessandro apresenta algumas das escolhas dele com Thereza e que nortearam o novo tratamento da trama, além dos desafios que remontar uma novela clássica trazem: “É uma grande ousadia, mas a gente acredita em ousadias. Vivemos dos desafios. Fazer uma novela implica em dedicar dois, três anos  de um trabalho muito intenso. Se não for desafiador, se não acreditarmos, não faz muito sentido dedicar a vida a fazer isso. Esse sentimento à toda prova é o que faz com que a obra seja quente. A gente pode errar, claro, pode acertar muito. E esse fio da navalha faz o projeto tornar-se pulsante”. Indicado ao Emmy pela soturna “Nos Tempos do Imperador“, Marson afirma que a nova trama terá outro ritmo. “A forma como a novela é encenada é quase teatral, não terá muita edição, além de três câmeras que gravam e aquilo que é gravado é levado ao ar. Acho que comédia se faz assim. E essa menor quantidade de edições vai dar ritmo à novela, que vai ser uma trama basicamente de estúdio”.

Entre as novidades e o tempero da assinatura da dupla Marson-Falcão, estarão a forma da abordagem da troca de bebês, a transformação da personagem Carmem (Maria Helena Dias, em 1982) – uma mulher cis –  em Renée (Maria Clara Spinelli, em 2023), uma mulher trans, além de trazer um núcleo importante de atores pretos. Sobre essas mudanças, Alessandro diz que “hoje, seria impossível manter a troca dos bebês como foi feita anteriormente, porque hoje as pessoas sabem o sexo do filho muito antes de ele nascer. Mudamos essa história, e eu acho que ficou bem bacana. Vai manter esse elemento melodramático da primeira versão. E quando a gente começou a pensar em atualizar essa história, vimos com a ideia de que uma dessas mulheres fosse trans. Vendo-lhes os perfis acabamos elegendo a Carmem/Renée para fazer esse papel”.

Quando a gente faz um personagem-bandeira, alguém que seja gay, trans, negro, oriental, e se ele só tem essa militância como conflito fica algo muito chato. Parece que a vida dele é só isso. A gente queria uma mulher trans, mas essa condição não é o único problema da vida dela. Ela é uma mulher casada, ela tem filhos, questões afetivas, questões profissionais. Com isso ela se torna uma personagem humana – Alessandro Marson

Alessandro Marson é um dos autores da nova versão de “Elas por Elas” (Foto: Divulgação/Globo)

CLÁSSICO

Exibida em 1982 originalmente, “Elas por Elas” tornou-se um clássico de Cassiano Gabus Mendes e uma trama que apostava muito na comédia, ainda que tivesse alguns elementos no melodrama. Segundo o co-autor Alessandro Marson, “Novela é obra viva. O que eu vejo é que a primeira versão estreou com a proposta de fazer três eixos narrativos, três eixos dramáticos: Um de comédia, outro de melodrama  e outro de suspense. A gente preservou esses três eixos, mas constatamos que, na primeira versão a trama do Mário Fofoca foi ficando tão forte que acabou dominando tudo e em alguns momentos ele foi se sobrepondo às outras. A nova versão não é uma comédia escrachada mas o humor a atravessa transversalmente”.

A forma como estamos contando a história é bem humorada. Acho que mais do que a comédia, é uma forma de ver o mundo. Mesmo quando a coisa pesa um pouquinho pro melodrama ou pro suspense, eu acho que a comédia tá ali, na forma como ela e executada – Alessandro Marson

A produção desta equipe grande que escreve a novela, conta-nos Marson, funciona da seguinte maneira: “A gente se reúne todos os dias, escaleta  – ou seja resume – o capítulo inteiro e passa este aos colaboradores, que o devolvem  já com os diálogos escritos e nós fazemos a redação final. Então, se pensarmos que a semana tem sete dias, temos que entregar seis capítulos por semana. A coisa não para. Quando a gente não tá escaletando, estamos fazendo a redação final, ou resolvendo demandas de produção – já que nem todos os cenários estão disponíveis a todo tempo ou serão montado naquele dia. Por vezes a gravação de interna vira externa naquele dia. São vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana pensando na novela e durante um bom tempo”.

Sobre o ritmo da trama, diferente da sua última, “Nos Tempos do Imperador“, será mais ligeira “desde a direção até a a encenação. Tudo está levando pra um ritmo mais ágil. Primeiro por haver o fator comédia que que perpassa a novela toda. Além disto, as cenas cortam de casa pra casa, de sala pra quarto, de pra escritório. Não vai ser uma novela de muitas externas. Diferente de “Novo Mundo“, escrita por mim e Thereza e que era uma novela de aventura, com piratas, navios…. Diferente também de “Nos Tempos do Imperador“, que ainda teve uma pandemia. A atual é uma novela de cotidiano, de ator, não tem grandes cenários, grandes eventos”, compara.

Alessandro Marson e Thereza Falcão são os autores de “Elas por Elas”, “Novo Mundo” e “Nos tempos do Imperador” (Foto: Divulgação/Globo)