*por Vítor Antunes
Recentemente, pela primeira vez, uma pessoa em situação de refúgio foi contemplada com uma medalha olímpica. Não raro, elas se encontram em países que não são os seus, tendo que se adaptar a uma realidade nova. Ainda que a Olimpíada tenha revelado uma realidade amistosa, esse nem sempre é o quadro presente, e é preciso muita empatia para se trabalhar em cima dessa realidade. É o que conta Aisha Moura, atriz de Família é Tudo, que trabalhou num centro de acolhimento a refugiados no Rio e concilia as atividades da novela com um projeto em uma escola pública que acolhe alunos refugiados venezuelanos, ajudando-os a aprender português e se integrar. “Meu trabalho com pessoas em situação de refúgio foi desde o início uma experiência extremamente enriquecedora e que causou diversos impactos na minha vida. Tenho a certeza de que estou fazendo algo com um impacto positivo para outras pessoas, famílias e definitivamente também para a sociedade como um todo. E isso aprimorou meu olhar para o outro, para outras culturas, para os conflitos que estão acontecendo hoje ao redor do planeta e a individualidade de tantas pessoas. É uma experiência que carrego para a vida e que tenho muita vontade de continuar desenvolvendo, especialmente quando se trata de crianças refugiadas”.
Para além do brilho da atriz, que vem despontando na trama, muito vem sendo falado sobre a vida pessoal da atriz — aliás, coisa ultrapassada essa sobre suposições relacionadas à vida afetiva dos artistas… — mas, de tanto se falar sobre isso, perguntamos a Aisha se de fato ela e seu colega de elenco Isacque Lopes, o Plutão da novela, estão namorando. “Eu e Isacque já nos conhecíamos antes da novela, mas só superficialmente. Através do trabalho e das gravações, naturalmente nos aproximamos e aprofundamos essa amizade e relação. Criamos juntos uma relação próxima dentro e fora das gravações, mas não, por enquanto estamos ambos solteiros.” Sobre a exposição que advém do trabalho na TV, ela afirma vir “lidando bem e divertindo-se com as consequências dessa exposição. Gosto quando me param na rua para falar da novela, quando me reconhecem e pedem foto, quando opinam na trama e elogiam meu trabalho. Isso vem acontecendo com bastante frequência e é muito legal ver o trabalho sendo reconhecido desta forma e alcançando tanta gente”.
SONHO ANCESTRAL
Família é Tudo, bem como as últimas novelas da faixa na Globo, têm priorizado os seus elencos pretos, o que era muito incomum até bem pouco tempo atrás. É algo que Aisha celebra. “É poder viver na pele o que meus antepassados lutaram para que acontecesse. Uma vez uma amiga me disse que sou ‘sonho ancestral’. Achei isso lindo e carrego para a vida. É poder finalmente usufruir dos direitos e do espaço que sei que meu avô, por exemplo, lutou para que eu hoje pudesse ocupar. Ou seja, isso é extremamente simbólico, importante e potente. Olhar em volta no ambiente de trabalho e ver tantas pessoas pretas compondo este elenco e ocupando posições de protagonismo carrega uma simbologia enorme, que merece ser pontuada e reverenciada. É importante que esse tipo de cenário se repita e expanda mais e mais, e fico imensamente feliz em fazer parte dessa história”.
O ritmo de gravações, a intensidade e a forma de fazer novela são o grande diferencial de Família é Tudo. “Tenho aproveitado cada parte dessa experiência ao máximo, pessoal e profissionalmente. Por ser meu personagem de maior destaque até agora, isso faz com que exista esse ponto que diferencia Família é Tudo de outras novelas em muitos aspectos para mim. O ritmo de gravações é mais agitado, a convivência com o elenco e equipe mais profunda, a possibilidade de aprofundamento do personagem maior e o reconhecimento do público muito mais visível. Para mim, tudo isso é fonte de alegria e animação, me fazendo querer ainda mais. Acho que Família é Tudo, por ser uma novela leve e divertida, transparece essa atmosfera na frente e por trás das câmeras, fazendo com que o ambiente de trabalho seja muito proveitoso.”
E ela prossegue: “Eu acho fascinante observar de perto como funciona uma mega-produção como uma novela. Poder acompanhar e entender o que é necessário para que as engrenagens não parem. Ter dimensão de quantas pessoas trabalhando em conjunto e quanto investimento é destinado a um único projeto. O ritmo é bastante intenso, por conta da rapidez com que tudo acontece, os novos capítulos, as gravações e as cenas indo ao ar. O ritmo todo de trabalho, de pré e pós-produção é muito diferente, além do tempo de envolvimento com um mesmo projeto e equipe. E o fato de ser uma obra aberta é muito especial, tudo pode acontecer, e no meu caso, isso foi ótimo, a aprovação do público e feedback positivo sobre meu trabalho e minha personagem fizeram com que minha trama crescesse, e viver essa experiência tem sido maravilhoso.”
DIE SCHAUSPIELERIN
O ano de 2024, segundo Aisha, será dedicado à novela, já que ela sempre teve que conciliar a profissão de atriz com os trabalhos de sua formação, como formada em Relações Internacionais. “Este ano, pelo ritmo intenso de trabalho e gravações, venho me dedicando quase que inteiramente à novela, fazendo com que esse seja meu maior projeto do ano. Para depois da novela, pretendo seguir me dedicando à carreira, fazendo testes para novos papéis. Também quero me reconectar mais com os projetos sociais aos quais sou ligada, e quero viajar para visitar meu pai e amigos na Alemanha, aproveitando para tirar uma folga.”
Filha de pai alemão com mãe brasileira, ela conta como foi a sua infância na Alemanha e suas conexões com o país europeu. “Como vim para o Brasil muito pequena, minhas memórias de infância na Alemanha são muito das férias que passava lá. Só tenho memórias boas e positivas desses momentos e mantive ligações fortes com a Alemanha, e uma sensação de pertencimento. Toda minha família por parte de pai mora lá e, desde os meus 10 anos, meu pai também, apesar de vir muito para o Brasil. Passei a praticar mais meu alemão, manter mais contato com a família e, em 2021, fui fazer intercâmbio em Berlim. As experiências e vivências particulares que tenho sendo metade brasileira, metade alemã se dão diante do número enorme de imigrantes de diversas partes do mundo já vivendo na Alemanha há gerações, o que obviamente impacta em muita coisa.”
Cada vez menos haverá um biotipo “clássico alemão”. A luta contra o racismo, xenofobia e preconceito deve ser um esforço diário na sociedade de qualquer país do mundo – Aisha Moura
Diante de mulheres e personalidades fortes, Aisha destaca quem são aquelas que a inspiram. “Minhas maiores referências de mulheres são minha mãe e minha avó. Elas sempre me ensinaram e seguem me ensinando sobre ser feliz, ver beleza na vida, nossa potência, nossos direitos e a possibilidade de ocupar os espaços que eu quiser e nós quisermos. Minha mãe e minha avó são mulheres absolutamente inspiradoras, por inteiro, e não só para mim. Tenho elas como referência para a vida toda. Venho de uma família dominada por mulheres, e todas elas me acompanham e ajudam, sendo referência de presente, passado e futuro. Quanto às pessoas públicas, tenho muitas referências e personalidades que servem como modelo para mim. Primeiramente, minha ídola indiscutível, Beyoncé. Ela é minha grande referência como mulher, artista, pessoa. Taís Araújo, Michelle Obama, Malala, Graça Machel, Viola Davis, Marielle Franco (1979-2017) são outras referências que levo comigo sempre.”
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