*Por Brunna Condini
Adriana Esteves estará de volta ao audiovisual a partir desta quarta-feira (31), quando ‘Os Outros’, série de Lucas Paraizo, com direção de Luisa Lima estreia no Globoplay. A trama fala das relações humanas, explorando muitas das sombras que vamos tentando encobrir socialmente, mas aparecem com tudo na intolerância e na dificuldade de diálogo da convivência. Adriana faz Cibele, uma mãe disposta a tudo para proteger o filho. “Ela tem a minha idade, com um filho da idade dos meus, tenho uma grande identificação com a série. Acho que a maior qualidade dessa personagem é o amor que sente pelo filho e pelo marido, e o maior defeito é que pensa muito pouco nos outros, nos demais”, observa a atriz, acrescentando: “A Cibele é meu novo amor. Acho que essa é uma história que vai bater nas pessoas de formas diferentes, cada um vai ver no ‘outro’ o que tem dentro de si. Também fala desta relação de pais e filhos”.
O título da produção faz referência à frase “o inferno são os outros”, do filósofo francês Jean-Paul Sartre, que fala da necessidade humana de se relacionar com outros para compreender a si mesmo, coisa nem sempre tão simples, principalmente se observarmos as relações humanas na atualidade.
Não acho que o ‘inferno’ são só os outros. Ele pode estar dentro de nós também. Sei que eu também posso ser intolerante, então procuro ter cuidado para não responder da mesma forma ou em um tom maior. Fiquei mais paciente com o passar dos anos, com a maturidade, fazendo bastante análise. Fui entendendo melhor os outros – Adriana Esteves
Aos 53 anos, com 30 de carreira, participação em 35 filmes, e quase 40 produções entre séries e novelas, em papéis memoráveis como o da potente Catarina de ‘O Cravo e a Rosa’ (2000) e a icônica vilã Carminha em ‘Avenida Brasil’ (2012), a atriz não gosta de pensar na trajetória como algo em evolução: “Vivo o hoje, e ele traz esse caminho que já percorri, tem o amadurecimento, da mulher, da atriz, o crescimento. Tenho orgulho da minha história”.
Adriana foi vista pela última vez em um folhetim, gênero que a consagrou, em ‘Amor de Mãe’ (2019-2021), e comenta sobre seu retorno às telenovelas. “Estou muito apaixonada pelas séries, se eu pudesse faria uma atrás da outra. São produções muito similares ao nosso cinema, estou amando. Mas quero voltar a fazer novela também. Não estou me despedindo, só me despeço do que for ruim, e as telenovelas vêm me dando muita alegria na vida”, garante.
A série e a composição
Histórias de intolerância e enfrentamento sem limite entre vizinhos, são assuntos tratados nos 12 episódios da nova série, que é ambientada entre os personagens que vivem em um condomínio de classe média na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Fora da ficção, discreta como de costume, ela conta se teve alguma inspiração para o papel em situações que tenha passado na vida. “Eu já passei por muitas coisas, em vários lugares diferentes, desde pequena. As histórias que não são muito boas, não temos vontade de contar, né? Mas elas ficam aqui guardadinhas, para lembrarmos, e termos a responsabilidade de contar uma série como essa. Tenho inspirações reais, de coisas que aconteceram comigo, com meus amigos, da minha observação sobre o mundo. Mas esse é o meu material para trabalhar. O que posso dizer é que conferindo a série, vocês vão ver tudo. O que a Cibele acredita, o que está denunciando. Os personagens da história são uma espécie de amostra da sociedade, tem de tudo, dentro de um mundo diverso”.
E também compartilha o processo de construção de suas personagens. “Vou digerindo, pensando, lembrando as situações da vida, sendo dirigida, prestando a atenção nos meus colegas, vou nesse artesanato até que a obra fica pronta. Quando a gente olha o trabalho feito parece até um milagre, mas não, é o produto final do trabalho de muitos profissionais bons juntos. Como neste trabalho, que topei por tantos fatores. Primeiro o convite da Luísa Lima, que é uma grande diretora, e o texto do Lucas Paraizo, um ótimo autor, e fora isso, ando muito apaixonada pelas séries brasileiras, muito mesmo. Quando conheci o texto de ‘Os Outros’, me identifiquei com todas as personagens, são histórias próximas ou que fazem parte da minha vida, são conflitos comuns”, avalia.
Sendo vizinha
Adriana revela ainda uma curiosidade: o tipo de vizinha que é. “Sou cuidadosa, atenciosa e muito calma. Respeito o espaço do outro, mas se qualquer pessoa precisar de mim, estou ali. Só não invado, sabe? Tenho essa coisa de pedir algo emprestado ou um favor para vizinho e para os funcionários do prédio. Outro dia mesmo queria abrir uma lata de refrigerante e arrebentei aquele lacre. Liguei pro seu Jorge lá embaixo e ele me ajudou, precisamos uns dos outros. Essa série nos lembra disso o tempo todo”, diz.
Mãe de Felipe Ricca, 22 anos, do seu casamento com o também ator Marco Ricca; de Agnes Brichta, 25, fruto do primeiro casamento do marido Vladimir Brichta com Gena Karla Ribeiro, que partiu em 1999; e de Vicente, de 16, da sua união Vladimir, ela também fala de uma das regras de convivência que estabelece em casa: “Temos uma regrinha, meus filhos cantam tocam, mas deu 22h, acabou. Não tem negociação. É um limite de respeito, pode ter certeza que nunca vão reclamar de barulho da minha casa fora do horário permitido. A não ser que eu viaje e eles façam na minha ausência”.
A série
Além da atriz, estão no elenco de ‘Os Outros’ Thomás Aquino, Maeve Jinkings, Milhem Cortaz, Eduardo Sterblitch, Drica Moraes, Antonio Haddad, Paulo Mendes e Gi Fernandes. E apesar da densidade dos conflitos e das relações, a atriz afirma que a produção também mistura momentos de mais leveza em seus episódios. “Tem humor também, como na vida. A personagem da Drica Moraes (a síndica Dona Lúcia) tem muitos momentos assim…mas posso dizer que gosto do drama, tenho uma identificação forte (risos)”.
A série começa com uma briga entre dois adolescentes na quadra de futebol de um condomínio, o Barra Diamond. Cibele (Adriana) e o marido Amâncio (Thomás Aquino) são os pais de um dos garotos e se encontram com os pais do outro, Mila (Maeve Jinkings) e Wando (Milhem Cortaz), para resolverem a questão, mas deste ponto, tudo só piora. “Minha personagem faz tudo o que faz achando que é o melhor, mas não dá certo. Essa série evidencia muito o quanto todos nós precisamos do próximo. Mesmo quando existem rixas, conflitos no meio”.
Assista o trailer da série:
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