Adriana Esteves: “Ainda me chamam de Carminha e eu aceito. A personagem aumentou minha autoestima de atriz”

Estrela da televisão, onde a mais recente novela foi Amor de Mãe, exibida até abril, Adriana Esteves vai estar em dose dupla nos cinemas neste final de ano. Além de Medida Provisória, dirigido por Lázaro Ramos, que estreia ainda este mês, ela está em cartaz com o filme Marighella. No longa-metragem dirigido por Wagner Moura ela interpreta Clara Charf, mulher do líder comunista, Carlos Marighella (1911-1969), – vivido nas telas por Seu Jorge – que, assim como o marido, após o golpe militar de 1964, teve os direitos políticos cassados. “Eu conversei com ela, que está com 96 anos. O Wagner me levou na casa da Clara. Ele me deu esse presente de conhecer essa mulher tão maravilhosa e importante para a história do nosso país. Viúva do Marighella, ela mantém a história do marido viva. Tenho certeza de que minha participação foi feita com muito amor, porque o amor que eu vi essa mulher realmente sentir por esse homem até hoje, parecia que a qualquer minuto ele ia bater na porta e entrar”, comentou a atriz em entrevista no programa Altas Horas.

Com bom humor, Adriana relembrou como surgiu a oportunidade de interpretar a personagem, que após a Lei da Anistia, retornou ao Brasil em 1979, depois de anos refugiada em Cuba. “Eu não aceitei o convite do Wagner, aí ele me obrigou (risos). Nós somos muito amigos, temos o nosso grupo, nossa família de amigos. Aí um dia ele telefonou e falou: ‘Drink, que é como ele me chama, queria te convidar para fazer o meu filme. Pensei que fosse uma brincadeira, uma participaçãozinha. Aí ele me convidou para fazer uma personagem muito importante, fiquei nervosa, tive medo. Mas ele conseguiu me convencer e eu fico feliz de ter aceito, de ter tido coragem de ter entrado para essa trupe. Estou orgulhosa do filme”, enfatizou ela sobre o longa filmado em 2017, e lançado no Festival de Berlim, no início de 2019. Marighella é inspirado em biografia homônima escrita pelo jornalista Mário Magalhães.

No programa Altas Horas, Adriana exalta o filme Marighella, em cartaz nos cinemas (Foto: Globo/Divulgação)

E ganhou enorme elogio de Wagner que estava participando também do programa. “Adriana é uma das maiores atrizes do Brasil. Ela foi de uma generosidade grande no Marighella, ela é a luz no filme”, apontou o ator e diretor, cujo primeiro protagonista que interpretou em novelas, foi em A Lua Me Disse, em 2005, ao lado de Adriana, lembrando que na ocasião, ele, novato, fez testes ao lado de 30 atores famosos da Globo.

Wagner Moura e Adriana Esteves em cena de A Lua Me Disse, primeira novela protagonizada por ele (Foto: TV Globo/João Miguel Junior)

No decorrer do Altas Horas, o apresentador lembrou que o sogro de Adriana, o professor universitário e geólogo Arno Brichta, esteve certa vez no programa falando de situações que de alguma maneira o filme retrata. “Se não me engano quando veio aqui com o meu filho Vicente (ela é mãe ainda de Felipe, do casamento anterior com o ator Marco Ricca), era dia dos professores e ele até foi homenageado. Ele passou momentos difíceis na época da ditadura”, lembrou. Segundo o próprio contou, um dos motivos dele ter sido preso foi falar o que pensa sobre temas como defesa do meio ambiente, respeito ao próximo e direito de expressão.

Ainda durante o programa, Adriana afirmou que não sabe de quantas novelas já participou. Assim, pouco depois, Serginho Groisman citou nominalmente seus trabalhos, como Top Model, Meu Bem, Meu Mal, Pedra Sobre Pedra, A Indomada, O Cravo e A Rosa, Kubanacan, Senhora do Destino, A Lua Me Disse, Babilônia, Segundo Sol e Amor de Mãe, enfatizando a Carminha de Avenida Brasil. “Eu acho que é a personagem que mais lembram de mim sim. Nas ruas, ainda me chamam de Carminha e eu aceito, tudo bem. Virou meu segundo nome no Brasil e no exterior também, porque essa novela foi exibida em diversos países por aí e só me deu alegria. Costumo me sentir muito bem em todas as personagens que faço. Por um segundo, eu me aproprio e aquela vida parece que é minha. Dá muito prazer viver todas essas vidas sabendo que eu tenho o refúgio da minha vida que eu gosto muito. Às vezes, fico lembrando e fico sem graça, porque durante alguns meses depois da novela, ainda estava meio que me comportando como ela. A Carminha foi a personagem que mais me surpreendeu. Um ano de novela com uma personagem tão forte, tão bem escrita. Sem dúvida nenhuma ela aumentou a minha autoestima de atriz”, acrescentou a mulher do ator Vladimir Brichta.

Adriana Esteves caracterizada como Carminha, de Avenida Brasil (Foto: Globo/Alex Carvalho)

Ela lembrou que sua primeira aparição foi em Vale Tudo. “Foi uma figuração bem de luxo em uma cena da Glorinha Pires”, ressaltou ela, que por Thelma em Amor de Mãe, está concorrendo como Melhor Atriz, nos Melhores do Ano do Domingão, com Regina Casé, Mariana Ximenes, Gabriela Medvedovski e Taís Araújo. Adriana ainda não tem nenhum trabalho previsto na Globo. Amor de Mãe, teve as gravações interrompidas no início da pandemia, sendo retomada posteriormente. “Infelizmente, a pandemia foi se agravando, o número de mortos crescendo vertiginosamente. Eu passei a ter tanta ansiedade que duvidava do futuro, tinha medo do que viria. Tive que cuidar de mim mesma três vezes mais do que o normal, senão seria soterrada pela angústia, a preocupação e os cuidados com meus filhos e meus pais”, declarou ela, recentemente à revista Claudia.

Amor de Mãe, onde interpretou Thelma, foi a mais recente aparição de Adriana em novelas (Foto: Globo/João Cotta)

O programa repetiu cenas da personagem Carminha, em que ela gritava “inferno” e soltava uma sonora gargalhada, o que fez a atriz ganhar mais um rasgado elogio de Wagner. “O que é esse grito no final, que extraordinário. Adriana soltou o freio de mão de um jeito que é muito raro ver um ator fazendo”, atestou o ator. Após cerca de um ano e oito meses desde o início da pandemia, Adriana se despediu dizendo que estar ali presencialmente, depois de tudo que passaram, representava “um dos dias mais felizes de sua vida”. Recentemente, ao lado de Christiane Torloni e Gloria Pires, Adriana gravou o especial 70 Anos Esta Noite, criado para celebrar as sete décadas das telenovelas no Brasil.