‘Acho desserviço quando você contrai o Covid-19 e posta vídeo malhando, como se fosse bobeira’, diz Juliana Silveira

*Por Simone Gondim

No Brasil e no mundo, a pandemia de Covid-19 impôs mudanças de rotina dentro e fora dos lares. Na casa de Juliana Silveira não foi diferente. Ela está sem trabalhar; o marido, João Vergara, faz home office; o filho Bento, de 8 anos, não vai para a escola, passou a ter aulas online; e até o cachorro, o shih-tzu Barry, deixou de passear. “Antes de tudo estourar, muito na intuição, dispensei minha funcionária e passei a ficar em casa. A ficha caiu logo, no sentido de que era sério mesmo. Em um curto espaço de tempo, que pegou todo mundo de surpresa, a gente teve que se adaptar, tomar decisões de forma rápida e mudar a dinâmica da família”, conta a atriz. “Tenho uma amiga próxima que foi diagnosticada com coronavírus e está se recuperando em casa. Falo com ela todos os dias. O marido e o filho também pegaram, mas estão assintomáticos”, acrescenta.

Enquanto respeita o isolamento social, Juliana confessa que fica incomodada ao ver, nas redes sociais, pessoas que testaram positivo para Covid-19 e passam uma imagem de normalidade, fazendo atividades corriqueiras. “Fico feliz por elas, mas ao mesmo tempo apreensiva, porque sei que tem gente que não vai ficar bem. Pode ser simples para você, se der sorte, mas para o seu amigo, um vizinho ou alguém da família pode ser bem mais complicado”, afirma. “Acho um desserviço quando você tem coronavírus, está muito bem e posta vídeos malhando e cozinhando, como se fosse uma bobeira”, completa.

“Brinco dizendo que estou do lar, efetivamente”, diz Juliana Silveira (Foto: Dêssa Pires)

A atriz não esconde sua preocupação com a pandemia, mas evita acompanhar o ritmo frenético do noticiário. “Fico muito preocupada, mas estamos todos fazendo a nossa parte como cidadãos, respeitando as regras e a quarentena. Leio jornal pela manhã, online, e escolho ver um jornal da televisão, normalmente à noite. Não estamos presos a notícias de minuto a minuto para não ficarmos ansiosos e isso vai causar depressão”, pondera. As tarefas domésticas também tomam parte do dia. “Brinco dizendo que estou do lar, efetivamente, porque faço coisas que não eram da minha rotina, como lavar e passar. Trabalho desde os 13 anos, sempre tive estrutura – primeiro quando morava com a minha mãe, depois na minha casa”, revela.

Juliana reconhece, entretanto, que ser privada de sair não é fácil. “Dá agonia. Você abre a janela e vê um dia lindo, mas não pode pensar que colocar uma máscara é suficiente para ir lá fora. Posso trazer o vírus no tênis, por mais que eu higienize”, garante. Em relação a Bento, ela fica tranquila: o filho não tem a menor vontade de deixar o apartamento da família. “Normalmente, precisamos arrastá-lo para a rua. Com o pai e a mãe em casa 24 horas, um cachorro que ele ama e comida, porque Bento é comilão, está tudo certo”, diverte-se a mãe coruja. “Liberei o videogame, mas com parcimônia, só pode jogar depois que termina os deveres da escola. Bento também dá uns pulos pela sala e brinca de correr com o cachorro”, observa.

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Enquanto os sogros de Juliana respeitam bem a quarentena, os pais dela, que têm 69 anos e moram em Praia Grande, em São Paulo, deixam a filha um tanto ou quanto receosa. “Eles são um pouquinho rebeldes, a gente tem que dar uma seguradinha. Os dois foram liberados do trabalho, mas de vez em quando saem de casa. Não para passear, mas para ir ao banco ou na padaria. Já falei para pararem com isso. Ao menos, eles entenderam a gravidade da situação”, diz ela.

Se, do ponto de vista pessoal, as mudanças vieram fortes, o baque na vida profissional foi mais suave, muito por conta de uma decisão tomada há dois anos: na época, Juliana resolveu que não queria mais contratos longos e rompeu com a Record. De lá para cá, a atriz viveu muitas das angústias relatadas por pessoas durante a pausa forçada provocada pela pandemia, como a preocupação com o trabalho e a questão financeira. “Fiquei doente, tratei da coluna, tive pedra no rim. Isso tudo, para mim, passou. Minha questão, agora, é cuidar da minha saúde e da saúde do meu marido, do meu filho e das pessoas que eu amo. Medito de manhã e à noite com um aplicativo – tenho dois no meu celular que são ótimos, o Positive App e o Lojong. Eles são gratuitos e de meditação guiada, que é mais fácil para iniciantes. Também faço aulas online de yoga e um treino físico de 20 minutos, com o qual dá para suar bastante”, descreve.

“Você abre a janela e vê um dia lindo, mas não pode pensar que colocar uma máscara é suficiente para ir lá fora”, pondera Juliana (Foto: Dêssa Pires)

Para 2020, Juliana tem dois projetos que sairão do papel em algum momento: as gravações da segunda temporada da série “Matches”, inicialmente previstas para julho, agosto e setembro, na qual ela interpreta a protagonista Lara, e ações para comemorar os 15 anos da novela “Floribella”, um dos grandes sucessos da sua carreira. “Tem que ter calma mesmo, não há muito o que fazer. Para a turnê com as músicas de “Floribella”, por exemplo, precisamos dos direitos autorais das canções, e essa negociação está parada por causa da pandemia. No caso de “Matches”, a Warner já tinha aprovado a temporada e os autores estavam escrevendo desde o ano passado, mas não tem como gravar agora”, explica.

Com 40 anos completados em março, Juliana não perdeu o lado jovial. “Não mudei em nada. Algumas vezes, fico pensando: será que estou ridícula? Vejo um TikTok (aplicativo que permite gravar vídeos curtos, geralmente com dublagens musicais ou danças) do meu filho e quero fazer a coreografia. Não estou nem aí”, admite. “Não me sinto uma senhora e acho muito gostoso estar jovem, com saúde. A vida vai ficando mais simples e mais fácil, sem tanto conflito desnecessário. Você faz suas escolhas e fica em paz, tem menos questões emocionais”, ressalta.

De acordo com a atriz, lidar bem com a própria imagem é outro ponto a favor da nova idade. “Cuido da estética porque trabalho em televisão. Mas fiz a personagem em ‘Matches’ um pouco mais cheinha e estou me achando linda no vídeo. Atriz não tem que ter corpo de modelo. Uso manequim 38 e meu corpo é assim: não tenho peito, tenho quadril e bumbum. Durante anos fiz dieta para vestir 36 e me encaixar em um padrão. Hoje, pergunto: por quê? Não sinto mais vergonha nem caio nessas armadilhas, faço o que acho necessário. Minha barriga não tem 80 gomos. Vou à dermatologista duas vezes por ano, sou vaidosa com a pele”, assume.