*Por Rafael Moura
Com uma visita guiada pelo Museu da República, no Catete, que serviu de locação, o elenco e a equipe de ‘Filhos da Pátria‘ comemoraram a chegada da segunda temporada que estreia dia 8 de outubro. Bruno Mazzeo, autor e criador da série, desta vez, leva a família Bulhosa para o início da década de 1930. Apesar de desembarcarem um século à frente – a primeira temporada se passava em 1822 -, os Bulhosa mantêm seus hábitos e costumes característicos do clã integrado pelo pai Geraldo (Alexandre Nero), a mãe Maria Teresa (Fernanda Torres), o filho Geraldinho (Johnny Massaro) e a filha Catarina (Lara Tremouroux). Cada um vai interagir nessa nova conjuntura política, social e econômica do país. “Eu sou muito a favor do humor quando tem um olhar crítico sobre a sociedade e seus costumes. Uma das maneiras mais bonitas de se fazer comédia é quando você consegue que a piada/sátira seja parte integrante do debate da sociedade. É isso que propõe ‘Filhos da Pátria’: falar da nossa história, do brasileiro e de hábitos tão arraigados e repetitivos”, explica o autor.
Mazzeo acredita que a inovação nesse tipo de dramaturgia é a proposta da sinergia de diferentes épocas. “A ideia da série é mostrar que o Brasil está sempre recomeçando, um ‘agora, vai’. Sempre está acontecendo algo que parece que vai dar certo e, de repente, volta tudo à estaca zero”. Perguntamos ao criador qual a inteção de pular do período da Independência do Brasil, retratado na primeira temporada, para os anos 30. “É uma época muito rica: o surgimento do rádio, o carnaval efervescendo. Era preciso pegar estes fatores tão importantes, que não dependem de um conhecimento político, e abordar as questões da Era Vargas. Quem não conhece a história política vai entender a série do mesmo jeito”.
Alexandre Nero, que vive o patriarca dessa família, conta que “Geraldo é um sujeito vaidoso, que fica enfeitiçado pelo pequeno poder. Coisa que acontece muito no Brasil. É o cara que cumpre ordens sem questioná-las. E as cumpre porque tem medo de tudo: de perder o emprego, dos militares, de morrer, da tortura, da mulher”. Maria Teresa, Fernanda Torres, é uma mulher de classe média, materialista e elitista que abusa da hipocrisia para parecer uma boa esposa. “A série apresenta um olhar cômico e terrível sobre nós. É quase um estudo antropológico sobre as nossas mazelas eternas. A Maria Teresa somos nós, uma tia, alguém que conhecemos. Todos temos algo dela. Algumas pessoas mais e outras menos”, define a atriz, acrescentando:. “A série é uma excelente reflexão sobre a nossa sociedade, sobre nós mesmos, independente de quem esteja no poder. O Brasil vive de zerar. Zera, joga tudo no lixo, e começa de novo. O Brasil não aprende. Os séculos avançam e muitos continuam se comportando da mesma forma”.
O primogênito da família, Geraldinho, continua inconsequente, amante da subversão ideológica e um exímio ‘matador de aulas’. “Geraldinho é aquele tipo de pessoa que não consegue se colocar no lugar do outro e, sequer, ter consciência disso, o que acaba o deixando bastante ignorante e perverso”, analisa Massaro. Já a irmã, Catarina, chega de uma temporada em São Paulo, sonhadora e feminista, lutando por salários iguais entre homens e mulheres. “Catarina precisou ser uma mulher empoderada, que conhece seus direitos para se fazer ser ouvida e respeitada em um grande contraponto com a mãe. À frente do seu tempo, não se cala ao constatar relações desiguais”, define Lara Tremouroux.
A atriz Jéssica Ellen vive Lucélia, empregada dos Bulhosa, em um tempo em que o direito à folga é uma afronta. “A Lucélia precisa desse emprego, mas tem total consciência de que a família também depende dela para o funcionamento da casa. Ela luta pelos seus diretos: domingos de folga, não fazer horas extras sem remuneração, 13º salário. Os direitos básicos de cada trabalhador. Com o humor, estamos levando feixes de luz a assuntos potentes, necessários e atuais para tantas Lucélias que ainda existem no país”, dispara Jéssica. Já Serjão Loroza, interpreta Domingos, um bacharel do samba que vive de bicos e é padrinho de Lucélia. “O Domingos está construindo sua história e é um cara orgulhoso da sua trajetória. Nesta temporada, ele é compositor, mas acaba vendendo seus próprios sambas para conseguir sobreviver, não usufruindo do sucesso ou do glamour que o ofício poderia proporcionar”, comenta Loroza.
Pacheco, Matheus Nachtergaele, é um funcionário do alto escalão do Palácio do Catete e é quem leva Geraldo à sede do governo com um principal objetivo: apagar a memória oficial do passado, um corrupto com ‘C’ maiúsculo. “Pacheco é aquela pessoa que se atrela ao poder, mas que não dá a cara para bater. Ele não se expõe, mas está sempre por perto. Tem um bom cargo no Governo, mas não é o chefão. Pacheco dá voz aos poderes ocultos de um sujeito que manda, mas que, na trama, não tem nome, que não sabemos quem é”, ressalta Nachtergaele.
Quem conferiu a primeira temporada, com certeza, irá lembrar da rixa entre as irmãs Maria Teresa e Leonor. Letícia Isnard avisa que o público, finalmente, descobrirá o motivo de tanta implicância. “Nessa temporada teremos flashbacks. São cenas que explicam o passado da Leonor com a Maria Teresa. Essas cenas foram muito especiais, porque minha filha na vida real, Tereza, interpretou minha personagem quando criança, foi uma experiência muito especial”, celebra Isnard.
O tempo passa e a família Bulhosa permanece a mesma. Ou quase. O elenco de “Filhos da Pátria” está de volta para fazer o espectador voltar no tempo com uma trama bem-humorada, e aquele olhar crítico sobre a formação da identidade do povo brasileiro. Depois de mostrar as aventuras da família Bulhosa em 1822, a série faz uma parada no início da década de 1930, momento de transição da história do Brasil com o início da Era Vargas. Escrita e criada por Bruno Mazzeo, ‘Filhos da Pátria’ tem direção artística de Felipe Joffily e direção geral de Henrique Sauer.
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