Estão fazendo de tudo para sair do ‘samba de uma nota só’ dos incansáveis barracos em ‘A Fazenda 14’. E agora, mais uma vez ‘bebendo’ no estilo BBB, que inventou os ‘Paredões Falsos’, o reality rural lançou mão da ‘Roça Falsa’, mais uma vez (na sexta edição, Bárbara Evans retornou imune ao confinamento). Nela, Bárbara Borges foi escolhida pelo público e teve o privilégio de observar o jogo por alguns dias, com regalias all inclusive. “Vejo mais autenticidade na Bárbara, e também o sentimento verdadeiro de incômodo com as agressões, não desejando isso. As ponderações dela são mais para o genuíno. Quanto aos demais, é uma movimentação de jogo que vai para onde está o conveniente”, analisa Maria Rafart, terapeuta e parceira do site em análises de comportamento nos realities.
A ideia da ‘Roça’ fake é movimentar as estruturas do formato e jogar mais ‘lenha na fogueira’ da disputa. Mais? “O ambiente é muito tóxico, a gente não pode esquecer que chega um momento em que aquela realidade fica muito grande para quem está lá dentro. Haverá danos psíquicos devido à toxicidade do espaço. Para quem assiste, não creio em danos, mas em validação de violência, o que nunca é bom”. Se a aposta é na espetacularização das desavenças para aumentar a audiência, parece que o objetivo não prosperou. Estamos cansados da violência como entretenimento? Tomara!
Qual a razão em um país já tão polarizado e violento, brigas, agressões e falta de respeito ao próximo? Ainda é considerado por muitos tática de jogo no confinamento? “Acho que o reality se perdeu. As pessoas acham que precisam fazer um personagem para serem aceitas, e isso inclui buscar um ‘rival’, um inimigo, para gerar conteúdo. Lá a galera está fazendo assim e exagerando. Agora uma coisa é certa, dentro de um confinamento você sempre fica com a saúde mental comprometida”, opina Lary Bottino, participante de ‘A Fazenda 13’, que antes ficou conhecida pela polêmica passagem no ‘De Férias com o Ex Brasil’ e no ‘Game dos Clones’, da Record, apresentado por Sabrina Sato. A influenciadora digital se tornou o que podemos chamar de uma ‘profissional’ de reality show. Lary também se envolveu em episódio hostil em ‘A Fazenda’: foi empurrada por Liziane Gutierrez, que ficou famosa após xingar policiais que interromperam uma festa em um bairro nobre de São Paulo. Apesar disso, ela afirma que faria outro reality: “Podem me chamar! Tenho muito a entregar ainda. Muita gente não sabe como eu realmente sou”.
Assim caminha a humanidade
Por aqui, somos fãs dos realities, vocês já sabem. E como o próprio nome diz, o gênero se propõe a ser uma ‘amostra da realidade’, entretanto, e aqui não propomos julgamentos moralistas – já que cada um tem a liberdade de apreciar o que desejar, por pior que possa parecer aos olhos de outros – o que cada vez mais causa curiosidade é investigar os motivos de alguns gostarem tanto de ver o caos instalado e pessoas ‘à beira de um ataque de nervos’. “Esse é o famoso ‘pão e circo’: as pessoas gostam de ver violência, porque é uma maneira de simbolizar a própria agressividade. Algumas podem até se declarar muito pacíficas, mas a hostilidade de qualquer espetáculo é capaz de fazer com que haja uma catarse de coisas ruins represadas dentro de si”, esclarece Maria Rafart.
Vale tudo desde que a agressão não seja física? E olha que no atual programa também já aconteceu, com direito a duas eliminações por esse motivo – Tiago Ramos e Shayan Haghbin foram expulsos. Fora isso, faz tempo que a rivalidade entre Barbara Borges e Deolane Bezerra vem preocupando. A atriz já ouviu algumas ‘promessas’ de agressão aqui fora por parte da advogada. Se as ameaças são à vera ou parte do ‘show de horrores’, não se sabe. Fato é, que os ânimos em ebulição podem ser gatilho de estresse e opressão para parte do público, e isso pode ser conferido nos comentários sobre o programa nas redes sociais. “Na atual edição, acredito que isso é o ‘efeito Rico Melquiades’ (campeão de ‘A Fazenda 13’), e o ‘efeito Jojo Todynho’ (campeã de ‘A Fazenda 12’), que leva as pessoas a entrarem já pensando em serem mais agressivas, mais incisivas. É como se o BBB fosse o território em que uma pessoa boazinha ganha e ‘A Fazenda’, o território em que quem é mau ganha”, opina a terapeuta. “Alguns participantes acreditam mesmo que ‘A Fazenda’ é o território das pessoas incisivas, e devido a alguns resultados de retornos de ‘Roças’, entendem que estão no caminho certo”.
Xingamentos, ofensas, ameaças, gritaria e muito desrespeito exibidos como entretenimento em muitos dos episódios da atração. “Tudo o que seja capaz de tirar as pessoas de suas próprias realidades hoje é considerado entretenimento. Aquilo que gere publicidade, renda, que faça com que as pessoas fiquem presas e alienadas, pode ser considerado entretenimento, infelizmente”.
E acrescenta: “Esta edição do reality rural exige dos participantes um controle de emoções acima do normal. E nem sempre as pessoas conseguem estar no controle de suas atitudes o tempo inteiro. Escolher participantes de um reality com base única e exclusivamente na sua capacidade de fazer barraco pode não ser uma boa ideia. A quem assiste, restam os maus exemplos, que muitas vezes podem mudar as nossas ações, quando sabedores daquilo que não devemos fazer”.
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