A Fazenda 13: qual o preço para arriscar saúde mental em um reality que é uma bomba relógio? Psicóloga comenta


Batendo recorde na votação na ‘roça’ desta quinta-feira, com a eliminação de Valentina Francavilla, o reality rural tem feito sucesso junto aos fãs por conta dos conflitos e tretas pesadas, que envolvem ofensas e um festival de desrespeito. o nível de descontrole por lá anda alto. Por que o público continua tão sedento por ‘sangue’ nesta edição?Convidamos a psicóloga Maria Rafart para analisar as consequências de tanto estresse no confinamento, e refletimos aqui sobre os rumos dos comportamentos extremos. Além de relembrar conflitos memoráveis anteriores. Vem saber!

*Por Brunna Condini

A sensação de ‘pare o mundo que eu quero descer’, deve acometer vez por outra espectadores de A Fazenda 13 (Record TV), que se incomodem com o excesso de tretas e a falta de ‘cerimônia’ no trato de uns com os outros no reality. Por lá, não anda fácil pra ninguém. Ânimos exaltados, fofocas e um festival de atitudes desrespeitosas e até covardes têm feito a audiência do programa. Nesta quinta-feira (18), Valentina Francavilla foi a nona eliminada da berlinda que disputou com Solange Gomes e Aline Mineiro. A votação foi recorde da temporada e a atração ficou mais uma vez entre os trending topics do Twitter. Sabemos que conflitos e barracos são ‘temperos’ esperados nos realities. Mas o nível de descontrole por lá anda alto. Então, por que o público continua tão sedento por ‘sangue’ nesta edição? E como esse ‘festival’ de situações estressantes podem afetar quem está lá dentro?

Valentina Francavilla foi a nona eliminada em A Fazenda, da berlinda que disputou com Solange Gomes e Aline Mineiro (Reprodução)

O destaque dos últimos dias foi o episódio protagonizado por Dayane Mello, que rasgou com uma faca o casaco de Rico Melquiades. Nas redes o assunto virou a torcida para que o humorista descobrisse, e o embate entre eles acontecesse. E hoje parece que a ‘trama’ desejada pelos espectadores do programa começa a se desenrolar: Rico descobriu não só o casaco rasgado, como após voltar da ‘roça’, Aline Mineiro revelou que Dayane (que negou) danificou a peça. A princípio, Rico, que vem buscando redimir sua imagem de encrenqueiro no jogo, reagiu inacreditavelmente bem. Escolhendo – pasmem – não fazer um ‘barraco’ com Day. Pelo menos até o fechamento desta edição. A versão do humorista ‘paz e amor’ é puxada por uma necessidade de trégua emocional – já que ele protagonizou conflitos de sobra com outros participantes – ou uma mudança de estratégia? O fato é, que nem imaginamos o que virá pela frente no reality que segue em constante ebulição. Mas nos perguntamos: tem preço arriscar a saúde mental para estar lá? Ela vale a batalha do prêmio de R$ 1,5 milhões?

Dayane Melo no momento que rasga a jaqueta de Rico Melquiades no reality (Reprodução)

Dayane Melo no momento que rasga a jaqueta de Rico Melquiades no reality (Reprodução)

“A hiperexposição de um participante dentro do reality é sabida, esperada e até desejada. Muitos entram em busca da fama, do prestígio e do dinheiro que uma rede social bombada traz. Há uma ideia de controle, e de que uma vez lá dentro, dê para jogar com a cabeça fria. Todos entram pensando em calcular seus passos. Depois a dinâmica é outra e a convivência obrigatória se impõe – trazendo com isso um mar de conflitos. Tensão e conflitos como entretenimento – essa é a base do sucesso deste formato. E a coletividade impera. Viver de dia e de noite com confrontos, sem ter um espaço físico individual, pode causar estresse em um grau perto do insuportável. Na vida privada, você lida com esse estresse de várias formas: pode se isolar, recorrer aos amigos ou à família) ou ainda escolher enfrentar as hostilidades. Na vida privada você tem opções. Em um reality, você tem a coletividade e o convívio forçado”, analisa a psicóloga Maria Rafart.

Aline Mineiro revela para a casa e Rico Melquiades, que Dayane rasgou sua jaqueta (Reprodução)

Aline Mineiro revela para a casa e Rico Melquiades, que Dayane rasgou sua jaqueta (Reprodução)

E completa: “Na ausência de uma saída, o remédio é contra-atacar, com as armas que se tem na mão, que geralmente são as ofensas verbais. Com a história da famosa jaqueta de Rico, a tensão entre os participantes ainda pode chegar ao patamar de descontrole, e é isso o que o tal entretenimento procura: ao ver conflitos alheios, é como se o público simbolizasse e resolvesse os próprios conflitos”.

Perder a cabeça não é novidade

Não é de hoje que se extrapola e o reality show rural pesa. Mas será que A Fazenda 13 vai ficar conhecida como a edição mais polêmica? Na atual temporada mesmo, a ex-peoa Fernanda Medrado esteve no meio de tretas com vários participantes em uma única semana e pediu para sair, prezando sua saúde mental. Recentemente, muitos conflitos na edição anterior do reality envolveram Raissa Barbosa, que chegou a ser chamada de ‘hulkinha’ por conta das brigas em que esteve envolvida. E como sofre de Transtorno Boderline, sua participação em uma competição deste tipo foi muito criticada, por conta da alta carga emocional exigida.

Raissa Barbosa participou da última edição de A Fazenda, e se envolveu em muitos conflitos (Reprodução)

Raissa Barbosa participou da última edição de A Fazenda, e se envolveu em muitos conflitos (Reprodução)

Quem lembra da primeira edição? Theo Becker, um dos participantes mais polêmicos de todas as temporadas, discutiu com Dado Dolabella, Luciele di Camargo, Miro Miranda e Fábio Arruda. Mas a ‘treta das tretas’ aconteceu com Jonathan Haagensen, enquanto o ator tomava banho, e Theo invadiu o lugar, o ameaçando. Os demais participantes tiveram de intervir para que o conflito não evoluísse. Já em A Fazenda 6 participaram ‘celebridades’ como Andressa Urach e Denise Rocha, e os barracos quase chegavam às vias de fato, incluindo cuspes e ofensas.

A psicóloga Maria Rafart fala ainda sobre as consequências do descontrole em um confinamento deste tipo: “A saída sempre é um choque de realidade: o mundo imaginário, o mundo dos fandoms e do ‘cancelamento’, se torna real. Para a psicologia, quem pensamos ser, depende também do que pensam os outros sobre nós. Até aquelas pessoas que dizem pouco se importar com a opinião alheia, são movidas pela força externa do que os outros pensam, mesmo que em menor grau. O que os outros fazem ou deixam de fazer, também nos importa e nos diz respeito. E aí é hora de pagar o preço de ter participado de um programa com câmeras ligadas 24 horas por dia”.