*Por Brunna Condini
Os conflitos dentro de um reality show são inevitáveis. Inclusive, parte deste tipo de jogo se alimenta disso. Mas o que será que o público sente assistindo um programa que já começa com o clima pesado e com participantes mais interessados em brigar do que jogar? Pois é isto que já percebemos em A Fazenda 13, que teve seu start nesta terça-feira, na Record. A estreia do reality foi o assunto mais comentado nas redes e a atração promete. Só resta ao público se perguntar se quer ver este tipo de ‘promessa’ se realizar: um festival de tretas, desrespeito e ofensas. Será que o ‘baile’ seguirá assim?
“A Fazenda tem se consolidado com um reality de confrontos diretos ao contrário de um Big Brother Brasil em que as alianças são firmadas para formar grupos de amizade e redes de proteção interna. Em A Fazenda, o confronto direto é mais instigante, porque promove a aceitação de determinadas torcidas. Quando você tem um participante explosivo, alguém ‘briguento’, ele provavelmente terá mais atenção do público, porque é um programa muito relacionado às redes sociais, até mais que o BBB no sentido de que em A Fazenda não tem cultura de pay-per-view para as pessoas acompanharem 24 horas o desenrolar dos conflitos. Logo a edição do reality prioriza quem traz para si o protagonismo das cenas. A edição precisa ser ‘quente’, contar o que aconteceu naquele momento em que ‘fisga’ a audiência do público”, detalha o autor e pesquisador em teledramaturgia Valmir Moratelli.
E os participantes sabem disso, não é mesmo? Mas ‘plantar’ tretas acaloradas assim, de cara, não fica over?
Adriane Galisteu, a primeira mulher à frente do programa, estreou à vontade, mas de cara já teve que lidar com críticas por parte dos internautas que destacaram algumas ‘gafes’ que teriam sido cometidas pela apresentadora, como quando tentou interagir em demasia com os participantes e ficou sem retorno, em uma vibe ‘animadora de auditório’, segundo comentário da jornalista Sonia Abrão. “Meu papel não é ser professora de ninguém, mas conduzir da melhor maneira para quem está em casa. A gente tem que entregar entretenimento”, declarou antes da estreia.
A diversão, no melhor sentido do jogo, já começou, com a definição do primeiro ‘fazendeiro’ na noite desta quarta-feira, que vai liderar a semana, o influenciador Gui Araújo. Mais confortável, Galisteu segue feliz no comando do jogo que vai contar com 21 participantes/’celebridades em busca do prêmio de 2 milhões de reais: Victor Pecoraro, Mussunzinho, Liziane Gutierrez, Nego do Borel, Tati Quebra Barraco, Arcrebiano de Araújo, Mileide Mihaile, Dayane Mello, Valentina Francavilla, Fernanda Medrado, Gui Araujo, Marina Ferrari, MC Gui e Tiago Piquilo. E mais Erika Schneider, Erasmo Viana, Solange Gomes, Aline Mineiro, Dynho e Rico Melquiades. Destes, seis já estão na ‘baia’ (Solange, Nego do Borel, Victor Pecoraro, Dynho, Mussunzinho e Dayane). Além disso, outros quatro candidatos à participante, que estão separados do elenco oficial do reality, no chamado Paiol Tik Tok, dependem de votação do público para ocupar a 21ª vaga, são eles: o coreógrafo Alisson Jordan, a influenciadora Sthe Matos, o rapper Krawk e a youtuber Mah Tavares.
Muita gente em uma única casa, convivendo intensamente por um longo período. Mas o que dizer dos participantes que já estão ‘se estranhando’ em pouco mais de 48 horas? “O público de agora está sedento de confusões e conflitos, basicamente pela mesma razão que os romanos mantinham as lutas de gladiadores nas arenas: pão e circo”, opina a terapeuta Maria Rafart.
“Além das tensões evidentes de um programa em que um participante pode definir o destino de outro, há um componente psicológico que os participantes de reality estão aprendendo a destacar, e até provocar: quanto mais controversos eles forem, mais o público vai querer que fiquem, mesmo com dúvidas sobre a sua retidão de conduta. Quando alguém numa estória de ficção ou em um reality show extrapola a sua agressividade, no simbólico que existe em todos nós, é isto o que sentimos que estamos fazendo junto. É mais ou menos assim: “Eu não posso reclamar do meu trabalho porque perco o emprego, eu não posso brigar com a sogra, mas eu posso torcer numa briga dos peões da Fazenda, e isto me satisfaz”.
A especialista, que acompanha o comportamento dos ‘peões’ no reality acrescenta: “Muitos participantes perceberam essa sacada: os participantes bonzinhos, que antes ganhavam os prêmios e permaneciam mais, agora são chamados de ‘planta’. O participante de agora precisa se posicionar e, desde cedo, para não sair na primeira semana sem ter tempo de se mostrar”. E observa, sobre a formação da primeira ‘baia’ da atração: “Foi muito emblemática a reação da Dayane Mello ao ser tão votada: ao voltar-se contra o Mc Guiné, como se ele tivesse manipulado todos contra ela, Dayane já garantiu a torcida do público num conflito, que sabe que vem treta por aí. Provavelmente os meses de confinamento na Itália, com a casa toda contra ela, ensinaram a participante a reagir, e assim garantir a sua permanência”.
‘Calos’ na convivência
A influenciadora Shayene Cesário que esteve na mesma edição de a Fazenda 5 com a cantora Gretchen, de quem se tornou amiga, conta que a edição que participou começou com ‘fogo no feno’ também. “A edição já começou com uma confusão no primeiro dia da Viviane Araújo com a Nicole Bahls. Se você já entra com alguma diferença, alguma ‘picuinha’ com alguém que está lá dentro, isso se potencializa. Ali, os nervos ficam à flor da pele”, diz Shayene. “A cozinha é um dos lugares que causa mais discórdia, na divisão das tarefas. Muita gente entra também tentando mostrar seu lado mais forte e outros, que entram mais reservados, mas acabam mostrando outro lado quando ‘pisam no seu calo’. A diferença da edição que eu participei para os últimos, é que parecia que as pessoas pensavam mais quando iam comprar uma briga. Eram inúmeros critérios, medo real de expulsão, dos processos aqui fora. Hoje as coisas estão mais escancaradas e quando pessoas com mais personalidade se encontram já causa ‘choque'”.
Ela destaca também uma mudança de ‘regra’ preocupante na atual edição: “Agora as pessoas até podem ‘cuspir’ sem ser necessariamente expulsas. Acho que isso vai abrir margem para as pessoas irem além, pensando em humilhar, mostrar descontentamento com outras pessoas. Se você cospe em alguém, consegue levar a pessoa ao auge da raiva, da vontade de revidar. Imagino que quem sofrer esse tipo de agressão, pode pensar em algo pior para revidar”. E revela: “Não me arrependo de ter participado e entraria novamente. Hoje me sinto até mais madura, mais mulher para isso. Agiria diferente em algumas situações, já vimos que se colocar no jogo é muito importante, por exemplo”.
Para ficar de olho
A psicóloga Maria Rafart destacou alguns pontos já neste início, que podem fazer ‘explodir’ conflitos no confinamento. “O ‘cancelamento’ é o medo de todo influencer: ver seu patrimônio de seguidores minguar de um dia para outro é um pesadelo. Quem já provou o sabor do cancelamento sabe como é, e vai se mostrar mais combativo. É isso o que o telespectador quer”, aponta. “E colocar a Solange Gomes, ex-banheira do Gugu, é como tentar achar uma nova Luiza Ambiel para esta Fazenda. Mulheres que se valiam de sua beleza física e juventude para fazer sucesso, precisam se reinventar quando perdem o frescor da juventude, e mostram um lado um pouco trágico da fama, depois que ela diminui. Nesse mix de arquétipos psicológicos de A Fazenda, precisa também haver quem esteja do outro lado da onda da fama”.
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