A atual edição de ‘No Limite’ não tem ‘temperatura’ e oferece ‘perrengues Nutella’ ao espectador


Para o público, reality não tem ‘entregado’ os desafios extremos esperados até agora. Escutamos a psicóloga Luiza Martins sobre o assunto, e para o especialista e pesquisador Valmir Moratelli, a atual edição é um grande erro na grade da emissora: “O programa não tem temperatura alguma. No máximo, quando a pessoa sai em uma terça-feira num Big Brother, por exemplo, ela está na quarta sendo entrevistada no café da manhã da Ana Maria Braga, no programa da Fátima Bernardes e ainda no que a Ana Clara apresenta agora. É no dia seguinte que você pega carona no assunto da noite anterior. É assim que sempre foi e que o público espera. É complicado, porque o ‘No Limite’ é um programa que vai ar apenas uma vez na semana, o que impede uma dinâmica maior – e isso tudo neste contexto que temos atualmente de reality, de acompanhar isso como um show diário – , o programa peca muito por isso. É um dos motivos que não curto. Não vejo graça nesta dinâmica semanal, quase em doses ‘homeopáticas'”

*Por Brunna Condini

Exibido excepcionalmente na última segunda-feira (dia 7), o ‘No Limite’, segue decepcionando as expectativas do público de reality show de sobrevivência. No episódio em que o ex-BBB21 Arcrebiano, o Bil, foi eliminado, a edição, mais uma vez, não ‘entregou’ os ‘perrengues’ prometidos na proposta da atração: sobrou mimo e faltou ‘limite raiz’. Conquistado através de prova, a tribo Calango ganhou prêmio que incluiu churrasco, cerveja de marca patrocinadora e show de Wesley Safadão. Para o público, que repercutiu nas redes sociais, foi estranho ver tanta ‘molezinha’ em um reality que se propõe a “reunir um grupo de pessoas para viver situações que exigem coragem e resistência física ao máximo, com recursos limitados e uma série de desafios que vão além da convivência”, em busca de levar os R$ 500 mil para casa.

Mas por que o espectador não curtiu o pequeno ‘alívio’ para os participantes e segue esperando mais ‘sofrimento’ no programa? “Acredito, que em primeiro lugar, porque obviamente é a proposta da atração. É um reality de sobrevivência. A ânsia por ‘perrengues’ é uma frustração à expectativa em relação ao programa que se auto explica ‘no limite’. Por isso, talvez um show de música, no meio disso tudo, com comes e bebes, não tenha feito sentido nenhum. Ainda que seja um benefício legitimamente alcançado através de prova”, analisa a terapeuta Luiza Martins.

Conquistado através de prova, a tribo calango ganhou prêmio que incluiu churrasco, cerveja de marca patrocinadora e show de Wesley Safadão (Divulgação/ globo)

Conquistado através de prova, a tribo calango ganhou prêmio que incluiu churrasco, cerveja de marca patrocinadora e show de Wesley Safadão (Divulgação/ globo)

“E talvez essa versão ‘light’ do programa não agrade a quem é fã deste tipo de modalidade de reality, que testa ao máximo a capacidade física e mental das pessoas. Trata-se de um programa de entretenimento que consiste no confinamento voluntário de pessoas em uma praia, para juntas, serem desafiadas. A decepção do público acontece, porque expectativas compreensíveis foram criadas, mas frustradas até agora, ao que parece”.

Sem temperatura

O escritor e pesquisador em teledramaturgia e audiovisual Valmir Moratelli, contribui para a análise salientando que os espectadores têm se sentido ‘traídos’ pela atração. “Quando um programa deste tipo não entrega à altura o esperado, o público se sente enganado. As provas na atual edição parecem mais fáceis, a quantidade de comida também parece mais ok. As provas com comidas mais estranhas, exóticas, devem ficar mais para o final. Então, vamos ver que desafios vem por aí”, diz sobre o reality previsto para terminar em agosto.

Valmir também compara a quinta edição, que está no ar após 11 anos de hiato da última, com a primeira de ‘No Limite’. “No primeiro programa, os participantes ficavam descalços, por exemplo. Agora, está todo mundo de tênis, isso já dá mais conforto para andar na areia quente, nas pedras, fazer provas. Dá flexibilidade e deixa os pés mais preparados para os desafios. Quando você assiste ‘Largados e Pelados‘ (reality de sobrevivência do Discovery Channel) por exemplo, você vê participantes em contato ‘perverso’ com a natureza, neste sentido de estar totalmente exposto aos desafios e à sua própria natureza diante disso tudo. O ‘No Limite’ lá de trás era assim também”, observa o pesquisador.

"Posso até fazer uma comparação engraçada, dizendo que o 'No Limite' da versão do André Marques é 'nutella'. E o "No Limite' 'raiz', era o do Zeca Camargo, muito mais 'pauleira'" (Reprodução)

“Posso até fazer uma comparação engraçada, dizendo que o ‘No Limite’ da versão do André Marques é ‘nutella’. E o “No Limite’ ‘raiz’, era o do Zeca Camargo, muito mais ‘pauleira'” (Reprodução)

“Posso até fazer uma comparação engraçada, dizendo que o ‘No Limite’ da versão do André Marques é ‘Nutella’. E o “No Limite’ ‘raiz’, era o do Zeca Camargo, muito mais ‘pauleira’, mais focado também na questão da resistência física e mental, em provas que exigiam do participante um empenho muito grande para vencer. Agora parece ‘brincadeira de ginásio’, de educação física”.

O especialista critica ainda, a estratégia da emissora de não incorporação do reality à grade. “Não consigo entender, a Globo produzir um programa que é caro, passando só às terças-feiras, com repercussão do eliminado da semana apenas após o ‘Fantástico’, no domingo, quase antevéspera da próxima eliminação. O programa não tem temperatura alguma diante da grade. É um grande erro de programação. No máximo, quando a pessoa sai em uma terça-feira num Big Brother, por exemplo, ela está na quarta sendo entrevistada no café da manhã da Ana Maria Braga, no programa da Fátima Bernardes e ainda no que a Ana Clara apresenta agora. É no dia seguinte que você pega carona no assunto da noite anterior. É assim que sempre foi e que o público espera. É complicado, porque o ‘No Limite’ é um programa que vai ar apenas uma vez na semana, o que impede uma dinâmica maior – e isso tudo neste contexto que temos atualmente de reality, de acompanhar isso como um show diário – , o programa peca muito. É um dos motivos que não curto. Não vejo graça nesta dinâmica semanal, quase em doses ‘homeopáticas'”.

Arcrebiano, o Bil, é o quinto eliminado desta edição do reality 'No Limite' (Divulgação/ Globo)

Arcrebiano, o Bil, é o quinto eliminado desta edição do reality ‘No Limite’ (Divulgação/ Globo)

Tentativa e erro

Moratelli também chama atenção para a tentativa da direção em utilizar shows e a ida de celebridades para o reality, como uma tentativa de movimentar a atração. “Acho que estão tentando mobilizar mais as redes sociais, que, ao meu ver, estão muito menos engajadas do que na época do Big Brother. O ‘No Limite’ não alcançou essa popularidade toda na internet. Outro aspecto é fazer com que tenha mais cara de entretenimento, mobilize fãs clubes, questões relacionadas à música e tal. Porque não está sendo dinâmico. A apresentação do André Marques não tem agradado, as provas não parecem bem elaboradas, no intuito de desafiar mesmo”, diz.

"Num programa de resistência, você imagina pessoas passando por situações realmente extremas. Mas aí liga a TV e vê o grupo recebendo como prêmio um show do Wesley Safadão? Acho incoerente" (Divulgação/ Globo)

“Num programa de resistência, você imagina pessoas passando por situações realmente extremas. Mas aí liga a TV e vê o grupo recebendo como prêmio um show do Wesley Safadão? Acho incoerente” (Divulgação/ Globo)

E completa: “Quando você assiste um programa de resistência, imagina as pessoas passando por diversas situações realmente extremas. Mas aí liga a TV e vê participantes recebendo como prêmio um show do Wesley Safadão? Acho muito incoerente. Vai contra toda lógica da atração, não cabe em um programa que tem essa competição física tão forte, fica esquisito, deslocado, mesmo com a suposição que seja uma estratégia para movimentar o reality além da tela da TV”.