* Por Carlos Lima Costa
Longe das novelas desde A Regra do Jogo, de João Emanuel Carneiro, exibida até março de 2016, Maria Padilha marca presença atualmente na TV, através da reprise de O Cravo e a Rosa. Os fãs matam as saudades e festejam, afinal Dinorá, sua personagem na trama escrita por Walcy Carrasco, cuja exibição original estreou em junho de 2000, é uma das personagens de maior sucesso da trajetória da atriz na televisão. Repleta de nuances e bom humor, era casada com Cornélio (Ney Latorraca), mas se apaixonava por outro homem, Celso (Murilo Rosa).
“Foi importante na minha carreira, porque foi bem escrita, tinha interessante função na história. Dominada pela mãe, por quem fazia absurdos, era cheia de lados, meio vilã, meio frágil. Eu já tinha trabalhado com o (Walter) Avancini (1935-2001) no cinema (o filme Boca, de 1994), e até hoje uso a direção daquele filme para muitos trabalhos na minha vida. Mas, em O Cravo e a Rosa, ele se dedicou muito ao meu personagem e a mim. Confiava completamente nele e eu acho que ele em mim também. Às vezes, ficava com dificuldade e ligava para o Avancini. Nunca fiz isso com outro diretor. E ele sempre me dava uma dica que encaixava. As atitudes controversas, a falta de caráter. Por isso tudo é dos mais marcantes”, enfatiza.
Duas décadas depois o público não deixa de se manifestar por essa personagem. “Até hoje qualquer foto que eu poste, as pessoas comentam ‘Saudades’, ‘Minha manga rosa’, ‘Diaba’, que eram as maneiras como o Cornélio e o Celso a chamavam. Quando o Avancini me apresentou a Dinorá, sugeri que ela, no fundo, gostasse do Cornélio, mas sem saber que gostava, porque foi educada para dar o golpe do baú. Achava que assim ficaria mais rico. Na hora, ele ligou para o Walcyr e os dois incorporaram isso na história”, recorda ela, que, no teatro, seu mais recente espetáculo foi Diários do Abismo, em 2019.
No ano seguinte, com o surgimento da pandemia, ainda fez apresentações online da peça, além de uma participação em Rua do Sobe e Desce, Número que Desaparece, série do Canal Brasil. Mas ficou mais quietinha, reclusa em seu isolamento social na companhia do filho, Manoel, 10 anos, adotado por ela quando ainda era bebê. Além também do marido, o empresário Brenno Meneghel, de 34 anos. “A maternidade é um grande aprendizado sobre o amor. Tive uma conexão, olhei para ele e falei: ‘É meu!’ Não sou aquela mãe superprotetora, sou bem equilibrada nesse sentido. Acho que esse é meu lado melhor como mãe, sei que meu filho não é um príncipe, ele é uma criança”, ressaltou ela em entrevista à revista Quem.
Desde pequena, Maria, que celebrou seus 62 anos, neste domingo, Dia das Mães, gostava de fazer teatro. “Eu atuava no jardim da casa da minha avó. Roubava gelo seco para colocar fumaça, mas não achava que. mas tarde, seria minha profissão”, recordou recentemente no programa do Faustão, na Band. Filha de um médico com uma professora de história, chegou a cursar faculdade de Desenho Industrial.
Contou ainda que, curiosamente, quando começou a fazer aulas de teatro considerava chatas as pessoas do meio. Essa visão mudou completamente quando iniciou curso com Amir Haddad, Sérgio Britto (1923-2011) e Hamilton Vaz Pereira. “Ali me apaixonei e fui picada pela profissão”, acrescentou ela, que, no ano seguinte, estreou uma peça infantil, dirigida por Marília Pêra (1943-2015). Em seguida, ainda em 1979, um espetáculo adulto, o Despertar da Primavera, com Miguel Falabella, com quem chegou a morar em um apartamento, na Urca. No ano seguinte, começou a brilhar na TV, em Água Viva. Contracenando com a diva Tônia Carrero (1922-2018) e com Gloria Pires, participou de cena clássica, em que as personagens faziam topless na praia. E que foi muito comentada na época.
Ao longo dos anos, Maria Padilha marcou presença em inúmeras produções, como Bandidos da Falange, O Dono do Mundo, Decadência, o remake de Anjo Mau e Cara & Coroa, antes de chegar em O Cravo e a Rosa. Sobre a preparação dessa vilã dos 20’s, para a qual teve aulas de dança e costumes, ela conta outra curiosidade: “O Avancini me deu quatro meses para uma incumbência incrível. Queria que eu fizesse a Greta Garbo (1905-1990), mas a dos filmes mudos. Existia um cara que tinha um DVD Clube com todos os clássicos, então, fiquei estudando os gestos dela. Isso foi um super apoio”, relembra.
E reforça o motivo de O Cravo e a Rosa ser sucesso em todas as exibições: “A novela tem mais de 20 anos e não envelheceu, continua moderna e atual. A história é muito boa, os diálogos são inspirados e engraçados, a direção primorosa e o elenco extraordinário”. Os colegas de cena se deram tão bem, que, durante um ano após o término da novela, toda primeira segunda-feira do mês, eles se encontravam em um restaurante. “Formamos uma amizade. O Ney Latorraca, por exemplo, é um ator extraordinário, um dos maiores que esse país já teve. Nós tivemos um casamento artístico maravilhoso, mas pessoal também. Até hoje ele é um dos meus melhores amigos. Não vivo sem o Ney, que é uma eterna inspiração”, ressalta.
E admite ser superautocrítica ao se ver em algum trabalho: “Não só os antigos, mas também quando estou atuando. O Cravo e a Rosa, na época das gravações, eu assistia, porque amava ver a novela, assim como as minhas cenas. Adorava todos os personagens, tramas, achava tudo maravilhoso, então, tenho muito prazer de rever”, frisa Maria Padilha, que atuou ainda em novelas como Mulheres Apaixonadas, Paraíso Tropical e Insensato Coração.
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