*Por Alexandre Schnabl e João Ker
Ha-ha-ha, staying alive! Com esse grito de guerra disco, o Espaço Franklin, no Rio, entrou no túnel do tempo e assumiu os anos setenta não só nas picapes, mas também no ambiente e até no bufê nesta noite de sábado (02/08). O badalo, repleto de globais como Xuxa, foi o ponto de partida para celebrar a nova novela das 18h, que estreia nesta segunda-feira (04/08) na Globo, evocando a atmosfera dos disco clubes. Sim, enquanto a reapresentação de “Dancing Days” faz sucesso no Canal Viva (ao mesmo tempo em que se especula o remake desse sucesso dentro do horário das 23h), o autor Rui Ventura sai na pole position e traz uma trama passada em 1978, “Boogie Oogie”, com direito a muita cintura alta, barriguinha de fora, meiões de lurex e evoluções na pista.
Já na entrada ficava clara a pegada, e o vale -brinde para receber na saída um mini Genius, aquele joguinho que contagiou o final daquela década, era um daqueles mimos capazes de alegrar o público. Sim, teve de tudo: decoração com neon, drinks setentistas na base da Cuba Libre e Coquetel de Frutas, bowls com jujubas, cabine de fotos com acessórios babadeiros para dar um up no visual – tipo boá colorido e peruca black power de Lionel Richie e seus Commodores – e até roller girls tirando polaroides dos convidados em modelito que lembrava Olivia Newton-John em “Xanadu”. Dançarinos usando ternos de tergal com boca larga e camisa de gola pontuda abertas até o peito enchiam a pista de dança e evocavam “Os Embalos de Sábado à Noite”, enquanto barmen com camisas extravagantes entregavam as bebidas por trás de luminárias lava motion. E, entre paetês, hot pants e muito poliéster e poliamida, HT caiu na pista para apurar com o elenco da novela quais as tendências eles escolheriam para trazer dos anos 1970 para a época atual, e quais os modismos que poderiam perfeitamente ficar em algum lugar do passado.
Fotos: Zeca Santos
Para a deslumbrante Letícia Spiller, com cabelos frisados e a mais animada de todo o badalo, a década traz uma memória um tanto quanto carinhosa que, para ela, perdurou ainda por alguns anos a mais: “Ah, eu escolheria as meias lurex com sandália, porque me lembram a Babalu“, ri a atriz, fazendo menção à famosa personagem que viveu na novela “Quatro Por Quatro”, em 1994. Bom, faz todo sentido. Afinal, os anos 1990 ressuscitaram a moda setentista antes de cair no minimalismo. E o que ela prefere largar por lá? “A maquiagem exagerada, sem dúvida!”, exclama a neo diva.
Em sintonia com a memória afetiva de Letícia está a figurinista da novela, Marie Salles. Ela aponta que a ambiência dos anos 1970 está por toda parte e que essa década vai e volta o tempo todo. “Não preciso ser tão literal e datar tanto a produção através do figurino, até porque alguns elementos característicos desse tempo estão presentes na moda com bastante frequência. E, como preciso marcar a época, mas assumir que a produção é uma realização da Globo nos dias atuais, posso mesclar elementos setentistas com outros nem tanto. Por exemplo, os cabelos e o make são mais limpos, sem aqueles exageros que o povo curtia em 1978, a não ser quando as cenas se passam dentro da discoteca. Aí sim, o cenário é lúdico e posso brincar mais a fundo”, conta Marie, acentuando que também procurou mesclar essa pegada contemporânea com história da moda em outras produções das quais participou recentemente: “Em ‘Joia Rara’, apesar de ser um novelão com direção de arte bem realista, passada nos anos 1930/1940, eu conseguia brincar um pouco em certos figurinos, sobretudo no núcleo das coristas. E em ‘Cordel Encantado’, como se tratava de uma fantasia nada realista, era possível misturar gêneros e épocas. Usei referências de John Galliano no visual dos personagens mais vitorianos, tipo Débora Bloch, com a atmosfera Belle Époque sofrendo interferência de componentes exótico-tropicais”.
Marie destaca ainda a importância de usar uma beleza mais atemporal para arrematar esse figurino e deixá-lo mais contemporâneo, mesmo se tratando de uma novela passada há 36 anos atrás. “O fato de 1978 ser relativamente recente ajuda, não é uma produção forties como “Joia Rara”, bem mais para trás. Mas é bom manter essa beleza dos personagens limpinha, com cara de quem acordou há pouco. Os cabelos da Bianca Bin e a Giulia Gam, por exemplo, podem ser perfeitamente usados por qualquer mulher nos dias de hoje. E mesmo o mocinho interpretado por Marco Pigossi usa uma barba que não era comum em gente da idade dele naquela época, mas hoje em dia”, completa a costume designer, ainda mencionando que procurou ser mais literal somente em personagens que permitiam esse exagero, como Marco Ricca (“que abusei das golas pontudas”) e em Junno Andrade, que interpreta o dono da discoteca.
Ainda assim, Pigossi, figura bastante presente durante toda a festa, discorda um pouquinho de Marie. Questionado sobre a barba do seu protagonista ser um elemento pouco comum para alguém da sua idade em 1978, ele afirma que “ah, não acho não, a barba era forte sim”, se esquecendo que esse elemento era mais comum – na segunda metade dos seventies – em homens com mais de 40 anos. Okay, okay, nada como a distância do tempo para confundir cabeças. E Marcos, com apenas 25 anos hoje em dia, nem sonhava em existir nesse tempo. Portanto, como saber?
Mas, de volta à questão do que se deveria trazer dessa época para a moda atual, Ísis Valverde, a estonteante protagonista da trama, responde animada: “Primeiro, todo esse clima disco precisa voltar. Tinha que ter esse tipo de festa flashback hoje em dia porque é muito divertido e você não vê essas coisas por aí tão facilmente! Agora, na questão da moda, eu sinto falta dos saiões de cintura alta, não tenho visto muito dessas”, disse a mineira, que provavelmente ainda não havia se encontrado com a sua rival nas telinhas, Bianca Bin, que durante a festa envergava exatamente um top com saia de cintura alta Dolce & Gabbana. Cool. Entretanto, Ísis acha que nem tudo deveria retornar do baú dos 1970’s: “Olha, eu acho que os jovens estão até soltinhos demais, tá tudo muito enlouquecido. Na época tinha essa coisa de burlar as regras, mas hoje em dia tudo tá liberado demais”, confessa toda pudica. Enquanto isso, Marco Pigossi, o mocinho disputado entre as duas beldades,declara seu amor pelo som da época: “Ah, claro, e que música! Toda essa trilha sonora disco é sensacional”.
O clima disco parece ser o preferido do elenco (e do resto do mundo). Luiz Melodia circula como quem não quer nada, ao lado da promoter Clarisse Miranda e seu maridão Rodrigo Paredes. Era a turma do blaxploitation. de deixar Richard Roundtree e Pam Grier orgulhosos! Já a setentérrima Betty Faria exclama: “Ah, mas se eu pudesse escolher uma coisa para voltar seria sem dúvidas essas músicas maravilhosas!”, disse a eterna Lazinha Chave de Cadeia e Tieta do Agreste. Alexandra Richter faz coro às vontades de Betty: “Aquele estilo hippie chic, a descontração e todo o clima que levava todos à pista de dança são um must return. Tudo dava vontade de dançar!”, comenta a loura, que mais tarde se junta a Letícia Spiller, formando uma das duplas mais animadas na pista, enquanto o DJ tocava hinos como “I Will Survive” e “Don’t Stop ‘Til You Get Enough”. Mas bem verdade é que, ainda no inicinho do badalo, houve muita gente que se esbaldasse com “Copacabana”, do Barry Manilow, um dos hits da noite. O cantor hoje em dia pode até ser um maracujá de gaveta, mas marcou época.
Outra que se lembra da década de 1970 com carinho especial é a lenda viva Zezé Motta, que além de escolher a música da época mais marcante, ainda conta que viveu uma das experiências mais típicas daqueles anos: vivia em um coletivo livre. “Foi uma experiência incrível! Morávamos eu, Marco Nanini, Wolf Maia, Sandra Pêra, isso sem contar com os ‘membros flutuantes’ que apareciam de vez em quando, como o Jorginho Fernando e o Ney Matogrosso, que ocupou meu quarto quando eu saí para filmar “Xica da Silva” [o filme], em 1976. O ator, às vezes, é fadado a ficar muito tempo longe da família por conta da agenda profissional. Mas aquelas pessoas eram uma segunda família, com a diferença de que tivemos o prazer de poder escolher os membros”, revela a atriz com brilho nos olhos. Bom, nem é preciso dizer que o que Zezé narra também é a essência do miolão dos anos setenta, com essa levada de comunidade alternativa. Tipo “Modern Family”, só que muito mais legal.
Débora Nascimento, que estava lá dando apoio moral ao namorado José Loreto, pede a volta imediata do black power para cabelos negros, enquanto Giulia Gam, uma das protagonistas da novela, vai mais além: “Nossa, a música e o clima de discoteca, sem dúvida! Aquela coisa de poder ir para um lugar e dançar, se fantasiar, colocar bastante maquiagem, aquilo era o máximo! Em questão de moda, eu gosto bastante de calça boca-de-sino e o cabelo super comprido”, diz a atriz que, por sinal, deixou as madeixas crescerem especialmente para a trama. Desse estilo de vida setentista, Giulia diz sentir falta da união, talvez a mesma citada mais cedo por Zezé Motta: “Todo aquele jeito de ter uma ligação espiritual com a natureza, o interesse pelas culturas orientais – principalmente a indiana – eram coisas muito fortes nessa época. Mas, principalmente, a ideia de comunidade. Como as pessoas eram muito mais unidas do que na década de 1960!”, suspira.
Enquanto Rodrigo Simas circula com coque alto tipo Samurai Jack, Giselle Batista, que entrou para o elenco da novela em cima do laço, é só alegria com o namoradão Otávio Pandolfo. E a repórter e apresentadora Pathy De Jesus, em ação também por conta das entrevistas, recorda seu tempo de modelo e, depois, a fase como atriz: “Comecei a modelar bem garota, entre 15 e 16 anos numa geração de tops privilegiada, que tinha Cássia Lara e Luciana Curtis na turma. Mas foi a bagagem como atriz, já na década passada, que me deu a rapidez que preciso ter como repórter. A gente vem com uma pauta e na hora é tudo diferente. O meu improviso como atriz me faz a profissional que sou hoje”.
Já o estilista Victor Dzenk se diverte na pista, embora ainda se recupere do acidente na perna: “Estou rindo horrores aqui, dançando com essa bengala, mas semana que vem já aposento ela”, solta animado, ao lado do assessor de imprensa Wiled Silveira. Afinal, nem só de estrelas globettes era formado o mix da festa. O casal Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho, por exemplo, se lembra do espírito animado da época em que se passa a novela, mas também não abria mão da sua dose de contemporaneidade. “Meu cabelo tá enorme, não é? Tá encostando na gola”, mostra a public relations apontando pra as madeixas. Nesse momento, o DJ lança logo um Sidney Magal. “Aaaah, eu te amooo. Aaaaah, eu te amo, meu amooor!” Imediatamente, Luiz Fernando se arrepia: “Um clássico né? Magal é eterno, nunca sai de moda, todo mundo gosta, é cult”.
E, entre todos os atrativos do badalo, vale a pena mencionar o delicioso bufê do Marias e Amélias Eventos Gastronômicos, que incrementou naquelas iguarias típicas dos 1970’s, as mesmas que a sofisticação da finger food e a culinária gourmet se encarregaram de sepultar junto com os globos de espelho e as camisas de gola pontuda. O povo se esbaldou com sanduíches em camadas, canapés com aspargos, sanduichinhos de salaminho, ovos de codorna com molho rosê, bolinha de queijo, risoles e sacanagem. Sim, sacanagem, mas HT avisa logo aos desavisados: trata-se daquele espetinho de salsicha, pimentão e queijo prato, com o conjunto espetado naquela meia bola de isopor coberta com papel laminado. Um ícone da época, nada a ver com o tipo de libertinagem que costumava acontecer no finado Studio 54, meu bem. Só faltou mesmo uma iguaria notória no pedaço: cadê os tremoços, amor?
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