46º Festival de Cinema de Gramado: Internacionalidade e discussão política marcam o primeiro dia


Foi dada a largada do maior evento cinematográfico do Brasil. E logo no primeiro dia o Festival contou com homenagens, discursos acalorados e discussão sobre a necessidade de inclusão

O brilho dos holofotes, músicas de clássicos cinematográficos e famosos no tapete vermelho. O 46º Festival de Cinema de Gramado já é uma realidade. E, como já era de se esperar, a primeira noite no Palácio dos Festivais deu o que falar. Como é de praxe, a cerimônia de inauguração contou com a sonoridade da Orquestra Sinfônica de Gramado e, na sequência, a exibição de um longa que não está competindo. Quem fez as honras foi O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues, com Mariana Ximenes, Marcos Frota e outras grandes personalidades. A primeira montagem que faz parte da mostra competitiva também foi exibida ontem. A Voz do Silêncio trouxe a presença icônica de Marieta Severo para a serra gaúcha e ainda deu deixa para protesto político. Vem conferir!

Filme de Cacá Diegues abre o Festival de Cinema de Gramado deste ano (Foto: Pressphoto)

O filme que deu start a tudo

Com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo, O Grande Circo Místico contra a trajetória de aventuras e amores de cinco gerações de uma mesma família, desde o seu apogeu até a decadência. “Este filme é incrivelmente parecido com tudo o que penso sobre cinema. É uma boa síntese. Foi feito com muita emoção e dedicação. Foi complicadíssimo de fazer, mas estou contente com o resultado. Está perto daquilo que eu queria”, comentou Cacá Diegues. A trama retrata um amor entre um aristocrata e uma acrobata que nasceu de uma família tradicional. “Além de ser uma obra do Cacá Diegues, foi maravilhoso fazer um personagem como a Margarete que é uma trapezista em Portugal. Foi muito especial. Ganhei o Festival no ano retrasado, então, é sempre bom estar de volta”, comentou Mariana Ximenes.

Mariana Ximenes posa em frente ao Palácio do Festivais (Foto: Pressphoto)

O filme foi exibido nesta sexta pela primeira vez no Brasil, no entanto a estreia foi internacional. O Grande Circo Místico já esteve no exterior no Festival de Cannes e em outras cidades. “A gente não planeja esta internacionalidade, mas se aconteceu é ótimo, porque um maior número de gente tem acesso a este conteúdo. No entanto, isto não deve ser critério de qualidade, afinal, temos muitos longas bons nacionais que não passam em outros lugares do mundo e não deixam de ser inferiores por isso. Mas é claro que dou valor a homenagem que o pessoal do Festival de Cannes me fez”, comentou Cacá. O cineasta ainda contou para o site HT que tem percebido certa curiosidade estrangeiras a partir das montagens nacionais. “Estamos produzindo 160 filmes por ano com uma grande diversidade. Temos vários gêneros fazendo sucesso como As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, que é de terror. Estamos nos transformando rapidamente em um produto de qualidade o que atrai o público externo”, comemorou.

Marcos Frota tira foto com fãs e ainda abraça uma menina (Foto: Pressphoto)

A Voz do Silêncio empoderada

Logo depois, foi a vez do elenco e equipe de A Voz do Silêncio desfilar pelo tapete vermelho da Rua Coberta em direção ao Palácio dos Festivais. O longa retrata o cotidiano de pessoas normais que vivem em São Paulo. Embora cada um possua a sua particularidade, os personagens são individualistas e instigam o debate da luta pela sobrevivência em uma sociedade com morais deturpadas. “Gostaria que este filme levasse uma reflexão sobre a que nós damos valor na nossa vida. Através da cidade de São Paulo, quis trazer um pouco desta mescla de pessoas. Exatamente por causa desta busca pela diversidade é que o longa conta com oito protagonistas”, comentou o diretor André Ristum.

Elenco do filme A Voz do Silêncio na tapete vermelho de Gramado (Foto: Pressphoto)

A montagem de André é fruto de uma parceria internacional entre o Brasil e a Argentina. De acordo com o ator Nicola Siri, é muito importante que a arte latinoamericana se reúna para criar grandes produções de qualidade. “O cinema argentino é um dos mais importantes do mundo e, às vezes, o brasileiro produz coisas bombásticas. Filmes que se assemelham à televisão e causam graça para fazer dinheiro não me interessam. O André, neste caso, é um diretor incrível que consegue mostrar a história do dia a dia de forma artística. Este longa já está fazendo um sucesso absurdo lá fora”, afirmou. O artista ainda fez um apelo para que mais longas brasileiros sejam exibidos na Argentina e vice-versa. “A rixa, quando é de futebol, faz sentido, mas para as artes não tem nada a ver”, lamentou. Ele aproveitou o espaço também para se mostrar a favor da luta das hermanas pela legalização do aborto.

Equipe caminhando até o Palácio dos Festivais. No trajeto, Marieta foi tietada por muitos fãs (Foto: Pressphoto)

Discussão política logo no primeiro dia

Como sempre, a equipe do longa foi convidada a subir no palco para apresentar o conteúdo. Foi neste momento que a polêmica começou. Nos últimos momentos, o produtor de A Voz do Silêncio, Rodrigo Castellar, pediu alguns minutos para falar ao microfone o seu posicionamento político. “Desculpa gente, não é sempre que temos a oportunidade de falar para tantas pessoas. Não falo pela equipe, mas por mim. Lula Livre”, afirmou. A platéia, logo após, ficou um tanto quanto silenciosa. Algumas palmas tímidas e vaias foram abafadas pelo grito de algumas pessoas da platéia que diziam: “Presidiário, ladrão!”.

Diretor André Ristum apresentando o filme no Festival de CInema (Foto: Pressphoto)

Inclusão já

A 46º edição do festival mais importante do país trouxe uma pauta urgente em sua programação: a necessidade de discutir a adaptação de filmes para deficientes visuais e auditivos. De acordo com a produção, é necessário propor medidas urgentes para que a inclusão se torne uma realidade. “Este movimento é fundamental e não deve ficar só aqui. É uma responsabilidade de toda a sociedade. Precisamos estar aberto para os seres humanos”, comentou Marieta Severo, que também estrela o longa A Voz do Silêncio. A atriz garantiu que sempre reflete sobre como se comunicar com este público na hora que está atuando. “Penso muito porque tenho uma irmã que é surda. Este assunto faz parte da minha vida. Estou sempre refletindo de que forma ela poderá ter acesso e como vai acompanhar as coisas tanto no cinema como na televisão e outros lugares”, comentou.

Dez dias de muitas emoções

Risadas, lágrimas, emoção e suspense, tudo fez parte do roteiro digno de filme desta sexta-feira. Este misto de sentimentos só pode significar que ainda teremos fortes acontecimentos pela frente. “Sei que a seleção está muito forte com filmes excelentes. Temos algo maravilhoso que se chama qualidade e é atrás disso que nós, artistas, estamos sempre. Espero que o público goste do cinema nacional, valorize e prestigie”, afirmou Marieta Severo.

Orquestra Sinfônica de Gramado abre o Festival de CInema (Foto: Pressphoto)