*Por Brunna Condini
Neste ano, nossas casas foram nossos refúgios e também o lugar em que muitos trabalharam, estudaram e passaram o tempo consumindo algum tipo de entretenimento. Aí de nós se não fossem as produções culturais! Viva Nossa Senhora da Arte!
As plataformas de streaming tiveram destaque total, já que através dos seus cardápios pudemos dar um ‘respiro’ para as angústias trazidas na bagagem pelo novo coronavírus. E mais do que analisar algumas das temáticas dos sucessos de 2020, o site HT – com o auxílio luxuoso do especialista em teledramaturgia e pesquisador de audiovisual Valmir Moratelli – elenca também o que você não deveria deixar de assistir (ainda dá tempo!), e as expectativas para o primeiro semestre de 2021.
Entre os destaques das séries mais assistidas no Brasil e no mundo, a diversidade, cada vez mais em pauta, marcou presença com ‘Hollywood’, produção da Netflix que estreou em maio deste ano, com o isolamento já estabelecido por aqui, e recriou na ficção um mundo em plena década de 1940 com atores negros, homossexuais ou asiáticos tendo oportunidades reais na meca do cinema, em Los Angeles. Já outra produção que surpreendeu este ano, ‘Nada Ortodoxa’, também da Netflix, abriga em sua narrativa, através da protagonista vivida por Shira Haas, a diversidade de identidades. Na história, uma jovem de 19 anos, Esther Shapiro, nascida em uma comunidade judaica nos Estados Unidos, se casa com outro membro da religião e foge para Berlim, em busca das suas próprias escolhas. É uma narrativa que arrebata, principalmente por ser uma adaptação de uma história autobiográfica. A série chegou ao espectador em março, no momento da privação da liberdade e tudo o que ela acende é o desejo dela, com uma protagonista doce e determinada. Para além da questão religiosa, a série fala da necessidade humana de pertencimento, dessa busca e da coragem de mergulhar dentro de si. Nada mais sintonizado com o momento. Ah, existe uma torcida forte do público e uma possibilidade de segunda temporada no ar.
Entre as produções mais vistas e famosas com base em pesquisas em sites que medem audiência na TV e nas plataformas de streaming, estão também ‘The Office’, ‘Ozark’, ‘Cobra Kai’, ‘Casamento às Cegas’, ‘All American’, ‘Ratched’, ‘Emily in Paris’, ‘The Umbrela Academy’,‘The Crown’, ‘Virgin River’, ‘La Casa de Papel’, ‘Riverdale’ e Shameless’, entre outras da Netflix. Destaque especial para ‘O Gambito da Rainha’, que virou um fenômeno mundial poucos dias após o seu lançamento, em outubro. A minissérie sobre uma jogadora de xadrez que parece invencível, traz para a roda o xadrez como pano de fundo do drama dos personagens, com uma protagonista (a atriz Anya Taylor-Joy), à frente do seu tempo, que abre a discussão também da questão do preconceito de gênero, entre outros dramas pessoais , como a adicção em álcool e calmantes. A produção além de estar desde então entre as 10 mais vistas da Netflix, também é tida como favorita para levar prêmios como o Emmy e o Globo de Ouro.
Os assinantes também recorreram às séries brasileiras como o suspense policial ‘Bom Dia, Verônica’, da Netflix, protagonizada por Tainá Müller em ótima performance, como uma escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo, que após presenciar um suicídio, decide investigar por conta própria dois casos esquecidos envolvendo mulheres agredidas e violentadas por um criminoso que usa a internet para cometer seus crimes. Também protagonizam a trama, em dobradinha arrebatadora, Camila Morgado e Eduardo Moscovis. Ela faz uma mulher oprimida e abusada, ele, vive seu marido, um policial violento, que se revela um serial killer. O público aqui também tem pedido bis em forma de nova temporada.
Além disso, também destacamos duas séries brasileiras com o selo Globoplay que agradaram bem a audiência: ‘As Five’, produto derivado de ‘Malhação- Viva a Diferença’, em que as cinco amigas protagonistas do título aparecem mais amadurecidas, aos 25 anos. E ‘Desalma’, suspense sobrenatural protagonizado por Cássia Kis na pele de uma feiticeira de arrepiar.
O ano também destacou séries que se mantém com seus públicos fieis, como ‘Grey’s Anatomy’, que já está em sua 17ª temporada, agora em exibição na Netflix, na Globoplay e também na Amazon Prime Vídeo. Protagonizada pela icônica Ellen Pompeo, vivendo há 16 anos Meredith Grey, na criação da roteirista Shonda Rhimes, a série continua cativando por trazer histórias com temas relevantes, representatividade, amor e muito drama. A ‘16ª temporada foi ao ar este ano, com quatro capítulos a menos, por conta da pandemia da Covid-19. Na 17ª – que estreou em novembro nos Estados Unidos e deve chegar oficialmente ao Brasil somente em 2021 – personagens queridos de outras temporadas voltarão de alguma forma na trama, e a série vai abordar a pandemia, com os médicos na linha de frente, mostrando a rotina exaustiva dos profissionais que se arriscam para prestar esse serviço fundamental.
Séries deste tipo sempre atraem o interesse, ainda mais neste 2020. Vide o nosso ‘Sob Pressão’ da Globoplay, que em 2020 fez capítulos especiais e emocionantes para tratar da situação nos hospitais com a Covid.
E há quem diga, que entre os destaques dos cardápios das plataformas de streaming, algumas produções conseguiram ‘prever’ a pandemia e a situação de caos instalado por ela. Como por exemplo, a série ‘Explicando’, da Netflix, que na segunda temporada, no episódio intitulado ‘A Próxima Pandemia’, lançado ano passado, reuniu especialistas para analisar a trajetória da humanidade em relação aos vírus e doenças, salientando que o maior risco para uma civilização é uma pandemia. Os especialistas também lembraram de outras crises mundiais, como a peste negra, no século XIV, a crise da H1N1, (2009), e o recente surto do SARS (2003). A série concluiu ainda, que o surto global se espalharia rapidamente, seria caracterizada por uma gripe viral, e provavelmente viria da Ásia. A Netflix também lançou este ano a ‘Explicando o Coronavírus’. Vale conferir.
Na série ‘Boca Boca’, também Netflix, uma trama ficcional fala de uma infecção misteriosa, transmitida pelo beijo, que contamina adolescentes e deixa uma cidade do interior em pânico. Além da rápida infecção de todos que têm contato entre si, a epidemia escancara a desigualdade da sociedade em questão. Qualquer semelhança é mera coincidência. Parece um roteiro criado hoje, mas a série foi idealizada há dois anos por Esmir Filho.
Para começar 2021 assistindo
Nosso especialista Valmir Moratelli escolheu a dedo as séries para indicar para nossos leitores. “Tem uma série que tem feito muito sucesso na Netflix que é a ‘8 em Istambul’. Estou assistindo no momento e indico muito. Fala das histórias de pessoas muito diferentes que se cruzam nesta cidade tão cosmopolita, que fica entre o Ocidente e o Oriente, e já passou por tantos reinos, tantos impérios dominaram Istambul. É uma cidade muito rica. Essa série é uma boa pedida para maratonar, principalmente se pensarmos neste mundo tão caótico em que a gente vive, e que precisamos respeitar as diferenças de forma muito séria”.
“Agora, entre as séries que estão para estrear em 2021, muitas foram canceladas ou foram suspensas por conta da Covid-19. Como por exemplo, ‘The Crown’, que estava para ter uma nova temporada filmada entre março e abril. Provavelmente vai atrasar por conta da pandemia. Vamos ver como vão se comportar todos os países que fazem essa parte da produção, em relação à vacinação. Outra série que estava sendo gravada e é um dos maiores sucessos da Netflix, aguardada para 2021, é ‘Sex Education’. A audiência da primeira temporada foi muito boa (2019), e a segunda, em 2020, manteve o pique. Por conta disso, a Netflix já anunciou mais uma temporada para 2021″, diz .
Mais dicas do Moratelli:
Little Fires Everywhere (Amazon Prime) – Uma família “perfeita” é afetada pela chegada misteriosa de uma mãe solteira e sua filha. Os oito episódios discutem, de forma muito inteligente, questões sobre racismo estrutural e privilégio de classe.
The Undoing (HBO) – Seis episódios que prenderam a atenção do público na velha fórmula do mistério “quem matou?”. Nicole Kidman interpreta uma mãe que vê sua família desmoronar após um crime que envolve seu marido, vivido por Hugh Grant.
The Crown (Netflix) – A quarta temporada da série que desnuda a realeza britânica é incendiária. Além das relações de poder entre Elizabeth II e a primeira-ministra Margaret Thatcher, tem o casamento bombástico de Charles e Diana. Imperdível!
Os Segredos de Saqqara (Netflix) – É um documentário com imagens surpreendentes do trabalho de uma equipe de arqueólogos egípcios, que encontra uma tumba preservada de mais de 4.000 anos e tenta decifrar a história dessa descoberta.
Diário de um confinado (Globoplay) – Um exemplo de que “menos é mais”. Poucos atores, zero interação física e criatividade foram a receita dessa série de humor cotidiano de Bruno Mazzeo, filmada dentro de casa.
Upload (Amazon Prime) – Em 2033, pessoas que estão próximas da morte podem fazer o “upload” para a realidade virtual, para seguirem numa “pós-vida digital”. Quando Nathan, um programador playboy, sofre acidente de carro, sua namorada faz o seu “upload”.
Sankofa: a África que te habita (Netflix) – Este documentário brasileiro percorre os países de onde saiu a maior parte das pessoas escravizadas que chegaram ao Brasil. São memórias do trágico comércio da escravidão.
Grace and Frankie (Netflix) – A sexta temporada estreou em janeiro, mas vale ser lembrada. As personagens de Jane Fonda e Lily Tomlin enfrentam os dilemas na terceira idade. A próxima e última temporada teve as gravações interrompidas por causa da pandemia.
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