O sucesso de “Toda a Saudade do Mundo”, escrita e dirigida por Régis Trovão Rodrigues, fez com que a temporada, que acabaria no dia 30 de outubro, fosse estendida até o dia 18 de dezembro. Estrelada por Paulo Vilhena e Talytha Pugliesi, a peça tem nomes como Mariana Barbosa e Marcos Roza e uma participação especial, em vídeo, de Sérgio Guizé. Em cartaz desde o dia 25 de setembro no Teatro Cemitério de Automóveis, com apenas 33 lugares, a montagem tem um ar intimista que faz com que o público se sinta observando de perto a história do artista plástico Julio, abandonado pela mulher, Julia. “O Julio é um artista plástico em uma fase não muito criativa da vida, e a maior falta dessa inspiração é a partida da mulher. Ele entra em uma espiral de saudade, solidão e tristeza. É um cara muito sensível, que tem uma verve artística muito forte e qualquer sentimento se aflora muito. Nesse caso, a saudade o abala demais”, diz Paulo, que compartilha a verve artística com o personagem, mas não chegou a ter viver um momento de vazio total. “Eu não me lembro de ter ficado em uma vácuo criativo, até a falta de criatividade na composição é um momento de respeitar”.
De acordo com o ator, o Cemitério de Automóveis, com 33 lugares, é uma forma de se aproximar do público. “Eu tenho uma relação com esse teatro mais underground, e, nesse caso especificamente, tem uma ligação do palco com a plateia bem próxima. É bem intimista, falamos entre nós, mas a plateia está ouvindo, está ali dentro, como se fosse um voyeurismo”, explica. “E temos um retorno muito bom, conseguimos cumprir a função não só como artistas, mas do teatro mesmo, que é afetar, levar a reflexão, sentimentos. Falar de saudade é um tema universal, porque é um sentimento que todo mundo já experimentou. As pessoas meio que são transportadas para momentos pessoais, bons, ruins, tristes, felizes… No final, o feedback é muito potente no sentido de afetar, criar sensações. Isso é o mais legal”, comemora.
A obra é uma homenagem ao escritor, ator, dramaturgo, diretor e cineasta Domingos de Oliveira (1936-2019): os personagens transitam entre seus fluxos narrativos e suas próprias narrações, quando explicitam suas posições. A apresentação também traz ao palco, através de citações, artistas que têm uma trajetória que dialogam diretamente com o universo retratado na peça: o escritor, poeta, ator, cantor, compositor e professor de francês Paulo de Tharso, o dramaturgo, ator e diretor Mário Bortolotto (proprietário do teatro onde é realizado o espetáculo), entre outros. “Temos algumas referências de artistas que admiramos, temas que foram bastante relevantes na vida deles. Tem situações de filmes do Domingos, o Paulo de Tharso que também é super emblemático na noite paulistana, genial. Fazemos uma homenagem a eles no final… como se a gente se abraçasse e se inspirasse, falando sobre a relação humana no sentido mais poético e profundo”.
Fazer teatro sempre foi desafiador, mas a liberdade de expressão é fundamental no palco e fora dele. Ao final da peça, o elenco se une e lê o artigo quinto. “Sempre foi difícil viver de arte, sempre corri atrás de produzir o que acho revelante levar para o público e sociedade, de me produzir. A questão de realização sempre foi uma batalha pessoal e artística, mas fui criando meu caminho, contando sempre com parceiros. No final da peça citamos o artigo quinto, sobre liberdade de expressão: isso é intocável, é um direito constitucional, não podemos abrir mão dele jamais”, ressalta.
São tantos personagens ao longo da carreira, mas Paulo ainda tem alguns sonhos: “Eu sempre penso em dois viés quando vou fazer um personagem: na função social que pode ser exercida e uma investigação pessoal artística de ir mais longe, sair de onde eu já tenha ido e entrar num processo diferente de criação. Tenho vontade de viver um homossexual, transexual, é uma investigação artística, ir mais profundamente em um gênero que eu não tenho tanta profundidade assim, apesar de conviver com alguns. Acho que todo personagem passa um pouco por tudo, e as emoções independem de gênero, mas, socialmente, é uma maneira de refletir, trazer discussões na mídia, rodas de bares”, diz. “É o objetivo da arte levantar questões. É como eu penso. Não é polemizar, mas fazer refletir, tocar em pontos duros, difíceis ou tristes da sociedade, que vá estimular alguma reflexão”, destaca.
Após “Toda a Saudade do Mundo”, Paulo já tem novos projetos: “Tem a continuação do filme da Turma da Mônica, em que vivi o Seu Cebola, pai do Cebolinha. Foi uma delícia o processo, a molecada é demais, super inteligente, assustadora na rapidez de aprendizado, realização. Alguns nunca tinham feito cinema mas tem espontaneidade e inteligência”, conta. Além disso, ele se prepara para um novo projeto na Globo e mais uma peça. “Ainda estou começando a estudar, mas é sobre um artista plástico canadense fantástico, vale mergulhar na história dele”, adianta.
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