O musical “Ou tudo ou nada” estreou no último fim de semana nos palcos do Theatro Net Rio com um elenco recheado de talentos. Dirigida por Tadeu Aguiar e adaptada por Artur Xexéo, a peça inspirada no filme britânico lançado em 1997 conta a história de seis personagens que passam a fazer shows de striptease para pagar as contas. Victor Maia vive Ethan, um desempregado que alterna a vida fazendo pequenos serviços como encanador e pintor e não sabe dançar. Totalmente diferente do personagem, o coreógrafo Victor alterna seu tempo entre os ensaios, a peça e o trabalho no quadro “Lata Velha”, do “Caldeirão do Huck”. Para ele, a dança ajuda nos movimentos em cima do palco. “Por mais que o ator tenha um treinamento para saber se colocar bem em cena e se mover, ser coreógrafo, que é um diretor na dança, me fez adquirir um olhar mais apurado do espaço cênico e, com isso, consigo solucionar melhor os problemas que surgem no momento da cena. É como agir no improviso de forma mais madura”, comparou ele, que concilia as carreiras sem dificuldades. “Além disso eu ainda dou aula, decoro texto, aprendo canções e malho para aguentar. Na verdade consigo com a ajuda e generosidade dos diretores e produção. Faço tudo há cinco anos e dou conta”, disse. Ele se desdobra, estuda e garante que se concentra onde está para não errar e, assim, render melhor.
Estar em um musical que, apesar de ser uma comédia, trata de assuntos delicados com dança é uma sensação diferente. Ele, que costuma dirigir as coreografias, contou que ser comandado é uma experiência interessante. “Adoro colocar a minha visão artística em um produto, mas, aqui no musical, o coreógrafo decidia todos os passos e era muito bom não precisar pensar nisso. Dá um descanso para a cabeça. Claro que, às vezes, surgiam umas sugestões, mas eu deixava para lá”, confessou. Se no “Lata Velha” é ele quem manda, a comparação com o personagem é inevitável: “É um desafio parecido com o que Ethan e os amigos passam. Em ambos os casos eles nunca tiveram acesso a uma expressão artística e, em pouco tempo, mudam isso. No programa nós temos que fazer nascer uma pessoa capaz de dançar, interpretar e cantar de forma segura. Eles chegam crus na minha mão e essa é a parte que eu mais amo: transformar as pessoas. Elas saem diferente de como chegaram, gratas, com brilho nos olhos. Não tem preço”, declarou.
Na peça de striptease, era natural que os atores ficassem nús. Para Victor, o desafio acabou logo no começo dos ensaios, já que a forma como o espetáculo se desenvolve justifica as cenas. “Nunca havia ficado nu em cena. Quando li o texto fiquei meio tenso, porque eu já fico parcialmente pelado na minha primeira cena e totalmente na última. É desafiador e requer coragem. É necessário encarar várias questões e se organizar mentalmente. A peça fala sobre isso de uma forma complexa e poética, de modo que se torna tão bem colocado que eu me sinto protegido. Então eu tiro a roupa e abro um sorriso. Confesso que já estou gostando! Se pudesse só faria peça pelado, já ando em casa assim”, brincou ele, confessando que a preparação não foi apenas mental, mas também física.
“Ensaiamos muito. É um espetáculo difícil porque, apesar da comédia, trata de temas delicados dentro do universo masculino. Sem contar que o musical tem canções difíceis de serem cantadas parado, ainda mais dançando. Unir essas atividades requer muito preparo. Malho e corro todos os dias, cantando às vezes”, disse. Como os personagens são homens comuns, desempregados, sem perspectiva, ele teve que emagrecer cinco quilos. “Para ficar mais esquisito, sofrido”, explicou.
Perguntado se há uma pressão para que o espetáculo repita o sucesso das bilheterias dos anos 90, o ator garantiu que só se preocupa em transmitir sentimentos verdadeiros. “O espetáculo já foi um sucesso na Broadway e aqui não vai ser diferente. Contar qualquer história é um desafio, mas a pressão é só conseguir passar as questões do universo masculino com seus anseios, sonhos e desafios. Queremos que o público, principalmente os homens, tão cobrados por postura, segurança e conduta social, se identifiquem e saiam do teatro mais leves, livres de armaduras que a sociedade impõe. Acho que o sucesso da peça está aí e eu estou muito orgulhoso por fazer parte disso”, declarou. Nós vamos correr para o teatro já.
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