Vera Fischer no teatro: ‘Quando fiz 70 anos, achei que não iria mais ter público. A gente fica com isso na cabeça’


Diante desse receio e ver a realidade de um teatro repleto para a montagem “Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito”, a atriz, que gravou seu primeiro filme na Netflix e está na TV na reprise de “O Clone”, viveu um carrossel de emoções e deu muitos pulinhos de vibração no palco, enquanto era aplaudida de pé, ao lado de seus colegas de cena, Mouhamed Harfouch e Larissa Maciel. “Hoje, eu entrei muito nervosa, porque, quando vi esse monte de gente na plateia, eu falei: ‘Meu Deus, vieram ver a nossa peça. Isso simboliza muito, porque eu fiz 70 anos em novembro do ano passado. Então, eu achava que não ia mais ter público, que ninguém mais ia querer me ver. A gente fica com isso na cabeça, tem essa mentalidade, mas também quando vai pra cena, entra com tudo”

Vera Fischer brilha na estreia do espetáculo Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito (Foto: Carlos Costa)

* Por Carlos Lima Costa

Semelhante aos jovens que ingressam na carreira artística, a atriz Vera Fischer viveu um carrossel de emoções na estreia da comédia ácida Quando Eu For Mãe Quero Amar Desse Jeito, no Teatro Clara Nunes, Rio. Talvez por isso mesmo, tenha explodido de felicidade e, ao final da apresentação, ao lado dos colegas de cena, Mouhamed Harfouch e Larissa Maciel, e diante da plateia que entusiasmada aplaudia de pé, ela deu uma sequência de pulinhos no palco. Era muita vibração. “Hoje, eu entrei muito nervosa, porque quando vi esse monte de gente na plateia, eu falei: ‘Meu Deus, vieram ver a nossa peça. Isso simboliza muito, porque eu fiz 70 anos em novembro do ano passado. Então, eu achava eu não ia mais ter público, que ninguém mais ia querer me ver. A gente fica com isso na cabeça, tem essa mentalidade, mas também quando vai pra cena, entra com tudo”, enfatiza ela, que, no momento, pode ser vista na reprise de O Clone, na Globo, e que este ano estreia seu primeiro filme na Netflix, uma comédia natalina.

A vibração de Larissa Maciel, Vera Fischer e Mouhamed Harfouch enquanto são aplaudidos de pé (Foto: Cristina Granato)

O receio estava relacionado também ao temor que sentiu na pior fase da pandemia da Covid. Aliás, se não fosse a crise sanitária, esse espetáculo teria estreado em abril de 2020. “Uma época, eu achei que o teatro nunca mais ia voltar, porque as pessoas teriam medo de ir por causa da doença e, nós também, com medo de abraçar, beijar o outro e se contaminar. Então, hoje, realmente, estou tão feliz por ver também essas pessoas com saúde. A gente lamenta muito por quem se foi. E, agora, é torcer que pare tudo, que acabe tanto a Covid quanto a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Queremos continuar fazendo teatro”, pontua.

Aos 70 anos de idade e mais de 50 de carreira, Vera se mostra plena no palco. “Eu estou superbem, mas, claro que um corpo dessa idade sempre tem umas dorzinhas, todo mundo tem. Mas se temos um bom trabalho que amamos, isso já é quase 100% de tudo, porque dá saúde e energia. Ficar em casa, parada, sem fazer nada, não é legal. O meu negócio é trabalhar. Sempre foi e desde os 18 anos”, ressalta a eterna Miss Brasil 1969.

Vera Fischer interpreta uma aristocrata com preconceito com relação à escolha do filho para casar (Foto: Cristina Granato)

Entre os famosos que foram prestigiar estavam os atores Paulo Betti, Zezé Polessa e Cleo, com o namorado Leandro D’Lucca, e a jornalista Leilane Neubarth, acompanhada da namorada, Gaia Maria, e só foram elogios para a musa. “Voltar para o teatro é uma alegria. Voltar para o teatro com a Vera Fischer é uma alegria dobrada. É um texto divertido, delicado, engraçado, cruel, um pouco de tudo que a gente precisa. Muito bom”, frisou Leilane.

Ao lado de Larissa Maciel, Mouhamed diz: “A Vera é uma delícia, dona de uma sensibilidade, muito disposta ao exercício, ao jogo teatral. Adoro contracenar com ela” (Foto: Cristina Granato)

O mesmo sentimento por Vera é compartilhado por Mouhamed e Larissa, que pela primeira vez estão trabalhando com a atriz. “A Vera é uma delícia, dona de uma sensibilidade, muito disposta ao exercício, ao jogo teatral. Adoro contracenar com ela e tem sido um aprendizado grande para todos nós. Eu acho lindo ver uma mulher no auge da sua idade e carreira, se jogar no teatro com toda força e nos permitir criar esse universo que temos na peça”, enalteceu Harfouch.

“A Vera é uma pessoa muito querida, agradável de se conviver, tem uma energia contagiante. Acho que fica claro em cena o quanto ela tem de energia e é sempre muito bom poder trabalhar com quem tem tanta experiência como ela”, acrescentou Larissa. Vera compartilha do mesmo sentimento. “Essa companhia é maravilhosa, porque o diretor (Tadeu Aguiar) e o escritor (Eduardo Bakr) são pessoas maravilhosas e a Larissa e o Mouhamed são dois queridos”, enalteceu a estrela de novelas como Mandala, Laços de Família, Os Gigantes, Perigosas Peruas e Salve Jorge.

A peça aborda uma conturbada relação entre mãe, filho e nora. Dulce Carmona, personagem de Vera, recebe a notícia de que seu herdeiro, Lauro vai casar com uma mulher que ela não conhece. Obcecada em dar um futuro digno ao filho, ela entra em conflito com Gardênia. “Acho que todo mundo tem esse estigma de conhecer o sogro ou a sogra, essa polarização das relações. A mãe fica sempre muito preocupada com o filho. São arquétipos da sociedade e isso é muito comum. A peça brinca com esses arquétipos elevados à enésima potência. É uma peça que começa num realismo, vai para um surrealismo e com um humor muito ácido. Isso dá uma voltagem maravilhosa ao espetáculo”, relata Mouhamed que depois de realizar participação na novela Nos Tempos do Imperador, gravou a série Rensga Hits!, do Globoplay, e em breve vai começar a rodar um longa-metragem.

De ascendência árabe, o pai Nadim nasceu na Síria, e veio para o Brasil buscando dar um futuro melhor para a família, Mouhamed comentou o conflito entre Rússia e Ucrânia, onde os ucranianos estão buscando refúgios em outros países para fugir da guerra. “É muito triste ver pessoas abandonando tudo que construíram durante uma vida inteira e precisando se refugiar em outros locais para poder sobreviver e viver dignamente”, lamentou.

Cartaz do espetáculo em temporada no Teatro Clara Nunes, no Rio

Cartaz do espetáculo em temporada no Teatro Clara Nunes, no Rio

Ele também considera emocionante ver o teatro lotado. “Depois desse inferno, desse distanciamento, é muito importante esse recomeço, a felicidade é imensa. Me emociono demais, porque é um hiato de dois anos, onde entramos em uma geladeira e ficamos distantes daquilo que nos é mais caro, daquilo que a gente mais ama que é o contato com o público. Então, retomar isso nesse momento pós todos vacinando, se cuidando é muito bonito. Sem falar que é uma indústria que alimenta muitos profissionais, todos parados precisando retomar. Precisamos prestigiar todos os colegas, porque todos passaram um inverno muito rigoroso precisando resistir, estar de pé para continuar com o seu ofício”, apontou, apoiado também por Larissa: “A gente estava aguardando muito esse retorno aos palcos e saber que o público também estava com a mesma saudade que a gente é muito gostoso.”

Este ano, Vera Fischer vai poder ser vista em seu primeiro filme da Netflix (Foto: Carlos Costa)

Este ano, Vera Fischer vai poder ser vista em seu primeiro filme da Netflix (Foto: Carlos Costa)

A peça que já havia sido encenada durante um mês no Sesc Copacabana e que agora fica em cartaz no Teatro Clara Nunes até 17 de abril, deve ser apresentada pelo Brasil. “Depois a gente quer rodar o mundo. Queremos ir para Portugal, Angola, para a comunidade brasileira em Orlando”, disse Vera, que nos últimos dois anos chegou a desenvolver outros trabalhos longe dos palcos. “Fiz dois filmes, é bom também porque você também aprende a fazer coisas, por exemplo, trabalhar com Netflix, foi a primeira vez, eu nunca tinha trabalhado, Fiz um comercial pra Disney, que foi ótimo. Assim, tenho uns projetos novos vindo por aí”, disse Vera.