Esta é a última semana da peça ‘O incansável Dom Quixote’, dirigida por Reinaldo Oliveira. Semana passada, ela foi muito comentada nas redes sociais por ter sido prejudicada por falta de luz, ocasionada por um não-pagamento da conta por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro, mantenedora do Teatro Café Pequeno, no Leblon. Como forma de protesto, o ator Maksin Oliveira resolveu atuar no meio da rua Ataufo de Paiva, também no Leblon, como contamos aqui.
“O descaso dos políticos com os artistas e com a população é muito grande. Eu passo o dia me preparando para atuar, como coisas mais leves e ensaio. E o público precisa se deslocar até o teatro para nos assistir, para valorizar a cultura brasileira e apoiar a gente. Nunca passou pela minha cabeça não exibir a peça, porque também estaria faltando ao respeito com quem queria ver. Foi um grande turbilhão de pensamentos”, conta Maksin. O espetáculo já foi muito bem-conceituado desde sua primeira temporada, em 2013. Finalizando a terceira, o texto adaptado do romance de Dom Quixote já participou tem um currículo invejável, com passagem pelos festivais mais importantes do país e garantiu a Maksin e ao espetáculo diversos prêmios, como o de Melhor Ator no 3º Festikaos, no 5° Festival Nacional de Teatro de Duque de Caxias e no 5º Festival Nacional de Teatro de Varginha. Neste último, a peça ganhou também Melhor Diretor. Curiosos que somos, fomos conversar com o Maksin Oliveira para saber todos os detalhes de quarta-feira passada e conhecer melhor o ator.
Site HT: Como foi chegar para trabalhar na quarta passada no Teatro Café Pequeno, no Leblon, e se deparar com a falta de luz?
Maksin Oliveira: A prefeitura não pagou a conta de dezembro dos teatros municipais, então, isso já vem acontecendo sistematicamente. O Teatro Café Pequeno já teve a energia cortada por algumas horas na semana retrasada, por causa disso, inclusive, estava muito calor na sala porque o ar-condicionado não conseguiu gelar a tempo. Mas, no fim do dia, a Light religava. Sempre chego umas duas horas antes do espetáculo, por volta das cinco e quarenta, e estava sem luz, mas as pessoas do teatro disseram que voltaria às seis da tarde. Passou a hora e não havia voltado. Conversei com o diretor e concordamos em fazer mesmo assim. Houve até uma indagação se fazíamos na praça ou lugares mais iluminados. Porém preferimos a frente do teatro pela simbologia.
HT: Qual repercussão você queria causar quando decidiu fazer o espetáculo?
MO: Ninguém sabia que a prefeitura não tinha pagado a conta de luz de dezembro. Nem a classe artística e o público. Queria dar visibilidade a isso. Mostrar que é preciso respeito com a gente. Não queria entubar isso. É preciso que todos vejam o tratamento que a prefeitura está dando à cultura. A gente não inventou nada, só pedimos algo simples e básico. O barulho foi tão grande que depois do espetáculo, por volta da meia noite, a prefeitura ligou para a administração do teatro dizendo que a luz ia voltar.
HT: Você já tinha feito alguma apresentação nas ruas que pudesse te auxiliar tecnicamente no momento de representar ‘O incansável Dom Quixote’ dessa maneira?
MO: Já viajei o Brasil e fui para a Europa fazendo teatro de rua. Então, tinha uma ideia do que fazer, técnicas para driblar o problema. Mas é completamente diferente quando uma peça é feita pensando naquela linguagem. O nosso espetáculo não tem nenhum problema substancial com o som, mas a gente precisa muito da luz. Além disso, a rua onde fizemos é muito complicada, a gente briga com o som de carros e ônibus. Mas o importante é que todos reconheceram e entenderam a minha atitude e compraram a briga. Quando a gente terminou, já tinham veículos dando a notícia. Eu não percebi se as pessoas que passavam na rua pararam para assistir, mas a calçada ficou lotada. Durante o meu alongamento, as pessoas perguntavam o que estava acontecendo e acabavam ficando para conferir. Foi muito bom.
HT: O que você acha que levou a prefeitura a ter esse descaso com os teatros municipais?
MO: Em um regime de exceção as primeiras coisas que deixam de lado é a arte e a cultura. O Ministério da Cultura acabou, depois voltou e se fundiu à educação. Agora, não temos nenhum dos dois, pelo visto. Colocar uma peça no palco no Rio de Janeiro, hoje em dia, é um ato político, porque não conheço nenhum espetáculo financiado pela prefeitura. Não há incentivo.
HT: A sua foto na frente do teatro teve uma repercussão muito grande nas redes sociais. Muitas pessoas começaram a questionar o papel da cultura brasileira atualmente. O que essa fotografia representa para você?
MO: Representou resistência. Só vi o vídeo uma vez porque não tive tempo de lidar com todos os comentários. Mas nós, aristas, não vamos deixar que sucateiem a cultura. A gente está lutando de cabeça erguida. Temos que valorizá-la. O desfile das escolas de samba é algo que só tem aqui, por exemplo. Se tirarmos as coisas que nos representam, perdemos nossa identidade.
HT: A sua publicação no perfil do Facebook da peça já teve mais de 12 mil compartilhamentos. Fora outros lugares que postaram a opinião sobre o ocorrido e que acabaram recebendo muitas curtidas. Como as pessoas reagiram ao seu protesto?
MO: Muitas pessoas do meio vieram me parabenizar pelo meu ato. Algumas delas, eu nem conhecia. Eram tantas mensagens que nem consegui acompanhar. A galera do espetáculo ‘Tom na fazenda’ pediu no final da apresentação para o prefeito pagar a luz, por exemplo. Teve uma repercussão muito bacana. Na quinta, após o ocorrido, a casa estava lotada. Não temos nem patrocínio para divulgar, as primeiras semanas são fracas, mas o boca a boca ajudou muito.
HT: Na televisão, seus maiores personagens foram em “Malhação”, 2013, e “A Regra do Jogo”, em 2016. Enquanto isso, no teatro a lista é extensa. Isso acontece por alguma restrição do mercado?
MO: As circunstâncias me levam a fazer mais teatro. Fui convidado para fazer novela na Globo por causa do meu filme ‘Doido pelo Rio’. Entre Malhação e A Regra do Jogo, montei a peça do Dom Quixote e ficamos um bom tempo rodando a América Latina. Às vezes, recebia convite para fazer televisão e não podia por causa da agenda internacional.
HT: Com o fim da terceira temporada da peça, vamos ter a oportunidade de te ver nas telinhas?
MO: Bastante, na verdade. Esse ano estarei na terceira temporada da série “Conselho Tutelar”, na Record, interpretando o personagem Alexandre. Inclusive, fiz esse papel antes de entrar em cartaz agora, com o espetáculo. Mês que vem, Maio, estreio o longa “Estamos Vivos” nos cinemas, com direção de Filipe Codeço, onde vou atuar como Miguel.
Veja um Teaser da segunda temporada de ‘Conselho Tutelar’:
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