“Tem sido difícil consumir excesso de notícias e acontecimentos junto com o isolamento”, diz Eriberto Leão


Desde quinta-feira (20), o ator estreou “O astronauta”, projeto plural que envolve peça teatral apresentada via streaming (e com público presencial quando for possível), websérie, minissérie em realidade virtual, e entrevistas através de lives, durante todo o processo. Eriberto também fala do isolamento, que tem passado em família, longe do Rio. “É muito diferente de um monge que decide se isolar voluntariamente em uma cela de mosteiro, sem acontecimentos chegando de todos os lados”, pontua

*Por Brunna Condini

Nada será como antes pós-coronavírus. Será? Não sabemos. Mas nós todos, de alguma forma, começamos a repensar como vivemos, trabalhamos, nos comunicamos e nos relacionamos. Pensando nisso, convidamos Eriberto Leão para falar do seu novo projeto, “O Astronauta”, que estreou nesta quinta-feira, no Instagram. A ação é múltipla e acompanha os novos tempos: envolve peça teatral apresentada via streaming e presencial, websérie, minissérie em realidade virtual e entrevistas. Tudo transmitido simultaneamente no Instagram, Youtube e Facebook, para contar a história de um astronauta que é enviado ao espaço para uma missão intergaláctica. Essa viagem o leva a uma jornada interior com reflexões sobre a existência humana e a sua própria existência. O projeto é inspirado na cultura pop da ficção científica, nos filmes “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Solaris” e “Her” e no repertório musical de David Bowie, em especial a música “Space Oddity”.

Eriberto Leão apresenta: “O Astronauta”

Você estreou esse “pacote” de projeto, mas as ações vão ser em etapas ou simultâneas? “Tudo vai ser feito gradativamente, como pílulas. Primeiro os teasers, depois diários pré-viagem, realidade virtual e finalizaremos com a viagem espacial que é a peça. Vamos nos metamorfoseando. É impossível planejar cartesianamente nesse momento”, diz o ator. E dá mais detalhes: “A websérie tem oito capítulos, e começam a ser exibidos até dia 8 de outubro. Nela, os espectadores acompanham a preparação do personagem para a viagem, os medos e os sonhos. Já a minissérie de três capítulos em realidade virtual estreia 29 de setembro, e oferece uma experiência imersiva de uma viagem pelo espaço com seus planetas e nebulosas. Na sequência, possivelmente em novembro, será a vez da peça teatral em transmissão ao vivo, e nela acompanhamos a viagem propriamente dita. Agora, a peça física, com público, provavelmente só no início do ano que vem”.

O projeto, idealizado pelo diretor José Luiz Jr e desenvolvido em parceria com Eriberto, tinha estreia programada como espetáculo teatral para o início deste ano, quando tudo parou. “Agora, queremos abrir as portas da percepção do espectador. Fazer a junção entre a viagem espacial e a viagem para dentro de si mesmo. A alquimia diz que o universo é mental. É essa a jornada espacial”, detalha sobre o trabalho, que por conta da pandemia, criou ramificações criativas que o fazem ainda mais atual.

O cenário que vivemos mundialmente segue transformando as relações e as linguagens na arte e na vida. De olho nisso, o ator pretende alcançar ainda mais espectadores. O projeto é inspirado na cultura pop da ficção científica. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência? “Não vejo uma coincidência que é significativa como mera coincidência. Vejo como sincronicidade”, aponta. “Estamos criando intuitivamente uma nova estética. Não temos outra alternativa”.

Eriberto, com o astronauta, fala diretamente com o público, dividindo suas questões e angústias. A ideia, é oferecer uma espécie de reality show em streaming, em que todas as pessoas na Terra (os espectadores) podem acompanhar a viagem do astronauta 24 horas por dia. Mas quando a jornada vai avançando, essa comunicação vai desaparecendo, e o astronauta vive a experiência do isolamento completo.

Além da tecnologia facilitar meios para a arte continuar sobrevivendo em meio à pandemia, muitos acreditam que o teatro transmitido via streaming pode ter chegado para ficar, como bem disse o diretor Aderbal Freire-Filho, e no futuro pode nascer uma 9ª arte vinda disso. O que acha? “Eu vejo como uma nova estética. O teatro já vem se mesclando com a tecnologia há tempos. Câmeras e vídeos não são novidade para as artes cênicas. O novo é o meio e a nova relação entre tecnologia e as artes. O meio pelo qual o receptor, que é o público, recebe a mensagem. E se “o meio é a mensagem”, qual a mensagem desse novo meio? Isso realmente me interessa”, filosofa.

Isolamento em família

Além da estreia da peça presencial ter sido adiada, o ator viu a novela “Além da Ilusão” a nova das 18h da Rede Globo, de Alessandra Poggi com direção de Pedro Vasconcelos também ficar para 2021. Mas Eriberto não se queixa. Tem ficado durante o período de quarentena com a mulher, a também atriz e ativista da causa animal, Andrea Leal, e os filhos João, 9 anos, e Gael, 2, na Região Serrana do Rio de Janeiro, e tem trabalhado de lá.

O que tem sido mais difícil em ficar isolado? “Somos uma “espécie que sabe”, (parafraseando o belo livro de Viviane Mosé) e sabemos que somos seres sociais. Nossa sociedade foi construída a partir das relações sociais, da linguagem e da comunicação. Estamos isolados, mas nos comunicando. O difícil, para mim, tem sido o excesso de informação junto com o isolamento, notícias e acontecimentos mundo afora. É muito diferente de um monge que decide se isolar voluntariamente em uma cela de mosteiro, sem informações chegando de todos os lados”

Eriberto com os filhos Gael e João na região serrana do Rio, onde passam a quarentena (Reprodução Instagram)

Se fortalecendo na proatividade, na família e na arte, ele afirma que tem gostado de experimentar essa vida fora da metrópole e a convivência mais intensa em família. “Eu e a Andrea reforçamos ainda mais nosso casamento. E a relação entre nós e os meninos se estreitou absurdamente”, revela.

Você tem quase 50 anos, como avalia o trajeto até aqui? “Sou bem-aventurado. Tenho muita gratidão pela minha história e pelas histórias que ajudei a contar, no teatro, cinema e televisão. Tenho 48 anos, o 1o ato nem terminou ainda. Tem muita história pela frente. Que venha o 2o ato. Aprendi que amar e mudar as coisas, me interessa mais”.

Andrea Leal e Eriberto Leão: o casal está junto há mais de 10 anos (Divulgação/Globo)