O Teatro Ipanema nasceu nos anos de chumbo da ditadura militar. Para sermos mais precisos, no dia 9 de outubro de 1968. Neste cenário, não é difícil imaginar o quanto a instalação foi significativa para a resistência da cultura na época e para a própria identidade do bairro. Idealizado pelos diretores e atores Rubens Corrêa e Ivan Albuquerque, o lugar fez história com seus espetáculos musicais e teatrais, além de representar uma geração que buscava e vivia pela arte no estado, na contracultura. Hoje, o teatro é da Prefeitura do Rio de Janeiro, e está na gestão do Vem Ágora desde 2016, promovendo o resgate pela memória afetiva do lugar.
O teatro abriu suas portas com a montagem “O Jardim das Cerejeiras” em 1968, de Ivan Albuquerque, e desde então, se consagra pela irreverência e rebeldia. Uma das peças que mais caracterizaram os palcos foi “Hoje é dia de Rock” de 1971, com direção de Corrêa, uma crítica certeira ao capitalismo. Em março deste ano, o espetáculo ganhou uma releitura com a direção de Gabriel Vilella, atualizada com as questões contemporâneas do país. Além da dramaturgia, o teatro tem uma relevância musical vigorosa. Desde o primeiro show de Marina Lima e Adriana Calcanhotto no Rio, até a apresentação icônica do Barão Vermelho com Cazuza no lançamento da turnê do LP “Barão Vermelho 2″. “Quando a gente começou a trazer a música de volta para o Teatro Ipanema, que há muito tempo não tinha, vários artistas e pessoas que frequentavam as apresentações aqui nos anos 80 e 90, disseram: ‘nossa, esse lugar me traz recordações!’ Ele tem uma história com música muito forte”, frisa o produtor Thiago Védova, responsável pela curadoria musical.
Na semana do aniversário, o Teatro Ipanema vai receber músicos que possuem um vínculo com o palco do bairro carioca. Um deles é o Evandro Mesquita, que participou do grupo cênico Asdrúbal Trouxe o Trombone, quase 50 anos atrás. “Essa companhia revelou Regina Casé, Luís Fernando Veríssimo e o próprio Evandro, que começou aqui. A partir desse movimento que surgiu a Blitz, que tem uma grande importância no rock dos anos 80″, expôs. O Festival A.Nota, que promove encontros musicais da música contemporânea brasileira, também terá uma atração especial: Siba e Marcelo Jeneci. “Vamos fazer um show especial do A.Nota, queríamos aristas que fossem relativamente novos na cena, mas que tivessem um peso e uma força como eles”, Thiago conta. Outro show será o da cantora Ângela Ro Ro, que realizou uma das suas primeiras apresentações no teatro, na década de 1970.
A gestão Vem Ágora termina a residência em fevereiro do próximo ano, e conta com Thiago, na gestão cultural, José Carlos Della Vedova, como diretor executivo, Mauro Luiz Vianna, Alexandre Mello, Fabianna Mello Souza e Rogério Garcia, como diretores residentes e curadores, e Guilherme Nanni na produção executiva. “Ter feito parte de 3 desses 50 anos, ter recolocado o Teatro Ipanema em um lugar de teatro contemporâneo, como era a cara do Rubens e do Ivan, e sobretudo, conseguir trazer a música com tanta força, é muito gratificante. Sentimos que conseguimos retomar a identidade do local, que é super importante para a cidade. Estamos vendo mais uma vez o teatro revitalizado e com a marca dos dois criadores”, ressalta Thiago.
Confira a programação completa da celebração aos 50 anos:
30/09 – Show Evandro Mesquita e The Fabolous Tab
9/10 – Festival A.Nota: Siba & Marcelo Jeneci
12/10 – Ângela Ro Ro: Pilotando o piano
Teatro Ipanema: Rua Prudente de Morais, 824, Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2523-9794
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