Sucesso em DPA, Anna Sophia Folch encena peça que debate a meritocracia e a situação da mulher no mundo corporativo


Case de sucesso no segmento infanto-juvenil, a série os Detetives do Prédio Azul tem Ana Sophia Folch como destaque, interpretando a bruxa Rúbia, da série do Canal Gloob, razão pela qual a atriz já está escalada para o quarto filme da franquia, ainda a ser lançado, e da vigésima temporada da série. A atriz, que também é produtora e roteirista, está em cartaz com a peça “O Método Grönholm”, que questiona o mundo corporativo quando traz à tona assuntos inerentes àquele universo, como a conquista de espaço pela mulher e o preconceito à diversidade. “Até onde as pessoas são capazes de ir para conseguir uma vaga? O que o humano é capaz de fazer para ir onde quer, num mundo capitalista, competitivo onde as oportunidades não são iguais? Somos todos iguais em oportunidades”, questiona.

*por Vítor Antunes

O Método Grönholm” é uma peça que foi encanada pela primeira vez em 2008, e possuía em seu elenco Lázaro Ramos e Taís Araújo. Nesta remontagem, de 2022/2023, Lázaro migrou para a direção teatral e coube à Anna Sophia Folch fazer o papel que anteriormente cabia à Taís. Na peça, que foi ligeiramente atualizada na montagem atual, questões como a meritocracia, o preconceito e o espaço da mulher no ambiente corporativo são debatidos, bem como os limites da ética quando se tem um – suposto – emprego dos sonhos em questão. Anna Sophia fala, também, sobre estar no quarto filme da franquia “DPA – Detetives do Prédio Azul” e sobre a experiência da maternidade, ao ver crescer seu filho, Caetano: “É o máximo ver o filho amadurecer. Quando pensamos em maternidade temos em mente um bebê, mas este neném cresce e quando vemos tornou-se uma pessoa com opinião, independente. É muito legal a troca (de experiências). Ele me ensina muito, fala de tudo, de política, inclusive. É um cara muito antenado. Bonito ver essa criança tornando-se um homem, um ser pensante que vai fazer diferença no mundo”.

Sucesso em DPA, Anna Sophia Folch encena peça que debate a meritocracia e a situação da mulher no mundo corporativo (Foto: Divulgação)

MATERIAIS E MÉTODOS 

“O Método Grönholm” é uma peça escrita pelo autor catalão Jordi Galceran, encenada no fim da década de 2000 e que retorna à cena depois de alguns desafios. O primeiro foi o de não conseguir patrocínio, ainda que tenha nomes chamarizes, como Lázaro Ramos e Luiz Lobianco, o que fez com que os produtores tirassem dinheiro do próprio bolso para levá-la ao cartaz. Depois, a pandemia, que tirou-a de cena poucos dias depois da estreia. De volta aos palcos depois de dois anos de espera, a peça vem encontrando, mais uma vez, um bom acolhimento junto ao público, tanto que “no primeiro fim de semana a lotação esgotou-se”. É o que conta a atriz Anna Sophia Folch, que não só tem um papel de destaque na montagem como é a sua produtora. Tendo que colocar recursos próprios para montar a peça, a artista é esperançosa com a nova gestão cultural, promovida a Ministério e liderada pela cantora Margareth Menezes. “Fazer teatro sem politica publica é bem difícil (…) É urgente haver mudança, e com um Ministério da Cultura, que retorna, isso é, para o setor, maravilhoso”, diz.

Anos depois da montagem inicial, algumas adaptações pontuais foram necessárias, como trazer para a cena contemporânea, discussões como a transfrobia e o manterrupting, atitude machista de interromper a fala de uma mulher ou de explicar o que ela acabou de falar. Segundo a atriz este é um momento importante para se falar de “dos desafios semeados pelo machismo estrutural. Numa sociedade patriarcal, a mulher sempre foi colocada em segundo lugar, então não há um embasamento histórico para se falar sobre um outro ponto de vista e inverter a situação. Então, na peça a gente coloca o manterrupting, quando a personagem fala de uma determinada situação e o homem vai explicar o que ela já esta explicando. Na maior parte das vezes, os homens nem percebem que fazem isso e é bom levar para o palco e mostrar como isso acontece, fazendo-os pensar”.

O movimento feminista é muito importante e é inevitável que, em algumas circunstâncias seja radical, pois sem isto não seremos ouvidas. É importante haver um movimento de ruptura para que sejamos percebidas e tenhamos um lugar de maior tranquilidade, harmonia e que sejamos percebidas por essa ótica – Anna Sophia Folch

Dentre os problemas que as mulheres enfrentam nos ambientes profissionais, consta o assédio, os salários menores e a síndrome da impostora. O relatório Women in the Workplace 2021, da consultoria McKinsey, sinaliza que a presença feminina é muito pequena no alto escalão, onde 62% são homens brancos e há apenas 20% de mulheres da mesma etnia. Quando observadas as pretas, são apenas 4%. Uma das falas trazidas por uma espectadora à Anna Sophia reitera a fala da atriz, quando salienta a vulnerabilização da mulher em seu ambiente profissional.  Segundo ela, a componente da plateia identificou-se com essa situação, pois também “não sentiu-se à vontade de ir com uma roupa um pouco mais justa para o trabalho por medo de ser assediada. Ou seja, a gente conseguiu falar ali de uma temática que atinge o público em várias esferas”.

O personagem de Luiz Lobianco também estende seu preconceito a outros perfis de pessoas. É o que Anna aponta: “Ele é um cara mais machista e capaz de qualquer coisa, como ofender uma mulher, um homem preto, assim como um homem em processo de transição. E a gente expõe essa pessoa, criticando esse modelo de sociedade. Trata-se de uma peça que é muito boa de fazer, uma comédia inteligente, que faz rir e pensar”.

Anna Sophia Folch e Luiz Lobianco em “O Método Grönholm”, peça que questiona o status quo do mundo corporativo (Foto: João Caldas)

Ainda que tenha havido modificações na montagem, elas não são muito significativas textualmente. “Na verdade a gente não mudou a peça, mudamos a intenção. O publico sente essa mudança. O mundo esta mudando, e ainda bem. A grande mensagem do espetáculo é que a gente conta a história de quatro candidatos que estão à busca de um emprego dos sonhos em uma multinacional, emprego pelo qual eles se tornam capazes de tudo. Falamos de caráter e de até onde a pessoa é capaz de ir, num mundo capitalista e competitivo onde as oportunidades não são iguais. Com quantas fichas a pessoa chega para jogar (no mundo corporativo)? Isso gera milhões de reflexões sobre o mundo em que estamos inseridos. Os personagens são pessoas individualistas”, analisa.

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Folch diz ser muito divertido os bastidores, diante do clima de parceria e boas relações entre os colegas, reforçando a máxima de Dias Gomes (1922-1999) que pontuava que “uma coxia boa era um dos segredos de uma peça de sucesso”: “Nós nos divertimos demais, e quem assiste tem percebido essa alegria, pois volta para ver”.

Anna Sophia Folch em “O Método Gröhnolm” (Foto: João Caldas)

CRIANÇAS, HUMOR E MATERNIDADE

Além da montagem teatral, Anna Sophia estará na vigésima temporada da série “DPA -Detetives do Prédio Azul“, a quinta consecutiva na qual partocipa. E ela não estará apenas na TV. Fará o quarto filme da franquia de sucesso: “Eu adoro fazer TV e especialmente o DPA. É um ambiente muito leve, eles me deixam fazer o que eu proponho e é uma experiência de TV que  eu nunca tinha tido. Neste projeto todo mundo se conhece, vira uma familiazinha mesmo”. A artista relata que também estará nas webséries do DPA, nas redes sociais do programa.

Anna Sophia Folch e o elenco de “DPA”. Um sucesso do Gloob (Foto: Divulgação/Gloob)

A presença de Anna Sophia nas novelas é episódica. Estreou em “Paixões Proibidas”, da Band e, logo depois, co-protagonizou “Ciranda de Pedra“, da Globo, interpretando Bruna. A trama tem um lugar de afeto à atriz. “Foi uma novela especial para mim, meu primeiro trabalho grande na Globo e era engraçado fazer filha da Ana Paula Arósio já que ela é apenas 9 anos mais velha que eu”. Ainda que a novela tenha sido apontada como excessivamente erudita em seu texto, Folch diz que “ele era palatável, foi um trabalho muito bom”. A atriz relembra também os “conflitos interessantes com o personagem de Caio Blat e o de Daniel Dantas”.

Anna diz gostar de “também fazer novela de época, passando por outros universos, hábitos e costumes. Fazer uma novela que vem de um livro – como “Paixões Proibidas” e “Ciranda de Pedra” permite o conhecimento daquela história pregressa e dá um acesso melhor àquele universo, colaborando também para uma pesquisa mais rica, o que eu acho muito legal. Gosto muito de pensar em adaptações literárias, tanto que a outra montagem que produzo, o “12 anos ou A memória da queda” também é a adaptação de um, escrito por Salomon Northup. (…) A montagem com o David Junior e o Carmo Dalla Vecchia, também é uma experiência por que produzi apenas e não participei como atriz. Na peça há um debate necessário sobre escravidão contemporânea e situações análogas a escravidão. Nós brancos achamos que a escravidão acabou e, pelo contrario, ela está aí. É importante mostrar isso criar alarde quanto ao que precisa ser visto”.

Eu amo cinema e quero fazer mais direção e montagens e doida para fazer novela. Eu gosto de trabalhar! – Anna Sophia Folch

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Ana Paula Arósio e “as três meninas”, as protagonistas de “Ciranda de Pedra” (foto: Renato Rocha Miranda/Globo)

Com um filho de 11 anos, Caetano, Anna Sophia tem a oportunidade de ver o tempo passar diante dos olhos: “É o máximo ver o filho amadurecer. Quando a gente pensa em ser mãe, pensamos num bebê e não levamos em conta, inicialmente, que essa criança vai crescer, ter opinião, tornar-se uma pessoa independente da gente. Eu vivo esta fase da maternidade, na qual eu aprendo muito com ele. Nós falamos de política, e ele é um cara super antenado. Ver esse menino se tornando um homem, um ser pensante que vai fazer diferença no mundo é algo super legal”. Sendo de uma família de atores – Caetano é filho dela com o ator Ângelo Paes Leme – o rapaz trouxe-lhes uma novidade: A de querer seguir os passos dos pais. A frase que encerra a entrevista, e dita por Folch, é, talvez a mais definitiva para pessoas que tratam a arte com um amor tão devocional que é capaz de passá-lo a uma nova geração: “Arte aqui é um negócio de família”.