Sétima edição do Festival de Teatro Universitário abraça moradores de comunidades e, pela primeira vez, terá a duração de um mês com direito a exibição dos vencedores de 2016


O Festu promove a integração entre as faculdades do país e visa estimular os jovens a continuar investindo nas artes cênicas provando que existe mercado

Conseguir patrocínio para a produção de uma peça é um trabalho que leva tempo e esforço. Para quem ainda está se graduando na faculdade é um desafio ainda maior, já que ainda são profissionais em formação não consolidados no mercado.  Desde 2010, os diretores Miguel Colker e Felipe Cabral se uniram na criação do Festival de Teatro Universitário, o FESTU, com o intuito de juntar, em apenas um evento, diversos jovens de diferentes faculdades na busca de incentivar a formação de profissionais do universo teatral. Em sete anos de edição, o evento só foi adiado um ano devido à falta de dinheiro. “O nosso intuito é estimular a turma a se formar da melhor forma possível estudando e pesquisando para as pessoas seguirem na carreira. Todos os prêmios são bolsas de estudos com algo que auxilie a produção artística. Quem ganha a categoria iluminação, por exemplo, damos uma mesa de luz para o profissional treinar e montar seu negócio, além de um curso de especialização. O prêmio principal é um investimento na produção de uma peça que vai estrear no Festival de Curitiba e ficará em cartaz durante um mês no Rio de Janeiro”,  explicou o idealizador Felipe. Para ele, os prêmios fornecidos pelo projeto não são o mais importante. O essencial é ver que existe uma galera que está produzindo, independente de entrar para o festival ou não. Logo, o evento é uma forma dos jovens aumentarem seus níveis de conhecimento, através das pesquisas realizadas, passando a dominar informações que vão além da sala de aula.

Miguel Colker e Felipe Cabral, os grandes idealizadores do projeto (Foto: Divulgação)

A competição é importante por porovar uma melhora evidente em cada desempenho. Além disso, ao conviver com diferentes núcleos culturais, os estudantes podem abrir suas redes de relacionamento profissional, contribuindo pela melhora mútua das produções. “As premiações aumentaram o nível das produções, estimulando os jovens a participarem do evento pela vontade de ganhar um reconhecimento. As cenas deram um salto visível de qualidade, porque estamos dizendo a eles para se esforçarem. A galera já veio para ganhar”, contou Felipe. As premiações começaram tímidas com o título de melhor cena, atriz e ator. Atualmente, existe o troféu de melhor iluminação, figurino, cenário, texto inédito e direção de movimento.

A cada ano o evento é repensado e trabalhado na busca de aperfeiçoá-lo. O projeto começou com apenas quatro dias de exibição e, pela primeira vez, terá um mês de apresentações este ano. “Nossa preocupação, a cada edição, é como podemos fazer para dar mais relevância ao festival fazendo com que ele tenha uma importância cultural para a cidade. Não sei onde estaremos no FESTU 10”, brincou. Dessa vez, o público vai conhecer os maiores destaques da edição passada que retornam aos palcos para outra apresentação inédita. “Convidamos todos os finalistas do sexto FESTU para se apresentarem novamente mostrando os destaques do evento passado. Além da nostalgia, conseguimos reafirmar a parceria dos grupos, um ano depois. O evento teve sucesso de público com casa cheia todos os dias o que mostra a vontade das pessoas em querer prestigiar e conhecer gente nova”, comemorou. Uma das ideias primordiais do projeto, que é ressaltada nesta nova iniciativa, é a integração das universidades impedindo divergências e discussões que apenas prejudicavam o crescimento profissional dos jovens. “Antes existiam muitos estigmas que as separavam e este foi o primeiro obstáculo que enfrentamos. Para dissolver isto, unimos todos os grupos e criamos turnês com os finalistas, o que resolveu o problema”, compartilhou. Desta forma, o palco será aberto pela peça mineira campeã do ano passado “Chão de Pequenos” e será encerrada com um monólogo da atriz Bruna Martini, que venceu a categoria em 2016.

Os vencedores da edição do ano passado vão voltar para uma última apresentação (Foto: Divulgação)

Sendo assim, cerca de treze espetáculos foram selecionados para serem exibidos a cada dia pela Mostra de Espetáculos e não estarão participando da competição. A ideia é ser apenas uma janela para os jovens profissionais com produções criadas dentro da faculdade. “O FESTU está se tornando referência tanto para os universitários quanto para os produtores e diretores experientes que estão indo ao festival para ver o que está sendo produzindo. Estimular a galera a produzir teatro, nos dias de hoje, é maravilhoso porque fomentos e salários não são pagos. Os editais visam apenas os formados, inclusive, sem dar a voz para quem ainda está construindo a carreira”, lamentou. A captação para o festival é feita por meio de editais, patrocínios e parcerias e, mesmo para a dupla Miguel e Felipe, já é um sucesso conseguir pelo terceiro ano consecutivo o apoio de algumas empresas como a Caixa Econômica. “Quando a gente consegue isso não podemos fazer outra coisa senão agradecer”, comemorou o diretor artístico.

Porém a ajuda não visa apenas as produções cariocas. Desde sempre, os sócios queriam um evento que promovesse um intercâmbio teatral pelo país. “A ideia era criar uma troca cultural que fugisse do eixo Rio-São Paulo, inclusive, para que as pessoas daqui pudessem ver outra forma de produzir teatro e o que é feito fora destas duas cidades”, salientou. Até agora, já contaram com produções da Bahia, Brasília, Minas Gerais e Paraná. Para a galera do Rio de Janeiro são feitas audições presenciais para uma banda de seleção e as outras equipes têm a oportunidade de enviar vídeos para serem avaliados “Recebemos, de forma presencial, um grupo da PUC do Paraná. Eles haviam feito uma vaquinha para vir ao Rio se apresentar já que, segundo a professora deles, não existe gravação no teatro. Ela está certa, mas nós não acreditamos naquilo. Eles poderiam não ter passado e vieram mesmo assim. Isto mostrou para a gente a proporção que estamos ganhando”, contou. Inicialmente, foram 154 textos que se transformaram em 90 cenas assistidas para chegar ao número de 27 finalistas que estarão competindo entre si.

O festival já começou com direito a casa cheia (Foto: Divulgação)

As novidades da sétima edição não param por ai. Desde a iniciativa pensada por Miguel Colker quando entrou para o curso de artes cênicas da PUC, o festival nunca havia atingido regiões periféricas. “Resolvemos ampliar o projeto para além da Zona Sul. Criamos este ano o FESTU Cidade Unida onde entramos em contato com três projetos já existentes feitos em comunidades sendo eles na Maré, no Lins e da Vila Cruzeiro. Reunimos ex-participantes e realocamos cada um para os projetos. A ideia é que eles pudessem dar aulas de atuação para estas pessoas. Muitos destes alunos afirmaram que nunca tinham ido ao teatro. Ano que vem pretendemos aperfeiçoar o projeto. São moradores que vivem em uma situação de risco e queremos fazer algo para melhorar isto”, lamentou Felipe.

A diversidade, desta forma, é a pauta que o diretor artístico acredita que definirá a edição de 2017. Na sua visão, o festival está buscando incluir mais vozes na busca de criar uma ação cultural de todas as classes. “Quero que o evento seja para todos, balanceando o número de negros e brancos com a quantidade de mulheres e homens e trazendo jurados de fora do Rio para participar. Recentemente estive a procura de um intérprete de libras para o festival e descobri que é algo muito caro o que é contraditório visto que deveria ser algo para promover a inclusão. O pluralismo poderá ser visto nas artes que trarão temáticas diversas”, contou o idealizador.

Diversidade é algo que Felipe Cabral domina. Não é à toa que o mesmo foi considerado pelo portal BuzzFedd um símbolo da luta LGBT e uma esperança para o grupo. Por ter nome no mundo das artes, já tendo roteirizado os programa Totalmente Demais e Vai que Cola da Globo, foi destacado como um expoente do grupo. “Sei o quanto a comunidade LGBT ainda sofre no Brasil por ser gay e gostaria de dar voz a todas as queixas do grupo, mas são muitas e cada pessoa tem se apropriado de suas próprias questões. A bandeira é algo que me motiva na minha profissão. No início, muitas pessoas me perguntavam se não tinha medo de falar muito sobre isto e ser muito julgado, mas não aconteceu. Sempre tento levar o debate às minhas produções. Os outros roteiristas de Totalmente Demais, por exemplo, me deram uma sequência de homofobia para que eu pudesse escrever. Criei um canal no youtube, também, chamado Eu Leio LGBT, onde mostro um livro por semana que fala sobre esta minoria, porque sempre gostei de me ver representado na tela, na literatura e novelas. Considero um mestrado pessoal porque nunca li tanto na minha vida”, elencou. Sua monografia feita em 2007, inclusive, foi sobre a representatividade nas novelas. O destaque é tanto que ele intermediou a mesa de debate LGBT da Bienal deste ano e em novembro lançará a peça norte-americana, ‘Now or later’, que fala sobre o vazamento de fotos do filho de um político às vésperas das eleições para presidente nos Estados Unidos.

Felipe Cabral e Karina Ramil em frente a placa do FESTU (Foto: Divulgação)

Os 27 esquetes selecionados para a Mostra Competitiva Nacional:

“Ab-reação” (DF – UnB)

​“Cálculo ilógico” (RJ – UNIRIO |CAL)

​“É sobre você também” (RJ –UCAM)

​“Eu é!” (RJ – PUC |UNIRIO)

​“Família Berklyndrags” (RJ –UNIRIO)

​“Império de anjos” (RJ –UNIRIO)

​“Mandacaru – chove aqui dentro” (RJ –UNIRIO)

​“Manifesto falo pela minha diferença ou a vida écomo se me batessem com ela” (RJ – PUC)

“Anamnese” (RJ – UNIRIO)

“Androginóides” (RJ – UNIRIO)

“Baldes” (RJ – PUC | UNIRIO | CAL)

“Barriga” (RJ – UFRJ | PUC | Escola de Atores Wolf Maya)

“Brihana a poetisa” (RJ –UNIRIO)

“Caixa dágua” (RJ – UFRJ | CAL | PUC | UERJ)

“Cena? que cena?” (BA –UFBA)

“Coaching” (RJ – UERJ | CAL | PUC | UNIRIO | Tablado | UFRJ | Escola de Atores Wolf Maya)

“Homenagem à burocracia” (RJ – UNIRIO)

“O abajur” (RJ – UNIRIO)

“O caderno rosa de Lori Lamby” (RJ – PUC)

“O conhecimento que nasce do fogo” (RJ –UFF)

“O povo, o rei e o bufão do rei” (RJ -UNIRIO | UFRJ | Martins Penna)

“OFFSHORE: Afastado da costa” (RJ –UNIRIO)

“Richard Eletric” (RJ – UNIRIO)

“Shakespeare, o musical: A cena da sacada” (RJ – CAL | UNIRIO)

“Talvez não seja possível escrever algo a mais” (PR – PUC)

“Teu cadáver violeta” (RJ – UNIRIO)

“Veneno pra dois” (RJ – UNIRIO | PUC)

SERVIÇO FESTU 2017

 

De 9/9 a 1/10 – Mostra de Espetáculos 

Local: Teatro Cesgranrio.

Endereço:Rua Santa Alexandrina, 1011 – Rio Comprido.

Informações: (21) 2103-9682.

Horário: Quinta e sexta, às 20h. Sábado e domingo, às 19h.

Ingressos: R$ 30 e R$ 15. O espetáculo “Vida de Galileu” tem entrada franca.

Lotação: 266 lugares.

Bilheteria: Terça a domingo, das 10h às 20h30.

Dias/Espetáculos:

9 e 10/9: “Chão de Pequenos”. Duração: 50 min.

14/9: “Eu (quase) Morri Afogada Várias Vezes”. Duração: 1h40min.

15/9: “Um Bonde Chamado Bocejo”. Duração: 1h5min.

16/9: “Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812”. Duração: 2h15min.

17/9: “Parte de Nós”. Duração: 2h.

21/9: “O Último que Sair Apague a Luz”. Duração: 1h10min.

22/9: “Crianças de Terezin”. Duração: 45 minutos.

23/9: “Vida de Galileu”. Duração: 1h.

24/9:  “A Casa dos Felizes”. Duração: 2h.

28/9: “E Agora, Aonde Vamos?”. Duração: 1h45min.

29/9: “19:45!”. Duração: 1h20min.

30/9: “eu_P@tty”.

01/10: “Stanisloves-me”. Duração: 1h.

 

De 4 a 7/10 – Mostra Nacional Competitiva  

Local: Teatro SESI.

Endereço: Rua Graça Aranha, 1 – Centro.

Informações: (21) 2563-4164.

Horário: das 19h às 21h30.

Duração: 2h30min.

Entrada franca.

Lotação: 250 lugares.

Bilheteria: De terça a sábado, das 12h às 20h.

Classificação: Livre.