No dia do seu aniversário de 9 anos, Isabel ganha de presente dos pais permissão para sair sozinha de casa pela primeira vez. A trama faz parte da peça Lá Dentro Tem Coisa, idealizada pelo ator e empreendedor Felipe Lima, baseada no CD Partimpim, de Adriana Calcanhotto, vencedor do Grammy Latino de Melhor CD Infantil em 2004. O musical infanto juvenil conta com os sucessos Oito Anos, Borboleta e Fico Assim Sem Você, entre outros clássicos do repertório para os pequenos do projeto musical da cantora gaúcha. “Estou muito orgulhoso da peça, ela está linda demais!”, animou-se Felipe sobre o projeto, que, na sua visão, conseguiu reunir uma gama enorme de profissionais de altissima qualidade artistica e levantar discussões relevantes ao universo infanto juvenil. “Sou apaixonado pelo trabalho da Adriana, especialmente pelas coleções de canções para crianças lançadas por ela. O repertório é muito lúdico. Todo mundo se identifica”, anunciou.
Para tornar o desejo uma realidade, o idealizador enviou um email à cantora na esperança de que ela pudesse conhecer seu trabalho. Na época, estava em cartaz Mas Por Quê? – A História de Elvis, idealizada por ele em parceria com o ator Pablo Sanábio. Adriana aceitou o convite e, ao final do espetáculo, conversaram brevemente sobre como funcionaria a adaptação do CD para o teatro. “Disse a ela que gostaria de usar não apenas as canções selecionadas por ela para fazer parte do CD, mas também todo o universo estético e criativo do `Partimpim` como ponto de partida para conceber uma obra teatral inédita. Falei do meu desejo de ter a Adriana Falcão como dramaturga no espetáculo e sobre a possibilidade do Vik Muniz conceituá-lo esteticamente”, relembrou
Depois que a cantora consentiu com a realização do projeto, foi necessário um ano e meio para realizar a captação de recursos do espetáculo. “Captar é sempre difícil. E, na minha opinião, não se trata apenas do momento atual do país, mas de toda uma cultura, na qual a maioria das pessoas costuma enxergar a arte apenas como entretenimento, como algo superfluo, e não como algo estritamente necessário, um instrumento poderoso de formação humana e intelectual dos cidadãos. Uma obra de arte, um livro, uma peça ou um filme muitas vezes tem o poder de transformar a vida de uma pessoa”, sentenciou. Quando finalmente conseguiu captar os recursos necessários, Felipe convidou algumas pessoas com as quais já tinha trabalhado antes e artistas que ainda não conhecia. “Temos uma equipe muito talentosa; admiro-os muito como artistas e me identifico com a postura de trabalho deles, e isso torna a convivência durante o processo de criação muito prazerosa” garantiu o rapaz.
O elenco conta com Estrela Blanco, Julia Gorman, Leo Bahia, Leonardo Senna, Luellem de Castro e Simone Mazzer. Além de cantar e atuar, todos eles tocam pelo menos um instrumento musical durante o espetáculo, que ainda conta com uma banda composta por três músicos multi-instrumentistas. Alguns deles, como Simone Mazzer, Júlia Gorman e Leo Bahia já haviam trabalhando com Felipe e foram convidados para fazer parte desse novo projeto. “Sou uma pessoa de parcerias. Não só no trabalho, mas na vida. Acho importante criar laços, investir nas relações”, reafirmou. A tarefa de Adriana Falcão, Rafael Gomes e Vinicius Calderoni, de se inspirar nas canções selecionadas por Adriana Calcanhotto para criar uma história, foi fundamental para o desenvolvimento do projeto. “A criação em conjunto do texto foi o ponto de partida para darmos o pontapé inicial no processo de levantar o espetáculo”, declarou Felipe, que trouxe a dupla de autores de São Paulo para que pudesse se reunir com a Adriana Falcão e iniciar o processo de escrita do argumento e do texto da peça.
“A parte mais delicada na concepção de um musical, ou de uma ‘peça com músicas’, que é como costumo pensar nesse projeto, é a forma como é elaborada, a junção da música com o texto. Uma peça não é um show e portanto a cena não pode estar em segundo plano”, explicou. O resultado final foi a história da menina de 9 anos que na peça é retratada por duas atrizes, sendo uma o reflexo da outra. “É um personagem duplo. Não diria que se trata de uma discussão de consciente e inconsciente, embora entenda que tenha uma questão muito forte da dualidade que está presente em todos nós. É o mesmo papel. Apenas um outro lado da moeda. No palco, as atrizes possuem uma linguagem corporal muitas vezes idêntica. Foi uma construção muito minuciosa”, garantiu. Isabel é uma garota sensível e se sente a pessoa mais diferente do mundo. A trama traz uma mensagem de aceitação e de amadurecimento. “Ninguém é igual a ninguém e a forma de encarar isso pode ser positiva ou não. Ser singular, único, pode ser muito especial para uns e muito doloroso para outros, principamente durante o processo de amadurecimento que passamos ao longo da vida.” relatou Felipe.
Na peça, o início desta jornada só é possível devido à iniciativa dos pais de Isabel, que decidem dar a ela a possibilidade de sair sozinha de casa pela primeira vez. “O nosso espetáculo fala da trajetória de empoderamento desta criança que começa a amadurecer, a se reconhecer como indivíduo e se confrontar com as suas questões, com as suas escolhas; de certa forma, fala de todo mundo, não apenas das crianças”, enumerou o idealizador. Antes de chegar ao seu destino final, a livraria na esquina de casa, Isabel se depara com diversas bifurcações e possui encontros inspiradores.
Além de idealizador, Felipe Lima também é ator e afirmou conseguir transitar bem por diversos caminhos artísticos “Além de ser ator, gosto de levantar projetos, de pensar artisticamente um projeto. Às vezes participo da narrativa, às vezes não. O que me move é o material humano, é contar uma história que tenha algo a dizer para quem for assitsir”, enfatizou. Felipe, sempre em atividade, comprou os direitos autorais do filme Dogville, de Lars Von Trier com Nicole Kidman, para fazer uma peça inspirada na trama que será produzido no ano que vem. “É um filme incrível que fala da hipocrisia da desumanização do ser humano na sociedade americana de consumo”, exaltou.
Para o ator, é muito importante que as crianças conheçam o teatro ainda pequenas, acompanhadas de seus pais. “Minha mãe me acostumou a ir ao teatro desde cedo e acho que isto pode ter me deixado uma pessoa mais sensível, mais humana e atenta aos movimentos artísticos. Não poderia te afirmar exatamente como mudou na minha vida, mas tenho certeza que me fez um ser humano melhor”, finalizou.
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