‘Roda Viva’ no Rio: “Não é teatro de representação. A gente chama de ‘tragicomédiaorgia'”, frisa Zé Celso Martinez


A peça chega ao Rio de Janeiro, mais precisamente à Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Na sexta-feira, dia 8, o público carioca poderá conferir, além da releitura, duas canções a mais da obra de Chico Buarque: “Cordão” e “As Caravanas”. “Inserimos: agro negócio, memes, notícias que acontecem a cada semana e a presença da internet, que é muito central no musical”, conta o diretor

*Por Karina Kuperman

Escrito em 1967, o musical “Roda Viva” foi a primeira incursão de Chico Buarque na dramaturgia e é lembrada até hoje não só pelo texto, mas também por um acontecimento lamentável e histórico na segunda temporada: o espancamento de artistas durante a montagem paulista da obra em 1968, no Teatro Galpão, em São Paulo. Foi a partir daí que a história transformou-se no símbolo de um momento de resistência cultural. No elenco original estavam nomes como Marília Pêra, Zezé Motta e Pedro Paulo Rangel.

Cinco décadas depois, o diretor Zé Celso Martinez Corrêa remontou a obra com direito a adaptações e sua volta à cena cultural foi em São Paulo, onde ficou por cerca de um ano em cartaz. “Roda Viva em 68 foi massacrada, uma horrível repressão. Isso me fez decidir voltar, agora, com a peça. A polícia invadiu a apresentação em São Paulo, em Porto Alegre também. As atrizes e o elenco foram agredidos. Roda viva não representa nada. Ela presenta. Não é teatro de representação. A gente chama de ‘tragicomédiaorgia'”, diz. Agora, a história chega ao Rio de Janeiro, mais precisamente à Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Na sexta-feira, dia 8, o público carioca poderá conferir, além da releitura, duas canções a mais da obra de Chico Buarque: “Cordão” e “As Caravanas”. “Inserimos: agro negócio, memes, notícias que acontecem a cada semana e a presença da internet, que é muito central no musical”, conta Zé Celso. A intenção é levar ao público a urgência de diversas questões da atualidade nos campos cultural, social, político, ecológico, econômico e tecnológico.

Montagem com Chico Buarque e Zé Celso (Foto: Divulgação)

A peça narra a ascensão e a queda de Benedito Silva, transformado pelas figuras do Anjo e do Capeta no fenômeno Bem Silver, um cantor e compositor de sucesso fabricado pela indústria cultural. Ele tem a vida pautada e monitorada pelos índices de popularidade na mídia. Não à toa, a nova versão traz várias referências às redes sociais. Rodrick Himeros vive o protagonista Benedito Silva, Camila Mota, dá vida a Juliana, esposa de Benedito, que assiste a ascensão e queda de seu marido. Guilherme Calzavara, Joana Medeiros, Zé Ed e Marcelo Drummond completam o elenco. Um coro de 20 artistas, 7 músicos e mais de 30 técnicos também integram a obra. Em curta temporada, o espetáculo está realizando uma vaquinha online para custear todas as despesas da produção, que não tem patrocínio.

Roda Viva (Foto: Reprodução)

A demora na remontagem tem motivo: diz-se que Chico Buarque nunca permitiu uma reedição da obra, por considerá-la datada. Zé Celso recebeu a autorização do compositor por meio da filha, Silvia Buarque. “Querido, hoje consegui conversar com meu pai. Ele liberou a montagem de ‘Roda Viva‘. E pediu para te mandar toda a solidariedade dele pelas suas lutas. Vai junto minha total solidariedade também”, escreveu a atriz, em uma carta para o diretor.

Serviço:
Cidade das Artes – Av. das Américas, 5300 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro – RJ
De 8/11 a 1/12 – Sextas, 20h, sábados e domingos, 19h.