É diante da finitude da vida, que o ser humano reflete sobre o que ele veio exatamente fazer aqui na Terra. Perceber a escolha de alguns em por fim à própria vida traz percepções profundas a respeito do que faz alguém querer ficar e o que faz alguém decidir partir. Interessado no fenômeno da morte há alguns anos, Igor Cosso decidiu escrever o texto da peça Ponte Golden Gate, que chegará dia 10 deste mês no Teatro dos 4, no Shopping da Gávea, para uma nova temporada. O site HT conversou com o ator e autor para entender um pouco mais sobre esse curioso interesse de Igor por dois temas ainda tão tabus na nossa sociedade: a morte e o suicídio.
Inicialmente a esquete de 15 minutos escrita para se apresentar em festivais do Rio recebeu um aprofundamento do tema, dos personagens e das situações para ganhar o formato de uma hora de peça. O autor da tragicomédia, em que mistura tragédia e humor, conta que depois de assistir ao documentário A Ponte do americano Eric Steel, não conseguiu dormir naquela noite e se debruçou a escrever uma trama que também tivesse como tema os suicídios na ponte Golden Gate, em São Francisco. Entretanto, Igor decidiu contar uma história em que a ênfase não fosse a morte, mas a decisão por viver. “Quando na vida a gente têm muitos motivos que nos fazem querer pular, o que é bonito nessa peça é relembrar os motivos para querermos ficar. É uma história leve e engraçada que traz uma reflexão do que estamos fazendo aqui na vida, sobre qual é o sentido de tudo. É para as pessoas saírem rindo e ao mesmo tempo reflexivas sobre a existência”, explicou o autor e ator. “Estamos vivendo a experiência aqui na Terra para amar e viver histórias de amor e, por mais clichê que isso seja, é o que faz sentido para mim. Passar uma vida sem amar é passar uma vida sem sentido e muito disso tem no meu espetáculo”, afirmou.
“Sempre me interessei por esse tipo de tema, talvez por ter dificuldade de lidar com a morte. A morte para mim é muito cruel. Perder alguém do nada, sem mais nem menos é muito assustador e isso pode acontecer com todo mundo. A morte para mim é uma incógnita, é um assunto que me angustia e me faz querer falar sobre isso. E o suicídio é um ato muito perturbador para mim”, afirmou o autor que acrescentou: “As historias no documentário são diversas, alguns estavam se preparando há meses para isso, outros estavam aparentemente tudo bem e do nada se foram, então eu não sei porque isso me perturba de alguma forma, mas artisticamente isso me instigou a ponto de querer escrever”.
O cineasta americano colocou câmeras em diferentes ângulos do tradicional ponto turístico da cidade californiana para filmar durante quase um ano a movimentação de pessoas que pularam ou tentaram pular do alto da famosa estrutura metálica vermelha. Envolvido com o tema, Igor viu a necessidade de ir ver com os próprios olhos o lugar escolhido por em média 24 pessoas ao ano para acabar com a própria vida. “Depois que eu escrevi o espetáculo eu senti que precisava conhecer a ponte e eu fiquei muito emocionado. É um lugar mágico e maravilhoso. O lugar tem uma energia diferente”, contou o autor, que afirmou também sobre a existência de inúmeros bilhetes espalhados pela estrutura com os dizeres: “se você estiver pensando em acabar com a sua vida, não faça isso, pegue esse telefone e ligue”.
Além de se dedicar às produções teatrais próprias, Igor tem uma carreira sólida como ator, que o faz manter as duas profissões sempre juntas. Ele se destacou como o romântico Bezalel na novela Os Dez Mandamentos, entre 2015 e 2016, mais uma super produção da Record inspirada nos textos bíblicos. O ator nos contou sobre a experiência de interpretar um personagem com viés religioso. “Engraçado, antes de fazer Os Dez Mandamentos, eu preciso ser sincero que nunca tive muito interesse em ler a Bíblia. Minha espiritualidade e fé são fortes, mas de uma forma bem pessoal que não está ligada à igreja nenhuma, nem ao livro Sagrado. E me sinto muito completo e feliz assim. Com esses trabalhos na emissora, vi que a Bíblia tem histórias maravilhosas que eu não conhecia. E elas são interpretadas de diversas maneiras pelo mundo e muitos entendem essas histórias ao pé da letra”, ressaltou Igor, que esteve em 2018 em outro folhetim bíblico, Apocalipse, e viveu o policial corrupto Dudu Poeira.
O autor e ator ressaltou a importância da emissora de Edir Macedo se dedicar as grandes produções para que as pessoas conheçam as passagens da Bíblia não pela leitura, mas pela televisão, ele acrescentou: “Na minha interpretação eu vejo metáforas lindas como exemplos de esperança, união e amor ao próximo, dentre tantas outras”. Em sua terceira participação nas novelas da Record, Igor adiantou ao site HT sobre a próxima minissérie chamada Jezabel, em que ele dará vida ao personagem Miguel. “Serei um soldado da rainha Jezabel e ele não aceita matar ninguém, mesmo estando em guerras. A gente embarca para o Marrocos agora em janeiro para gravar as externas e estou fazendo aula de montaria e de luta com espadas com uma equipe de dublês pro personagem”, adiantou.
O texto de Ponte Golden Gate fala da falta de respostas para os enigmas da nossa existência e sobre o sentido da vida, tudo isso usando como pano de fundo o destino mais famoso do mundo de pessoas suicidas. O cenário de Marcella Rica utiliza-se de cinco escadas dobráveis em tamanhos diferentes, que fazem as vezes da ponte. Nelas se equilibram os atores, explorando instabilidade e altura num jogo com seus corpos. No elenco estão, além do próprio Igor, Leo Bahia, atualmente no ar na novela O Tempo Não Para, Thais Belchior, João Vitor Silva, Mariana Cerrone e Hamilton Dias.
A peça dirigida por Wendell Bendelack tem importante papel social ao trazer temas ainda tão tabus nas conversas entre as pessoas. No jornalismo, por exemplo, faz parte do código de ética não relatar suicídios nos jornais. “Tem uma passagem na peça falando que nas notícias nunca saem nada sobre esse assunto e eu acredito que para todos os assuntos, não só esse, o diálogo quebra todos os tabus. A partir do diálogo conseguimos lidar com eles. O teatro e a arte são lugares de fala, lugares de reflexão. A arte tem um poder de fazer as pessoas dialogarem e refletirem sobre os temas da sociedade”, analisou. Exatamente por isso, Igor desejou tanto continuar apresentando Ponte Golden Gate em novas temporadas. “A montagem é independente, não recebe financiamento de leis de incentivo do governo. E eu como produtor estou fazendo essa montagem porque acredito no poder de transformação dessa peça. É um novo tempo, ainda mais necessário de se falar sobre o amor. Estamos com muita energia e torcendo para que cada um que saia de lá amando ainda mais a vida e o teatro”, finalizou.
REESTREIA: dia 10 de janeiro (5ªf), às 21h
LOCAL: Teatro dos 4 / Shopping da Gávea Marquês de São Vicente, 52/2º piso – Gávea / RJ Tel: (21) 2239-1095
HORÁRIOS: sempre às 5ªs, às 21h / DURAÇÃO: 55 minutos / CAPACIDADE: 402 lugares / GÊNERO: tragicomédia / INGRESSOS: R$50 e R$25 (meia) / FUNCIONAMENTO DA BILHETERIA: 2ª e 3ª das 14h às 20h, 4ª a domingo das 14h até o início da última sessão do dia / VENDAS POR INTERNET: www.ingressorapido.com.br/ CLASSIFICAÇÃO: 16 ANOS / TEMPORADA: até 31 de janeiro
FICHA TÉCNICA
Texto: Igor Cosso
Direção: Wendell Bendelack
Elenco / Personagem:
Igor Cosso / Rael
Leo Bahia / Beto
Thais Belchior / Suzana
Mariana Cerrone / Janete
João Vitor Silva / Leo
Hamilton Dias / Geraldo
Cenário: Marcella Rica
Figurino: Maria Thereza Macedo
Iluminação: Frederico Eça
Trilha Sonora: Flávia Belchior
Foto Cartaz: Vinicius Mochizuki
Foto Divulgação: Flávio Dantas
Design Gráfico: Andrea Barcelos e Thais Muller
Produção: Inverso Produções Artísticas e Igor Cosso
Assistente de Produção: Thais Belchior e Gabriel Ferri
Assessoria De Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
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