*Com Iron Ferreira
Duas irmãs que, após anos de abuso em cárcere privado, matam o pai e enterram seu corpo nos fundos da casa. Esse é o mote do espetáculo “Mansa”, dirigido por Diogo Liberano, que está em cartaz até o dia 25 de setembro no Teatro Poeirinha, em Botafogo. “A encenação busca evidenciar o machismo e o domínio masculino da nossa sociedade. Através da peça, é possível que o público faça um link com a violência que as mulheres sofrem. Queremos que as pessoas reflitam sobre essa preocupante questão. Embora sejam duas mulheres em cena, a história é contada por homens, mostrando que as mulheres sempre ficam subjugadas diante da figura masculina. Nossa intenção é investigar a origem da violência contra a mulher”, revelou a atriz Amanda Mirásci.
A peça, que tem texto de André Felipe e conta com a participação da atriz Nina Frosin, é baseada no poema “Uma Mulher Limpa”, presente no livro “Um Útero é do Tamanho de Um Punho”, da escritora gaúcha Angélica Freitas, e tem como foco principal investigar o que há por trás da violência contra a mulher e o machismo latente na sociedade, chamando a atenção do público para essa triste realidade.
A produção, que estreou em 2018 durante o festival carioca Cena Brasil Internacional, e fez temporadas em São Paulo, acompanha o sofrimento que as personagens sentem a partir dos eventos vivenciados ao longo de suas vidas e de como o abuso que sofreram as perseguem. Com uma narrativa não linear, o texto mistura passado e presente em uma trama complexa que exige o máximo de atenção do espectador. Em cena, a dramaturgia é construída de forma que o terreno em que o corpo do pai foi enterrado funcione como um fragmento temporal, unindo as histórias que se entrelaçam na peça. “Mansa” possui, ainda, uma forte influência de “Antígona”, do dramaturgo grego Sófocles. “Tínhamos o desejo de falar do confinamento e da instituição prisão modelando e domesticando o corpo da mulher”, afirmou Diego Liberano.
Outro aspecto trabalhado na peça é como o machismo é presente na sociedade e o constante descrédito que a força da mulher. Segundo Amanda, há elementos que reverberam a forma como os homens tentam calar e se sobrepor às mulheres, como o fato das histórias serem contadas pelos violentadores e não pelas vítimas: “A dramaturgia em si leva o público a entender quem são aqueles personagens e o que eles querem dizer. Mesmo após todo o abuso e sofrimento pelo qual essas mulheres passaram, elas são presas, sendo privadas, mais uma vez, de suas liberdades. Elas são julgadas por homens, pela lei dos homens. Isso mostra como a Justiça não é imparcial e nos ajuda a refletir e questionar essa situação. Durante todo o espetáculo, elas são desacreditadas por pessoas que não viveram o mesmo que elas”.
A atriz ainda comentou sobre o prestígio de poder subir aos palcos do Teatro Poeirinha, administrado pelas sócias Andréa Beltrão e Marieta Severo, que é marcado pela resistência e pelo amor à cultura. A artista também elogiou a forte presença feminina na casa, que dos quatro espetáculos em cartaz, todos são protagonizados por mulheres. “Estamos muito felizes com essa oportunidade. O Poeira tem uma curadoria incrível! A estrutura dele ajudou a dar um tom de intimidade entre os atores e o público. Quando surgiu a possibilidade de apresentar a nossa arte naquele palco, agarramos logo”.
Serviço:
Temporada: 6 de agosto a 25 de setembro
Teatro Poerinha: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro/RJ
Telefone: (21) 2537-8053
Dias e horários: terças e quartas, às 21h.
Ingressos: R$ 40 (inteira); R$ 20 (meia-entrada)
Duração: 1h
Lotação: 44 pessoas
Classificação Etária: 16 anos.
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