“Quando descobri que ia fazer o Ayrton, tive dois sentimentos: fiquei feliz e pensei que estava ferrado”, afirmou Hugo Bonemer sobre seu papel em Ayrton Senna, O Musical


A história da peça foi inspirada no que o piloto de fórmula 1 respresentava no Brasil, além de trazer a sensação da velocidade para o público. Para passar este sentimento, o ator chegou a ir ao kart com a equipe do espetáculo para experimentar o frenesi vivido pelos profissionais

Hugo Bonemer foi selecionado para viver Ayrton Senna(Foto: Caio Gallucci)

A equipe do espetáculo Ayrton Senna, O Musical passou um bom tempo tentando encontrar um ator que estivesse à altura do piloto. Assim que Hugo Bonemer terminou a última fase da audição, o diretor Rento Rocha descobriu que havia encontrado o seu artista. Ele estava esperando alguém que lhe emocionasse assim como Hugo fez com o olhar que, segundo o diretor, relembra os olhos de Senna pelo capacete. “Quando descobri que ia fazer o Ayrton, tive dois sentimentos: fiquei feliz e pensei que estava ferrado. Houve muitos momentos que fiquei na dúvida se ficava muito feliz ou muito desesperado. É uma responsabilidade muito grande. Todo mundo deseja fazer um papel instigante como este. É normal que eu sinta medo de não conseguir fazer ou não ser respeitoso o bastante. Espero que este projeto me atravesse de alguma forma e eu possa buscar alguma semelhança entre mim e este fenômeno”, afirmou Hugo Bonemer. O ator não concorda com a semelhança que o diretor diz existir entre ambos, mas fica muito feliz de poder passar esta ideia.

Depois de já ter participado de grandes musicais como Hair e Rock in Rio, O Musical, o primo de William Bonner recebeu a difícil missão de interpretar um dos papéis mais especiais de sua carreira. A complexidade é tanta que nem ao menos chega a ser um personagem. “É o primeiro trabalho no qual não faço um personagem. É a coisa mais diferente de tudo o que já fiz até hoje, porque nos meus outros papéis estou começando do zero e invento o que quiser para ele. Aqui tenho uma referência e preciso prestar atenção em qual a imagem que os outros têm dele, por isso tentei entender qual imagem cada um tinha do Senna. O único ideal que tenho é pós o seu falecimento. Me lembro de uma cartilha do Senninha que foi entregue nas escolas onde mostrava regras de civilidade. Estudei muito sobre ele e estou tentando fazer o melhor que posso, até o que não consigo, como voar a três metros de altura”, contou o ator.

Há seis meses, o diretor ainda estava procurando o ator que faria o Ayrton (Foto: Caio Gallucci)

Dentre os vários momentos desafiantes, o trabalho exige que os atores sejam grandes super heróis porque é preciso cantar, dançar, atuar e fazer acrobacias. Tudo isso ao mesmo tempo. Uma das cenas que, para Hugo, mais deu trabalho foi em uma canção que falava sobre o medo da morte que atravessou Ayrton Senna após um acidente. Neste momento, o ator é suspenso e, literalmente, voa no cenário. “Já tive experiência com acrobacias há alguns anos, mas nunca me pendurei assim em um cabo de aço. Mas acho muito bonita esta mensagem, porque nós sentimos medo na vida, seja quando vamos começar ou terminar algo. Vivemos com esta sensação quando vamos fazer coisas simples como beber água, porque pode estar contaminada ou comprar carne, pois pode ter papelão. A coragem não é a ausência do medo, temos apenas que engolir este sentimento e seguir em frente”, encorajou.

Durante os ensaios, o diretor Renato Rocha teve a necessidade de sentir que os personagens estavam tocando, de fato, o coração dos atores. A ideia era que o elenco deixasse de representar e passasse a viver aquela história. Para isso, levou toda a equipe para o kart na busca que eles tentassem visualizar o que um piloto de fórmula 1 pensa e sente durante as corridas. “Não tem como dizer se os meus pensamentos eram parecidos com os dele, porque acho que muitas informações são esquecidas. Nós não registramos tudo o que dizemos, mas sinto que o que estamos fazendo é coerente com a realidade, com o que senti nas voltas. Não é uma maluquice pensar que o Ayrton possa relembrar momentos importantes da vida dele”, sugeriu Hugo Bonemer. A peça caminha exatamente por esse lado, mostrando de forma onírica o que o fenômeno vivia na pista e o que suas vitórias e ensinamentos representavam ao povo brasileiro.

Ayrton Senna, O Musical conta com uma trilha sonora exclusiva (Foto: Caio Gallucci)

A pesquisa por essa identidade pessoal do piloto não parou por aí. Houve uma extensa dedicação da equipe à procura de provas que pudesse ratificar estes milhões de pensamentos que surgem na cabeça de um piloto. Um dos achados mais importantes para fundamentar a tese foi um relato de Ayrton Senna escrito a próprio punho. “Ninguém sabe o que se passou de verdade na cabeça do Ayrton durante as competições, mas encontrei uma carta dele para um amigo durante a fórmula Ford, em Snetterton, Reino Unido, onde ele relata as sensações e pensamentos durante a corrida. O documento era de 1982 e resolvemos trazer esta leitura para a peça. A partir disso, percebi que uma pessoa, quando está andando a trezentos quilômetros por hora, pensa em muita coisa, geralmente relacionada à corrida”, brincou o ator.

As percepções com relação às sensações do piloto fizeram com que Hugo Bonemer se interessasse ainda mais por este universo automobilístico. As vivências que os fãs de Ayrton Senna tinham na época não foram percebidas pelo ator devido a pouca idade. Hugo nasceu no mesmo ano que o fenômeno faleceu, mas isso não impediu que o ator se encantasse pela carreira destes profissionais. “Admiro muito os pilotos de fórmula 1. Quando olhei para o carro me questionei como alguém entrava naquele veículo a trezentos quilômetros por hora. Parecia algo tão frágil para mim. Nós sempre brincamos que é um dragão de aço, mas não é”, garantiu. Conhecer este universo mais a fundo foi muito importante para ele por ser algo novo.

Ayrton Senna, O Musical conta com o auxílio das leis de incentivo do governo através do banco Bradesco e muitas outras empresas que estão custeando o projeto. “O espetáculo que estamos fazendo aqui é um balão no sistema, de algum jeito. Todos que trabalham aqui têm um histórico de resistência em outras áreas. Temos, por exemplo, a galera do circo e eu que estou recebendo o meu primeiro salário remunerado do ano depois de ter feito outros totalmente sem patrocínio”, relembrou o ator. Apesar da super produção, a equipe entende que possui uma responsabilidade social muito grande com esta montagem. Por isso, a ideia é trazer diversos questionamentos para o palco. “Trazer esperança e palavras que ajudem as pessoas a refletir é a obrigação do artista. Estamos trabalhando aqui com o dinheiro público, com a lei rouanet e com o dinheiro do Bradesco. Temos que fazer este espetáculo com o melhor que podemos oferecer ao público. A pessoa que vier nos assistir precisa ver os impostos dela aqui sendo bem utilizados”, afirmou Hugo.

O cenário muda constantemente, fazendo o público aproveitar diferentes abordagens do musical (Foto: Caio Gallucci)

Além deste trabalho, o ator possui diversos outros projetos na manga que ainda estão sendo lançados. Deste estreias de peça a séries televisivas. “Estamos voltando com Yank! através do crowdfunding que está rolando nas redes sociais, pois não temos a verba de uma empresa como o Bradesco e por isso resolvemos apostar no financiamento coletivo das pessoas. Faço parte da série da HBO chamada A Vida Secreta Dos Casais, onde Camila dos Anjos faz a minha irmã. Ainda em plataformas estrangeiras, estou no History Channel com a série Natalia. Além disso, estreio daqui a pouco nos cinemas com Minha Fama de Mau. Em dezembro, entra a série infantil que dublei, Trolls, na Netflix”, contou. Ainda não existe previsão de novela para o ano que vem.

SERVIÇO – AYRTON SENNA, O MUSICAL

Local: Teatro Riachuelo Rio – Rua do Passeio, 40 – Cinelândia – Rio de Janeiro/RJ

Horários: Quinta e sexta às 20h30; sábado às 16h30 e 20h30; domingo às 18h.

Temporada: de 10 de novembro a 04 de fevereiro

Duração: 2h20 (com 15 min de intervalo)

Classificaçãoetária: Livre

Preços:Quinta, sexta e sábado (16h30): Plateia – de R$25,00 a R$120,00 | Balcão Nobre – de R$25,00 a R$100,00 | Balcão – de R$25 a R$70Sábado (20h30) e domingo: Plateia – de R$25,00 a R$150,00 | Balcão Nobre – de R$25,00 a R$120,00 | Balcão – de R$25,00 a R$80,00