‘Quando a festa da Pugliesi na pandemia veio à tona se tornou uma inspiração para uma série’, diz Vanessa Freire


A série de humor “Desblogueie-se’ estreia nesta sexta-feira (24), às 18h no Instagram, fazendo uma crítica a um certo universo de blogueiros e influenciadores. Criada por Vanessa Freire e dirigida por Rodrigo Ponichi, remotamente e direto de Portugal, a produção parte do exagero de situações, e do pensamento sobre a pressão de uma vida “perfeita”, que muitos sentem diante dos modelos que adotam para admirar. A roteirista cita ainda, um episódio recente com a influenciadora fitness Gabriela Pugliese para ilustrar: “Comecei a escrever a série antes da festa que ela deu na pandemia, mas quando isso veio à tona se tornou uma inspiração, porque achei a atitude dela tão surreal, até por já ter passado pela doença, e também por não ter nem feito questão de esconder a festinha e ter colocado nos stories, por ter soltado no meio de tudo isso um “foda-se a vida” (que inclusive rendeu muitas sátiras). Então, pensei: por que não inserir na série uma festa não tão secreta assim, e trazermos o “vírus do sincerocídio”, trazendo a reflexão dessas vidas que a gente sabe que não são tão perfeitas assim?”

*Por Brunna Condini

Com a pandemia do novo coronavírus, o consumo de informação e o acesso de conteúdo via internet aumentou significativamente. E com isso, a visibilidade dos influenciadores digitais, blogueiros e suas informações também. Segundo um estudo recente realizado pela Squid, empresa especializada em marketing de influência, localizada em São Paulo, o engajamento dos usuários no Instagram no Brasil tem aumentado com a chegada da pandemia, e da necessidade de isolamento social. Em comparação a esse momento com os mesmos dias de 2019, aconteceu um aumento de 24% na taxa de engajamento. Mas a pergunta é: o que tem engajado hoje?

De olho no tema, mas sem perder o humor, uma turma vai estrear uma instasérie nesta sexta-feira, às 18h, na página homônima ao título da produção, a “Desblogueie-se”, escrita por Vanessa Freire e dirigida por Rodrigo Ponichi. A produção foi gravada toda remotamente, porque, afinal, ainda estamos em uma pandemia, e a proposta é fazer uma crítica a um certo universo de blogueiros e influencers. “Sempre me incomodei com a postura dos influenciadores que tentam parecer o que não são nas redes sociais. Tive um insigth frente à pandemia e pensei: por que não fazer humor disso?”, diz a roteirista que pretende levantar uma crítica social através do riso.

“Estamos trabalhando com uma nova forma de produção de conteúdo. É muito interessante e ao mesmo tempo um desafio fazer um projeto com atores que não se encontraram pessoalmente, mas que contracenam”, detalha Rodrigo Ponichi, que dirigiu a série diretamente de Portugal.

O elenco da instasérie: “Sempre me incomodei com a postura dos influenciadores que tentam parecer o que não são nas redes sociais” (Divulgação)

Na trama, um grupo de amigos blogueiros/influencers, durante a pandemia da Covid-19, pegam o vírus do “sincerocídio”, depois da festa privada (e não tão secreta assim), na casa de um deles. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Mas, na ficção, quando acordam percebem que algo imediatamente mudou: fazem seus “publis” sem filtro algum e aparecem nas redes falando o que de fato pensam e mostrando quem de fato são. Vanessa afirma que a instasérie propõe através do exagero de situações, o pensamento sobre essa pressão de uma vida “perfeita”, que muitos sentem diante dos modelos que adotam para admirar.

“Já faz um tempo que tem um movimento e vozes que provocam um discurso de aceitação, de nos mostrarmos em situações mais reais, com a vulnerabilidade humana, e isso na pandemia aflorou muito. Tivemos um mundo inteiro se desconstruindo e refletindo sobre suas vidas, passando por muitos perrengues. Pessoas que foram atingidas diretamente e indiretamente pelo Coronavírus, pessoas que precisam trabalhar, vendo a vida na linha de frente. Fora isso, muita gente teve a parte econômica afetada”, observa a roteirista, que também é publicitária.

“Sinto que quando passamos por uma situação limítrofe e de crise é onde mais refletimos no que é essencial. Acredito que isso, somado a um movimento que já estava acontecendo, vem deixando mais claro para o público e para muitas marcas, tendências de discurso e posturas a serem seguidas, investidas. Acredito que o chamado agora é ser genuíno. A ideia da série é ser essa pílula diária de humor para desanuviar um pouco toda essa situação complexa que estamos vivendo”.

“Acredito que o chamado agora é ser genuíno. A ideia da série é ser essa pílula diária de humor para desanuviar um pouco toda essa situação complexa que estamos vivendo” (Reprodução)

No elenco, os atores Dani Guimarães, Julie Duarte, Nolli, Andressa Trancoso, Raphael Uchoa, e Nando Moretzsohn fazem de suas casas cenários para viverem um grupo de personagens com algo em comum: a exposição das vidas “perfeitas” nas redes sociais. “Gravar remotamente foi uma experiência sensacional. Estou vivendo um caso de amor com meu ring ligth (risos). Descobri que posso ser 30 em uma só “, diz a atriz Julie Duarte, que seguiria com a turnê de “Bibi- Uma Vida em Musical” pelo país antes da pandemia. “Foi um desafio gravar diálogos sem contracenar fisicamente, mas sem dúvida a maior dificuldade foram os meus vizinhos (risos). Por conta de barulho, obras. Teve uma vez que resolveram fazer uma reunião no corredor, aí saí para levar o lixo umas três vezes para ver se morria o assunto”.

A atriz acrescenta que seu gosto nas redes é variado e curte de Manu Gavassi à Sandy, passando pelos canais de humor, cultura, comida, e algumas páginas fit. “Como a da Carol Borba, por exemplo, que me ensinou como realmente treinar em casa. Inclusive, a parte boa da minha personagem tem um ‘’quê” dela”. E completa: “Acho que um bom influenciador em tempos de pandemia é aquele que não desperta a loucura do outro, mas que estende a mão para motivar e ajudar através dos seus conteúdos”.

Julie Duarte: “Acho que um bom influenciador é aquele que não desperta a loucura do outro, mas que estende a mão para motivar

Em busca de temas que agregam

Vanessa valoriza conteúdos na internet que respeitam a diversidade e primam por transparência e coerência. A festa da Gabriela Pugliesi em plena pandemia foi uma inspiração para a série? “À princípio não, pois comecei a escrever a série antes da festa, mas quando isso veio à tona se tornou uma inspiração, porque achei a atitude dela tão surreal, até por já ter passado pela doença, e também por não ter nem feito questão de esconder a festinha e ter colocado nos stories, por ter soltado no meio de tudo isso um “foda-se a vida” (que inclusive rendeu muitas sátiras). Então, pensei: por que não inserir na série uma festa não tão secreta assim, e trazermos o “vírus do sincerocídio”, trazendo a reflexão dessas vidas que a gente sabe que não são tão perfeitas assim?”, lembra.

Gabriela Pugliesi reativou o seu Instagram recentemente após três meses longe da internet. Ela se afastou depois de sofrer muitas críticas e ser “cancelada” (Reprodução Instagram)

Gabriela Pugliesi reativou o seu Instagram recentemente após três meses longe da internet. Ela se afastou depois de sofrer muitas críticas e ser “cancelada” – excluída na linguagem das redes, que tem seu próprio tribunal – após ter reunido amigos para uma festinha em abril deste ano, em plena pandemia da Covid-19. Na época Gabriela tinha mais de 4 milhões de seguidores. No retorno ao Instagram, ela reconheceu novamente o erro cometido e garantiu que o afastamento proporcionou inúmeros aprendizados, entre eles, o de lidar com o ego, e viver além da “bolha” do Instagram.

A roteirista de “Desblogueie-se”, comenta ainda sobre o episódio: “Em relação à postura dela sinto que tinha uma responsabilidade muito grande em ser coerente com seu discurso, pois os seguidores estão cada vez mais atentos a influenciadores engajados, consistentes em seus posicionamentos, ela tem 4 milhões de seguidores, alcança muita gente. Além disso, no início da pandemia, ela foi uma “referência” de alguém de visibilidade que teve o vírus e que narrava em sua rede diariamente os sintomas, a sua recuperação e seu lifestyle de saúde, que inclusive é seu posicionamento estratégico. No entanto, em seguida à sua recuperação, fez uma festa sem a menor preocupação. Achei descabido e desrespeitoso com a situação mundial que estamos vivendo”.

E conclui: “Têm novos perfis de influência. Uma revista, recentemente, fez uma matéria sobre isso, e sua headline era: “Menos Pugliesi, mais Prioli”, e na matéria eles citam a Gabriela Prioli que ganhou um destaque muito grande como discurso feminino, influenciador e congruente com o que nosso momento pede. Acho que esse cenário não só vai mudar, como já está mudando. Estamos em um tempo em que influenciadores que provocam debates, defendem bandeiras e trazem conhecimento estão chamando a atenção do público e das marcas e isso gera uma nova consciência e um novo modelo de consumir não só produtos, como conteúdo”.

Como acha que serão os influenciadores do futuro? “Mais genuínos, com discursos mais críveis, com conhecimentos mais fundamentados, com vozes que trazem mais conteúdos relevantes, amplificação de clusters que ainda não tiveram espaço, voz.  Sinto que o momento é de conquistar as pessoas não mais só por produtos, e sim por posicionamento e diálogos mais autênticos e coerentes, pelo menos esse é o meu desejo”.