“Mulheres Fora de Cena”, que mistura a música de Joyce Cândido e a arte de atrizes como Nicette Bruno e Cristiana Oliveira, agita o Village Mall


Em sua sexta edição, o público do projeto se deliciou com canções como “La Vie En Rose” e “Madalena” e muitas histórias de vida sobre as participantes

* Com Karina Kuperman

O ambiente agradável e a doce voz de Joyce Cândido, que a gente não cansa de ouvir e de dizer que é um dos mais importantes nomes do mundo do samba a surgir recentemente, fizeram com que o talk show “Mulheres Fora de Cena”, realizado no Village Mall, parecesse uma conversa no melhor estilo entre amigos com convidados mais do que especiais. Nessa 6ª edição, que rolou no sábado, dia 1º de agosto, a participação se deu por conta das atrizes Nicette Bruno e Cristiana Oliveira, que não titubearam ao responder questões sobre carreira, vida e família. O projeto do jornalista e ator Cacau Hygino e da fotógrafa Vera Donato, em comemoração aos 10 anos do livro homônimo, tem como proposta aproximar os convidados de seu público.

Todas as edições – que vão rolar até dezembro – começam com um pocket show de Joyce Cândido, e nesse sábado não foi diferente. Ao lado do pianista Maurício Piassarollo, ela empolgou o público, composto de homens, mulheres e crianças, com um set list charmoso de seis músicas. Durante o pocket show, aliás, Joyce fez todo mundo rir ao contar a história de como conheceu e passou a trabalhar com Maurício. “Foi durante uma apresentação com o Padre Fábio de Mello no Theatro NET, aqui no Rio. Roubei o pianista do padre, será que é pecado?”, brincou, antes de soltar a voz afinada que já impressionou João Bosco e Chico Buarque em canções como “O bêbado e a equilibrista”, “Chega de Saudade”, “La Vie en Rose”, “Fly me to the moon”, “Influência do jazz” e “Madalena”.

Joyce, que está com a agenda cheia para agosto, acredita que participar do talk show é uma oportunidade de conquistar um novo público. “Tudo se renova a cada edição, mas também cativamos um público fiel, que vem sempre. Algumas pessoas estão aqui por que acabaram me conhecendo de outra edição e quiseram ouvir mais músicas minhas”, disse a cantora, que participará de todas as edições até o fim do projeto, em dezembro.

“A Joyce topou estar com a gente nesse projeto. O forte dela é samba, mas ela canta todos os tipos de música. E canta muito bem. Ainda quero pegá-la de surpresa e colocá-la para participar do talk show e conversar com a gente em alguma edição”, contou Cacau Hygino, que é também mediador do bate-papo. A cantora, que escolheu músicas em inglês e francês, além de português, assumiu que tem uma quedinha pela língua mãe, apesar de ter morado em Nova York por três anos, quando foi estudar música, dança e teatro na Broadway. “Prefiro cantar em português, amo samba”. A cantora adora o projeto e tem até uma edição preferida “É um bate-papo muito gostoso, o Cacau deixa as pessoas à vontade. Na minha opinião, o dia mais especial foi quando fizemos lá fora, no jardim. Estava tendo uma exposição de livros no shopping e foi incrível cantar ao ar livre no entardecer”.

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Cacau Hygino, Cristiana Oliveira e Nicette Bruno (Fotos: Vera Donato)

Depois da música, era hora de começar o papo com Nicette Bruno e Cristiana Oliveira, as estrelas da arte da atuação da edição de sábado do “Mulheres Fora de Cena”, que abriram os trabalhos falando sobre o início de suas carreiras. Nicette contou que respira arte desde nova e nunca pensou em abandonar seu ofício. “Minha família amava arte e o ambiente da casa era esse. A minha avó era médica, mas tocava piano. A minha mãe, atriz, fazia uma tabela que tinha horários regrados de estudo, de piano e até de brincar. Na hora de brincar, eu brincava de teatrinho”. A paixão virou coisa séria quando, aos 18 anos, encenou em São Paulo a peça “De Amor Também Se Morre”. Em sua segunda peça, “Senhorita Minha Mãe”, Nicette Bruno conheceu Paulo Goulart após uma chamada para teste intitulado “Precisa-se de um galã para Nicette Bruno”. O jovem locutor de rádio foi aprovado para o papel de galã da companhia. Virou o galã da vida da atriz.

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Nicette Bruno (Fotos: Vera Donato)

Cristiana Oliveira também contou suas histórias: “Eu era muito dramática, amava uma mentira, inventava coisas. Meu irmão mais velho falava que eu tinha que ser atriz. Quando investi na profissão, eu aprendi a contar lindas mentiras baseadas em verdade”. Cristiana foi jornalista, modelo e se tornou conhecida após vencer um concurso de ótica para a revista do “Jornal do Brasil”. “Aí eu fui capa e as pessoas começaram a me conhecer e me chamar para desfiles. O primeiro deles foi em São Paulo, a apresentadora era a Monique Evans e eu a considero minha madrinha de passarela”, lembra. Se Nicette fez o caminho do teatro para a televisão, com Cristiana foi diferente. A então modelo foi chamada para fazer televisão e fez duas novelas na TV Manchete, onde ficou por três anos. Em seu primeiro papel na Rede Globo, na novela “De corpo e alma”, a jovem atriz sentiu que precisava se aprofundar mais. “Eu vinha de um ritmo de gravação lento para um aceleradíssimo, de cinquenta cenas por dia, eu não podia mais fazer um papel sendo eu mesma e aí senti necessidade de fazer teatro. Tive aulas com a Bibi Ferreira e com o Eduardo Wotzik, que me ensinaram a ser atriz de verdade, de corpo inteiro e de voz”, contou, destacando a importância do teatro para a carreira de um ator.

Bibi Ferreira, aliás, também foi citada por Joyce Cândido, logo no começo do evento. Ao cantar “La Vie en Rose”, de Edith Piaf, a cantora homenageou a dama do teatro, dizendo que a ouviu cantar essa música mais vezes do que ouviu a própria Edit Piaf. A homenagem tem motivo: foi Bibi quem dirigiu Joyce em seu primeiro DVD, “O Bom e Velho Samba Novo”, em 2013. Joyce considera Bibi Ferreira sua madrinha de carreira. “Inclusive, ela ama esse projeto de interação com atrizes. Estar aqui, para mim, é uma oportunidade de eu me aproximar do meio teatral, que eu adoro. Tem essa troca, isso de conhecer as pessoas”.

A conversa ainda girou em torno de temas como perdas, vaidade, corpo, hobbies, aprendizados e projetos futuros, sempre com tom intimista e sensação de roda de amigos. O papo foi tão agradável que foi o mais longo de todas as edições, com participação ativa do público. Em um determinado momento, as duas refletiram sobre suas trajetórias profissionais e concordaram que é uma honra poder viver tantas personagens. “O que eu gosto na profissão é exatamente a possibilidade de conhecimento do ser humano. Conviver com tantos personagens nos ajuda a entender o mundo. Aprendemos sobretudo a não criticar e julgar as pessoas, porque no nosso trabalho vivemos todos os tipos de circunstâncias. A matéria-prima é o ser humano”, avaliou Nicette. “Tenho que assinar embaixo, porque o maior aprendizado é saber e ter a humildade que sempre temos o que aprender”, emendou Cristiana, que atualmente está se dedicando ao lado empresária, com um brechó online e prestes a abrir uma loja de roupas no shopping Downtown. “Estou investindo nesse projeto, mas nunca vou deixar de ser atriz”, ressaltou, antes de confidenciar que está escrevendo um livro sobre suas experiências de vida.

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Cacau Hygino, Cristiana Oliveira, Nicette Bruno e seu filho Paulo Goulart (Fotos: Vera Donato)

Se depender de Cacau Hygino, logo Nicette também terá um livro. Nesse semestre, ele lança o livro de memórias de Zezé Motta e uma fotobiografia de Irene Ravache e não para por aí. O autor vem trabalhando na biografia da Nathalia Timberg e pretende começar a contar a história de Nicette Bruno e Paulo Goulart. Paralelo a isso, Cacau está trabalhando com a produtora Midialand em um projeto que visa transformar o “Mulheres Fora de Cena” em seriado. O piloto, com Cristiana Oliveira, já foi gravado. “Vesti a camisa. É um capítulo só meu, tipo documentário, onde falo da minha vida inteira, mostro filhas, neto, parte do estoque do brechó, tudo. Eu e Cacau temos muita intimidade, somos amigos há 25 anos. Não falaria para outras pessoas o que eu falo para ele”, confidenciou a atriz.

A próxima edição do “Mulheres Fora de Cena”, em setembro, já tem participações especiais confirmadas: Ana Paula Araújo e a atriz Irene Ravache, além, claro, do pocket show de Joyce Cândido, que é a cereja do bolo do projeto. Nós estaremos lá com certeza.