Prestes a estrearem em “O auto da Compadecida”, alunos do “Passageiro do Futuro” aprendem sobre arte dentro das comunidades onde vivem


Juliana Teixeira, idealizadora do projeto, contou que os jovens se envolvem com todo o processo das artes cênicas, que vai desde cenografia, caracterização e figurino à interpretação em si. “Eles começam a usar esse conhecimento no dia a dia da comunidade”

Acesso à cultura, ao lazer e a profissionalização é um direito de todo jovem, mas, muitas vezes, o poder público deixa a desejar. É nessas lacunas que o trabalho de pessoas como Juliana Teixeira se destaca. A baiana radicada no Rio de Janeiro é atriz e produtora e, atualmente, está a frente do projeto “Passageiro do Futuro”, que leva jovens de diversas comunidades à formação profissional através de oficinas de artes cênicas. “Diante desta falha que, sem dúvidas, existe, temos uma vontade muito grande de garantir cultura ao maior número de pessoas possível e levar muitos desses jovens ao mercado de trabalho. Conseguimos grandes avanços com o Passageiro do Futuro”. E ela fala com propriedade: em sua 18ª edição, o projeto já recebeu mais de 1380 pessoas de 43 comunidades do Rio de Janeiro. Atualmente, os jovens do Caju se preparam para apresentar o clássico “O auto da Compadecida”, do autor Ariano Suassuna, com direção assinada por Mônica Alvarenga. “O texto fala muito sobre os oprimidos e os opressores, e isso faz com que eles estabeleçam uma conexão com a realidade. Com a ressurreição de João Grilo, eles também enxergam a possibilidade do perdão”, analisou Juliana.

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Os alunos ensaiam “O auto da Compadecida” no “Passageiro do Futuro”(Foto: Andrea Nestrea)

O gatilho para o “Passageiro do futuro” se deu quando Juliana integrava o elenco de “Tudo no escuro”, de Peter Shaffer, que dependia muito de iluminação. Nessa época, ela se deparou com a dificuldade de conseguir técnicos para a turnê. Em sua opinião, atualmente, a situação é mais fácil. “Está bem melhor do que quando começamos, há quase 15 anos, com a criação de novas escolas técnicas, mas ainda há escassez, sem dúvida nenhuma. É importante que haja essa renovação, que esses jovens cheguem ao mercado com muita garra de aprender”, disse.

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Os jovens da comunidade do Caju se identificaram com a história de Ariano Suassuna (Foto: Andrea Nestrea)

Levar o teatro a comunidades mais carentes era um desejo antigo e, 14 anos depois da primeira edição de “Passageiro do Futuro”, Juliana se orgulha de onde já conseguiu chegar. Nessa edição, os participantes tiveram aulas com nomes como Adriana Seifert, Mônica Alvarenga, Nívea Faso, Leandro Ribeiro, Cláudia Carvalho e Chiquinho Rota. “Os alunos vêm bem curiosos, ainda sem noção das muitas possibilidades do mercado de trabalho na área teatral. Chegam com vontade de aprender. Com o decorrer das aulas, percebem a conexão entre as atividades que desenvolvemos e o que eles aprendem na escola: as aulas de cenário usam muita matemática e as de figuro têm ligação com história, por exemplo. Eles começam a usar esse conhecimento no dia a dia da comunidade. Aprendem a consertar roupa, luminária, maquiam as vizinhas, e eventualmente começam a trabalhar com teatro. Mas, claro, que isso depende da vontade de cada um”, explicou ela, acrescentando: “O olhar de cada um deles faz todo o esforço valer a pena. Os olhos brilham diante da perspectiva de poder apresentar a peça para a sua comunidade, receber aplausos. Quem não gosta? Eles reclamam quando o projeto está acabando. Querem mais. Buscamos sempre ficar no mínimo dois anos em cada comunidade para poder acompanhar o desenvolvimento desses alunos”, contou.

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Ao longo do projeto, os alunos tem diversas aulas. Nessa, uma jovem segura seu projeto de caracterização (Foto: Andrea Nestrea)

A seleção dos jovens se dá através de ampla divulgação pela comunidade. “Fazemos em escolas e em outros projetos na região. Em um dia determinado, os interessados preenchem as fichas, explicamos as diferentes etapas do projeto, e eles podem escolher as aulas que querem fazer de acordo com seus interesses: cada um tem que fazer duas, no mínimo, e de preferência todas”, explicou. A opção pela comunidade do Caju foi especial: “Já havíamos feito o Cine Curta, um projeto de filmes brasileiros de curta-metragem com cunho pedagógico, dos gêneros animação, ficção e documentário que realizou 488 sessões de cinema, que alcançou 56.696 alunos da rede pública e ele foi muito bem recebido no Caju, com grande adesão da comunidade. Então, vimos que era um bom lugar para trazer o Passageiro do Futuro. Temos também muita vontade de valorizar a região, que tem uma grande importância histórica, mas que não acompanhou a urbanização da cidade como outros bairros”, destacou Juliana.

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A aula de cenário do “Passageiro do Futuro” (Foto: Andrea Nestrea)

Ao longo dos anos, ela pode conhecer e se envolver com muitas histórias e destacou uma delas: “São várias mesmo, mas me sinto gratificada com o amadurecimento de Robert Rodrigues, que participou do ‘Passageiro do Futuro’ no Andaraí, em 2009 e 2010. Ele tinha 15 anos, os pais tinham falecido e ele era criado pelo avô. Entrou com muita garra no projeto, virou monitor no ano seguinte e hoje estuda artes cênicas na Estácio de Sá com uma bolsa de 100%. Hoje, ele tem grupo amador de teatro e de dança no Andaraí. É emocionante perceber como o projeto teve influência grande na trajetória pessoal e profissional dele”, declarou. Com dedicação ao espalhar tanto amor, nós só podemos desejar vida longa ao Passageiro do Futuro!

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A estreia será no dia 14 de janeiro (Foto: Andrea Nestrea)

Serviço:
Dias 14 e 15/01 (5ª e 6ª feiras), às 15h
Auditório da Vila Olímpica Mané Garrincha do Caju
Rua Carlos Seixas, s/n. Caju. Tel. 2580-4938

Dias 18 e 19/01 (2ª e 3ª feiras), às 15h
Salão da Casa São Luiz
Rua General Gurjão, 533 – Caju. Tel. 2159-9999

Dia 20/01 (4ª feira), às 15h
Teatro do Tijuca Tênis Clube
Rua Conde de Bonfim, 45. Tijuca. Tel. 3294-9300

Dia 21/01 (5ª feira), às 15h
Salão do Centro de Referência de Assistência Social/CRAS
Rua Gal. Sampaio, 74 – ponto final do 906 – Caju. Tel. 3895-8668

Dia 22/01 (6ª feira), às 10h
Quadra do Grêmio D. João VI / Vila Militar Caju
Rua Duque de Caxias, 90 – Caju. Tel. 3483-9075

Dia 23/01 (sábado), às15h
Teatro da Biblioteca Parque
Av. Pres. Vargas, 1261 – Centro. Tel. 2332-7225

Dias 25 e 26/01 (2ª e 3ª feiras), às 15h
Salão do Gol de Letra Caju
Rua Carlos Seidl,1141. Caju. Tel. 3895-9001