Todas as cores, formas, sons e sotaque do nosso imenso país estão no enredo de “Rio mais Brasil, o nosso musical”, que está em cartaz no teatro Oi Casa Grande, no Leblon. Mais que a identidade plural da nossa cultura e da nossa gente, o espetáculo escrito por Renata Mizrahi com base no livro O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, ainda traz o panorama de crise da arte brasileira e temáticas como feminismo e racismo. Como destaque, Cris Vianna, Danilo Mesquita e Claudio Lins contam a história de um projeto de filme que, por causa da situação econômica nacional, sofre cortes de gastos até que fica inviável ser feito. Mas, para além dos protagonistas, “Rio mais Brasil, o nosso musical” possui um super elenco de 17 atores/cantores/multi-instrumentistas que garantem a energia e a dinâmica do espetáculo por quase duas horas de história.
Na história, aliás, “Rio mais Brasil, o nosso musical” traz a luz uma importante obra da nossa literatura: “Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro. É a partir da narrativa do livro que o produtor do filme fictício, Martin (Claudio Lins), e a diretora, Cris (Cris Vianna), começam a estruturar o projeto de longa. Nesta película, a ideia é mostrar um Brasil que vai na contramão da obviedade e resgata a essência de nossa cultura em aspectos jamais explorados. Assim, o elenco do filme – e do musical – faz um grande passeio pela regionalidade de nosso país. De Norte a Sul, do Acre a Porto Alegre, “Rio mais Brasil, o nosso musical” abre espaço para todas as artes e sotaques em cima do próprio palco. “O nosso povo está inserido no contexto do espetáculo através das cenas musicais e do que seriam as gravações do filme. Então, na ficção, ele acaba sendo a representação de um Brasil inteiro. Todas as regiões, cidades e sotaques aparecem no nosso espetáculo através da escolha dos atores desse longa”, explicou Claudio Lins.
Um desses representantes é Danilo Mesquita, que há sete anos mora no Rio de Janeiro, mas não abre mão de sua essência baiana. Responsável pela parte cômica do espetáculo, o ator, que recentemente esteve em “Rock Story”, interpreta Kadu, o assistente de Martin e Cris na produção do longa. Diferente dos outros trabalhos da carreira, Danilo contou que neste musical teve a liberdade de explorar seu sotaque no personagem. Porém, engana-se quem pensa que isso tenha sido fácil. “Eu tive uma dificuldade muito grande para conseguir resgatar o meu sotaque porque tudo o que eu fazia parecia caricato. Ou seja, eu, baiano, não conseguir fazer um personagem da minha terra. E isso é muito por consequência de, a vida toda, ouvir que precisamos esconder nosso sotaque para os trabalhos no Rio de Janeiro e São Paulo. Não é nem fazer menos, e não fazer nada. Acaba acostumando”, explicou Danilo que, apesar disso, comemorou a oportunidade de representar a sua Bahia na arte. “Foi de lá que eu vim e eu carrego minha identidade baiana muito viva ainda. Tenho o maior orgulho da minha terra”, completou.
Porém, não é só a parte colorida do nosso país que o espetáculo conta. Em “Rio mais Brasil, o nosso musical”, os problemas também ganham espaço, voz e ritmo com o super elenco do musical. O feminismo, por exemplo, é abordado a partir da lenda do Boto, tradicional na Região Norte do Brasil. Neste discurso, as mulheres do elenco se unem a luta e destacam a importância da denúncia e da consciência do abuso. “Eu sou feminista e adoro essa causa. Mas, hoje em dia, eu sinto que tem que existir um cuidado na forma de colocar essa palavra”, disse Cris Vianna.
Outro tema contemporâneo que também costura o enredo é o racismo, que ganha forma na figura da personagem de Cris Vianna. Exuberante no palco, a atriz, que no musical empodera ainda mais seus cachos, contou que a temática já faz parte de sua vida. De acordo com Cris, muitas vezes o assunto racismo chega antes de qualquer conversa. “Tem gente que, antes de saber o meu nome, já está me perguntando sobre isso. Eu me sinto inserida nesse assunto e sei que é natural. Afinal, vivemos em um país que ainda é muito preconceituoso. Então, com essa peça, a gente coloca com a música e a nossa arte, um pouco de informação e reflexão”, explicou.
Aliás, reflexão é algo que a todo momento “Rio mais Brasil, o nosso musical” exalta no palco. Seja por esses dois discursos contemporâneos ou pela questão da valorização da cultura em tempos de crise, o espetáculo estreou com o objetivo de mexer no lugar comum e recriar o pensamento humano. “Essa peça serve para nos lembrar o quão bom é ser brasileiro, mas também o quanto já sofremos e relembrar todas as feridas que temos. É um espetáculo que nos mostra que precisamos crescer e que ainda temos muito a caminhar. O Brasil é um país com muito potencial e o nosso povo tem uma força maravilhosa, disse Danilo Mesquita que ainda acrescentou uma análise sobre a importância do espetáculo neste momento do país. “Eu vejo o Brasil como um bebê gigante, nós temos uma história muito curta, mas que teve influências de várias etnias e povos. Nesse processo, sofremos uma colonização violenta, um período de ditadura grave e até hoje também temos essa violência presente. Então, temos diversas questões para entender, mas ainda somos muito novos. Por isso, esse espetáculo é extremamente importante para a gente contar a nossa dramaturgia, história e cultura para que a gente se conheça e não repita os erros do passado”, completou.
Serviço: “Rio mais Brasil, o nosso musical”
Temporada: de 20 de julho a 10 de setembro
Local: Oi Casa Grande (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – a – Leblon, Rio de Janeiro)
Horários: Quinta a sábado: 21h, Domingos: 19h
Preços:
Plateia Vip e camarote – R$120,00
Setor 01 – R$100,00
Balcão 02 – R$80,00
Balcão 03 – R$50,00
Classificação etária: 12 anos
Duração: 105 minutos
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